Desafios da crise climática pressionam mercado imobiliário na adoção de medidas sustentáveis
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Desafios da crise climática pressionam mercado imobiliário na adoção de medidas sustentáveis

27 nov 2023
Última atualização: 24 julho 2024
Rodrigo Arend
Rodrigo Arend
9 min
Desafios da crise climática pressionam mercado imobiliário na adoção de medidas sustentáveis

Resumo

Conheça iniciativas de destaque no mercado imobiliário sobre sustentabilidade e ESG. Confira cases como o da Laguna, MRV e Log.

Intempéries como ondas de calor e fortes chuvas foram destaque no noticiário nas últimas semanas, no Brasil e no mundo, trazendo à tona a pauta da crise climática e a importância de minimizar os impactos da ação humana frente à natureza. Tais fenômenos evidenciam a relevância da pauta da sustentabilidade nas incorporadoras e construtoras, visto que a construção civil é uma dos segmentos mais poluentes da economia. 

Não é de hoje que expressões como aquecimento global e efeito estufa estão relacionadas ao mercado imobiliário. Segundo o Status Global de Edificação e Construção de 2022, da Organização das Nações Unidas, a construção civil é responsável por 37% das emissões de CO², que faz parte dos gases que provocam efeito estufa na atmosfera. 

Diversas empresas deste segmento já estão atentas à necessidade de reduzir a produção de resíduos, de substâncias poluentes e oferecer soluções que minimizem os impactos sobre o meio ambiente. Entre estas medidas estão o uso de materiais sustentáveis, o reaproveitamento de recursos e a instalação de sistemas ambientalmente responsáveis para manutenção da estrutura e uso por parte dos futuros moradores.

O Imobi Report conversou com empresas que possuem iniciativas sustentáveis de destaque. Confira:

Ações de sustentabilidade e conceito de “Climability” da GT Building

Com o objetivo de posicionar a companhia frente ao tema, a curitibana GT Building criou o termo “Climability” para abordar as ações da empresa para produção de imóveis de acordo com as condições climáticas, minimizando impactos ambientais.

Além disso, a incorporadora criou ações internas e externas que ajudam a diminuir este impacto, com mobilizações comunitárias, como feira de orgânicos em seu espaço físico, compostagem de resíduos orgânicos, reciclagem de materiais e óleo, incentivo de formas de locomoção ecofriendly, com bicicletas para os funcionários utilizarem nos horários de intervalo. 

Outras ações são a compensação das emissões de carbono dos empreendimentos, escritório e terceirizados, por meio de aquisição de créditos de carbono de projetos de conservação de mata em risco de desmatamento, como o projeto REDD+ Manoa, em Cujubim (RO), a e Reserva Natural Guaricica, em Antonina (PR).

“Por fazermos parte de um dos setores mais poluentes, é nosso dever, além de minimizar o impacto negativo de nossas ações, promover ações que impactem positivamente e tragam melhorias para a sociedade. É nisso que consiste o conceito Climability. Para que as ações surtam efeito, é preciso que todos os setores da empresa estejam em conformidade e atuem de forma a coordenarem as ações de conscientização, assim é possível fazer um trabalho bem feito e que gere resultados visíveis”, explica Rodolfo Baggio Pereira, diretor comercial da GT Building. 

GT Building também contribui com projeto ambiental na Amazônia

Apostando na pauta de sustentabilidade, a incorporadora paranaense busca homenagear a conexão entre a Amazônia e a modernidade urbana em seu novo empreendimento, o AMÁZ. Inspirado na arquitetura biofílica, o projeto integra áreas verdes compartilhadas e privativas a estruturas residenciais.

Localizado no Bigorrilho, bairro nobre de Curitiba (PR), o  projeto do AMÁZ, composto por duas torres de oito andares com unidades residenciais, visa ser carbono neutro, incorporando práticas sustentáveis como a otimização da luz solar no projeto, o uso de energia solar e o reaproveitamento de água da chuva. 

