Novas oportunidades no mercado imobiliário acirram batalha de startups por espaço

A digitalização do mercado imobiliário – fenômeno que acelerou de modo vertiginoso durante a pandemia – abre espaço para uma busca frenética por novas oportunidades. Há startups sendo desmembradas de imobiliárias, unicórnios gastando fortunas para agregar serviços a suas plataformas, fusão de empresas em busca de mais mercado e vários outros movimentos.

Dentro dessa disputa por mercado, uma briga se trava entre os nichos de softwares e de seguros. De um lado, desenvolvedores de sistemas de gestão imobiliária carregam pela mão seguradoras e fazem de tudo para emplacar produtos desses parceiros junto a seus clientes. 

De outro, uma corretora de seguros imobiliárias, incomodada com o que considera um constrangimento imposto por essas empresas de softwares e seus parceiros às imobiliárias, decidiu entrar no jogo e criar ela própria uma plataforma de gestão, e de forma gratuita. 

A Sigafy, uma das principais corretoras do mercado imobiliário brasileiro, lançou no último mês de março, durante o ICXP 2022, o Sigafácil, sistema que já está sendo oferecido aos clientes da empresa. É um ERP (software de gestão) completo, que inclui CRM (ferramenta de vendas) e outros recursos como controle financeiro, recebimento automático de leads, controle de entregas de chaves e visitas, organização de chamados, vistoria comparativa de entrada e saída, splits de pagamentos e repasses e integração de nota fiscal, entre outros serviços.

O CEO da Sigafy, Flávio de Baère, diz que o objetivo da empresa é agregar valor aos clientes, mas reconhece que a oferta de um sistema gratuito traz no bojo um viés de resposta a um mercado cada vez mais competitivo. 

É uma disputa de bastidores que acaba beneficiando as imobiliárias e, por consequência, o consumidor final, que pode experimentar mais facilidades em sua jornada de locação e contratar novos serviços sem que haja um custo embutido.

O Imobi Report entrevistou o CEO da Sigafy, que trouxe mais detalhes sobre essa batalha do mercado pelos corações de imobiliárias e consumidores de imóveis. 

Imobi Report: O que levou a Sigafy, uma corretora de seguros imobiliários, a lançar um ERP gratuito de gestão imobiliária? 

Flávio de Baère: Desde o início da nossa existência, sempre tivemos a preocupação de investir e agregar valor aos nossos clientes. Isso começou lá no ano de 2013, com a criação de um sistema próprio de gestão completa de seguros. Depois, em janeiro de 2020, lançamos a versão 2.0 desse mesmo sistema, mais completa, com mais recursos, para fazer todo o acompanhamento das garantias e dos seguros desde a contratação até a expectativa de sinistro, renovações, cancelamentos. E a gente vem acompanhando a evolução do mercado. Não se fala em outra coisa além das novas tecnologias e das ferramentas que vêm ajudando o mercado a se desenvolver. 

Dentro desse princípio e ouvindo nossos clientes, como é de nosso costume, achamos necessário dar esse passo e disponibilizar uma contribuição. É um sistema integrado em que a imobiliária consegue fazer todos os seus fluxos dentro de um ERP, que vai desde o CRM até a parte financeira.

Imobi: Mercadologicamente, qual o benefício para a Sigafy em entregar um sistema, cujo desenvolvimento é custoso, e não cobrar nada do cliente?

Flávio: É isso, é realmente investir e agregar valor. Nós percebemos que hoje o mercado tem vários ecossistemas, não é mais um só. E o nosso ecossistema começa lá no proprietário, lá no inquilino. Sabemos que, para se fazer uma locação, basta um proprietário, um inquilino e um porteiro que indique que naquele prédio há um imóvel vago. E aí você tem outros agentes que vêm para contribuir para o desenvolvimento do mercado. É nisso que a gente acredita. 

Acho que, na realidade, é um investimento, sim. A gente estudou muito e acha que o retorno vem na melhoria da performance das imobiliárias. E em tudo que a gente fizer para que ela aumente o nível de satisfação e de excelência, o retorno virá a médio prazo. 

Imobi: O último grande movimento do mercado imobiliário foi a compra de um CRM, a Vista, pela Loft. Para você, qual o grande objetivo dos unicórnios nessa busca constante por startups e sistemas dedicados a melhorar a jornada digital do cliente? 

Flávio: Já estamos vivenciando isso [as aquisições] e acredito que teremos ainda algumas surpresas pela frente. Eu costumo brincar que é briga de cachorro grande. Mas, todo mundo está procurando seu espaço, e no fundo, precisamos nos atentar que essa busca também é por dados, que hoje têm uma importância muito grande nas operações.

E a gente quer justamente dar alternativa aos nossos clientes, sempre respeitando algo que para nós é sagrado, que é a liberdade e o direito de cada empresário de tocar o seu negócio. Não tem fórmulas mágicas, mirabolantes. A nossa filosofia é agregar valor e fazer com que o empresário tenha uma alternativa, que ele vai definir se é interessante ou não para ele. 

Imobi: Quando grandes players compram startups, levam junto milhares de canais de contato direto com proprietários. Há um certo desconforto no mercado sobre o que será feito com esses leads no momento dessas troca de mãos. É possível termos algum tipo de controle sobre eventual uso indevido de dados? Como o mercado deve se posicionar em relação a isso? 

Flávio: Passa por aquilo que eu disse anteriormente. Cabe a cada empresário, cada dono de imobiliária, fazer esse estudo, medir o risco, quais são os prós e os contras de cada iniciativa dessa. 

A gente tem uma opinião própria, mas também não quer botar lenha na fogueira. Eu acho que todo mundo tem capacidade de analisar antes de tomar uma decisão e ser responsável pela decisão que tomou. A gente quer não entrar nessa briga, mas sim dar alternativa.