longlive learning
Opinião

Precisamos falar de lifelong learning para o mercado imobiliário

A julgar pelos retornos e comentários que recebi pelo artigo Formação de corretores: é hora de rever os cursos técnicos em transações imobiliárias?’ fica claro que algo precisa ser revisto na formação dos profissionais que atuam no mercado imobiliário. 

Recebi várias sugestões que se encaixam em diversos prismas de atuação para os profissionais do mercado. A maioria delas, é claro, falam sobre o aspecto educacional do técnico em transações imobiliárias. 

Outras falam sobre novos critérios que elevem o nível de exigência para obtenção do registro profissional e outras tantas sobre o caráter regulatório e de fiscalização que as entidades de classe cumprem, ao invés de se preocupar com a atualização dos profissionais que negociam imóveis no país. 

Ainda existem aqueles que sugerem novas disciplinas para os cursos de formação de corretores, como forma de atualização ou de inserção da profissão segundo as exigências e demandas do século XXI. 

Mas, antes de falar sobre substituição de disciplinas, novas exigências para obtenção de registro ou mesmo discutir o papel de escolas e conselhos regionais, precisamos falar sobre novos conceitos de conhecimento, entre eles, o que fala sobre aprendizagem continuada ao longo da vida, conhecido como lifelong learning. 

O que é o lifelong learning? 

É lugar comum acreditar que os cursos de formação cumprem o papel de um exame de proficiência como parte importante na habilitação do corretor de imóveis. Cumpre-se uma carga horária, faz-se o conjunto de provas nas 9 disciplinas designadas pelo Cofeci na resolução 717/01. Com uma nota mínima atingida, o aspirante está pronto para solicitar seu registro profissional.  

Tal qual as autoescolas fazem com os motoristas, é comum acreditar que é após a proficiência, ao longo da jornada de trabalho, que se adquire as competências para exercer funções tão importantes como as que envolvem a intermediação imobiliária. 

Mas diferente da carteira nacional de trânsito, a do CRECI não possui uma versão provisória. Uma vez habilitado, o novo corretor pode vender, negociar e avaliar imóveis. Podemos crer que ainda faltam conhecimentos para que a rotina seja plena e capaz de atender as demandas dos exigentes clientes da era digital. 

Pois se é ponto comum que a formação do corretor só é complementada durante a atuação e com a experiência adquirida, por que parar de estudar? A vida em uma sociedade cada vez mais tecnológica impõe muitos desafios aos profissionais da moradia.

Como entender os recursos tecnológicos das smart homes? Como o 5G será determinante para integrar eletrodomésticos nas casas do futuro? Quais as implicações e os trâmites necessários para que documentos digitais sejam aceitos em cartórios? 

É para responder perguntas como essas e as que ainda estão por vir que devemos assimilar o lifelong learning no mercado imobiliário, não só nas escolas técnicas e universidades, mas em todo o ecossistema. 

O lifelong learning é o caminho que os maiores especialistas em educação e trabalho têm apontado como solução para os desafios propostos pelo XXI. É fundamental estar sempre aberto às mudanças diárias e ao crescente fluxo de informações. 

O mundo onde as empresas imobiliárias se fechavam e construíam isoladamente suas estratégias baseadas em suas experiências particulares infelizmente ruiu, não existe mais. 

Eu sei que ainda é comum encontrar aquele velho modelo imobiliário, onde o corretor recém formado chega na empresa e recebe como instrução o feeling do seu gestor como única ferramenta para iniciar sua carreira.  

  • Faça plantão neste futuro empreendimento. Tenho uma intuição, um feeling que você vai vender muito aqui! 

Acontece que o feeling não é escalável. O século XXI demanda informações compartilhadas, análise de dados e troca de experiências e isso não acontece quando se está preso a um velho modelo, como aliás eu escrevi em outro artigo disponível aqui no Imobi. 

A boa notícia é que o conceito de aprendizado contínuo está à disposição de todos e pode ser muito prazeroso como a leitura de livros, acompanhar séries e participar de fóruns e palestras online. 

Mas o lifelong learning pode ser mais bem aproveitado se aplicado e estimulado por instituições de ensino, entidades de classe ou, ainda, empresas e organizações que sejam capazes de reunir pessoas com um mesmo propósito ou objetivo, como por exemplo, os profissionais de moradia. 

Como aplicar o conceito?

Quando falamos do conceito lifelong learning como forma de desenvolvimento contínuo e como um processo educativo para toda a vida e carreira profissional, não quer dizer que os cursos de formação devam ser abandonados ou que não precisem ser atualizados. 

Meu próximo artigo irá falar justamente sobre como os conceitos de Hard Skills (habilidades técnicas) e Soft Skills (habilidades comportamentais) podem ser interessantes pontos de partida para os cursos de formação de corretores. 

Por ora, vamos nos concentrar em como o aprendizado contínuo pode ser colocado em prática em qualquer ambiente, inclusive na sua imobiliária. 

O lifelong learning é composto por 4 pilares estruturais que estimulam a importância de nunca parar de aprender: conhecer, fazer, conviver e ser. 

Assim, ações que estimulam o Conhecer, como cursos de extensão (muitos oferecidos de forma gratuita) em áreas distintas como jardinagem, decoração ou telecomunicações certamente serão úteis no cotidiano do profissional imobiliário e eles não estão contemplados na graduação regular sobre a qual falamos. 

Compartilhar com outras pessoas o conhecimento adquirido é uma forma de estimular o pilar do Fazer. Outra forma estimulante de fazer é participar de atividades de hot seat, quando problemas reais são discutidos por profissionais com experiências semelhantes.  

A criação de fóruns temáticos é uma das principais maneiras de aplicar o Conviver. Usar redes sociais para atrair profissionais de determinada área ou especialidade e, a partir daí, criar encontros de rotina para debates e trocas é uma excelente maneira de atualização e convívio. 

Por fim, ter a consciência de Ser parte de um mercado maravilhoso como o da moradia deve ser um fator de estímulo para o profissional do mercado imobiliário. O direito à habitação está incluso na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ser um agente que proporciona esse direito às pessoas deve ser motivo de orgulho e amplia o senso de responsabilidade dos profissionais do mercado imobiliário. 

Não faz muito tempo que conheci o conceito de lifelong learning, mas desde que o conheci, passei a aplicá-lo em meu dia a dia profissional e pessoal. Desde então, senti o crescimento exponencial em oportunidades em minha vida e por isso é uma grande honra poder compartilhar este artigo com você. 

Se você tem alguma sugestão ou algum complemento ao tema, fique à vontade para usar o espaço de comentários ou me enviar um e-mail para denis.levati@cupola.com.br

Um abraço e até o próximo artigo.