“Entendemos que essas medidas são o mínimo que devemos fazer, e, por isso, decidimos adquirir créditos de carbono de um projeto que preserva áreas em risco iminente de desmatamento na Floresta Amazônica”, complementa o diretor executivo da GT Building, Arsênio Almeida Neto.

Gafisa: altas taxas de reuso de material e foco no ESG

A Gafisa, incorporadora especializada em empreendimentos residenciais de alto padrão, aposta no ESG para reforçar o compromisso com a sustentabilidade, responsabilidade social e governança corporativa. A empresa ocupa espaço de destaque na Bolsa de Valores (B3), integrando a 18ª Carteira do Índice de Sustentabilidade (ISE) e sendo reconhecida como um dos melhores lugares para se trabalhar pelo Great Place to Work. Além das práticas tradicionais de reutilização e redução de materiais e recursos naturais, a Gafisa aprovou uma política ESG em 2021, estendendo seu compromisso desde a concepção até a entrega de empreendimentos residenciais e comerciais.

A construtora, que adotou práticas como o reuso de 10% dos materiais no Invert Campo Belo e a captação de água pluvial no Cidade Jockey, alcançou marcos notáveis, como o reuso de 68,5% do aço utilizado e a gestão eficiente de áreas contaminadas. A empresa também implementou medidas para minimizar impactos negativos, como a elaboração do inventário de carbono, otimização na destinação do solo de escavação e inclusão do pilar ambiental na Avaliação de Fornecedores.

Em paralelo, a Gafisa valoriza a diversidade, evidenciada por uma força de trabalho em que 40% dos empregados eram mulheres até o final do último ano. A empresa mantém uma relação cuidadosa com fornecedores, implantou um novo sistema de gestão e homologação em 2023, incluindo critérios ESG, e está implementando um programa de incentivo ao desenvolvimento desses parceiros. A Gafisa, participante ativa no Novo Mercado da B3, reforça seus padrões rigorosos de governança corporativa em conformidade com as regulamentações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e as recomendações do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Plano&Plano: exposição ao público do balanço de sustentabilidade 

A paulista Plano&Plano anunciou recentemente o lançamento de um portal exclusivo que reúne todas as ações desenvolvidas e projetos apoiados pela empresa em sua agenda de ESG. O site visa promover transparência, compartilhando com clientes, colaboradores e investidores as práticas sustentáveis e melhorias sociais realizadas pela empresa. 

Esse anúncio ocorre após a divulgação do terceiro Relatório de Sustentabilidade, referente ao ano de 2022, que destacou o recorde histórico em vendas líquidas e um crescimento de 27% para a companhia.

A Plano&Plano também investiu em melhorias no entorno de seus empreendimentos, destinando R$ 4,6 milhões para ações que incluem a  construção de redes de água e esgoto em locais carentes, contribuindo com a preservação ambiental e qualidade de vida da comunidade. Entre outras iniciativas, a empresa destaca que também realizou diagnósticos para certificações ambientais Aqua e EDGE, plantou 453 árvores e preservou 52.

A Plano&Plano trabalha ainda para reduzir emissões de gases de efeito estufa e obteve certificações, incluindo o Selo Casa Azul + CAIXA. “É preciso continuar superando os desafios e colhendo frutos do trabalho consistente, eficiente e comprometido, cada vez mais atentos à nossa responsabilidade com as pautas ESG da companhia”, pontua o CEO da Plano&Plano, Rodrigo Von Uhlendorff .

Moura Dubeux, destaque no Nordeste, também tem frentes voltadas para a sustentabilidade

A Moura Dubeux, incorporadora que atua em sete dos nove estados da região Nordeste, apresentou em 2023 o empreendimento Meet Aldeota, localizado em Fortaleza (CE), projeto que obteve o Selo EDGE (Excellence in Design for Greater Efficiencies), criado pela International Finance Corporation (IFC), uma instituição do Banco Mundial. 

A certificação reconhece empreendimentos que incorporam práticas sustentáveis de construção e design, visando à eficiência energética e à redução do impacto ambiental. 

Segundo a incorporadora, durante a construção, o empreendimento obteve economia de 58% em energia e resíduos. Além disso, o edifício apresenta uma economia de 42% de energia e 37% de água em seu funcionamento.

Entre os detalhes do projeto estão os vidros de alta eficiência, que reduzem a necessidade de ar-condicionado, e a coleta de lixo segmentada nas áreas comuns. 

Com o empreendimento, a Moura Dubeux ficou com o primeiro lugar na categoria Projeto ESG na premiação GRI Awards, que ocorreu na semana passada, em São Paulo. A companhia também conquistou o prêmio de Ação Social com seu projeto MD Social, que promove capacitação para a população do litoral pernambucano poder ingressar no mercado da construção civil atuando em empreendimentos da companhia.

Setin: vanguarda em sustentabilidade e certificação internacional

A Setin Incorporadora, focada no  médio e alto padrão em São Paulo, recebeu em seu empreendimento Aeté Jardim Paulista a certificação internacional de sustentabilidade EDGE. O empreendimento agora figura na lista de green buildings da cidade de São Paulo, dentro dos critérios de eficiência energética, uso eficiente da água e redução da energia incorporada aos materiais.

O selo é reconhecido globalmente e atesta o compromisso ambiental dos edifícios em diversas áreas, incluindo fachadas de alto desempenho, conforto térmico, sistemas de ar-condicionado e iluminação eficiente, além de estratégias de captação de águas pluviais e reúso de águas cinza e negra. 

O certificado também pode resultar em benefícios financeiros para os futuros moradores, como reduções de outorga onerosa e IPTU.

“A conquista ressalta o compromisso contínuo da Setin em contribuir para a redução do impacto ambiental na construção civil. Esta mentalidade faz parte do nosso DNA, como quando, ainda no começo dos anos 2000, introduzimos a prática de uso do drywall nos projetos construtivos”, destaca Bianca Setin, diretora de Operações da Setin Incorporadora.

Empresas do mercado imobiliário abraçam práticas de ESG e visam futuro sustentável

Agenda ESG se torna ferramenta para dar relevância às construtoras e incorporadoras

Cases como os trazidos acima evidenciam que as práticas de sustentabilidade e de ESG de forma mais ampla estão se tornando um diferencial competitivo no mercado imobiliário. 

Elas envolvem a incorporação de considerações ambientais, sociais e de governança em todas as fases de um projeto imobiliário, desde o planejamento inicial até a gestão contínua da propriedade. Isso inclui a adoção de tecnologias verdes, a promoção da inclusão social, a igualdade de gênero e a garantia de boas práticas de governança.  

Para Roselaine Correa, vice-presidente do Grupo Yees!, incorporadora com produtos na capital paulista, Sorocaba e Campinas, as práticas ESG nas empresas também contribuem para a ressignificação do termo “morar”, que passa a incluir os valores pessoais de cada um de uma forma consciente e responsável.  

“Quando falamos em moradia, as pessoas colocam os seus desejos e preferências pessoais em contraponto com o social. Todo mundo quer morar bem, mas hoje morar bem vai muito além de ter uma casa bonita, bem arquitetada e em boa localização. As pessoas se preocupam mais com o planeta, e querem demonstrar esse cuidado e preocupação em todos os projetos de sua vida, incluindo na moradia”, afirma.   

Uma das iniciativas mais notáveis nesse cenário é a adoção do “Selo Azul” no mercado imobiliário, que representa o compromisso com práticas ambientais e sociais responsáveis, além de uma governança sólida. O Selo Casa Azul + CAIXA é um instrumento de classificação ESG destinado a propostas de empreendimentos habitacionais que adotem soluções eficientes na concepção, execução, uso, ocupação e manutenção das edificações.   

“Os profissionais do mercado imobiliário estão respondendo ao apelo da sociedade por maior responsabilidade ambiental e social, reconhecendo que certificações como o Selo Azul, entre outras práticas que levam ao reconhecimento pelo ESG, não são apenas uma tendência, mas uma mudança fundamental em direção a um mundo mais equitativo e sustentável”, reforça Roselaine.

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