Inadimplência do aluguel em pauta
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Seguimos acompanhando os reflexos da Covid-19 no setor imobiliário. Nesta semana, ganhou destaque na imprensa a questão do aumento da inadimplência do aluguel. Governos no mundo todo tomam ações e a reação inicial é proteger o inquilino. A Folha de S. Paulo resumiu algumas situações: Nova York, Seattle e Los Angeles são só algumas das cidades americanas que proibiram os despejos. Na Europa, países aderem a medidas similares, como Portugal, que suspendeu despejos e pagamentos de hipoteca. Em Singapura, os proprietários que expulsarem seus inquilinos que estão cumprindo quarentena deverão ser punidos e podem ser impedidos de alugar seus imóveis posteriormente.
Por aqui, surgem as primeiras iniciativas da classe política. O deputado federal Marcelo Freixo, do Psol, propõe suspender os despejos residenciais e a incidência de multa, juros e correção monetária dos valores devidos, durante o período de quarentena. No Distrito Federal, um Projeto de Lei mira os inquilinos comerciais: assegura o abatimento proporcional dos aluguéis por dias fechados. A PL é polêmica: especialistas afirmam ser inconstitucional, segundo o Código Civil e a própria Lei do Inquilinato.
A discussão gira em torno do problema que sim, há inquilinos prejudicados pela paralisação, mas há também proprietários que dependem dos aluguéis para sua própria renda. E o imbróglio tem até episódios inusitados, como grandes marcas se aproveitando da proibição de despejos para deixar de pagar aluguéis. Na Alemanha, lojas da Adidas e da H&M já deixaram de pagar seus aluguéis. A Adidas se pronunciou, afirmando que a maioria dos proprietários são grandes imobiliárias e seguradoras que compreendem a decisão de congelar os pagamentos, mas que continuará pagando os pequenos proprietários.
E há também os que aproveitem o momento para reforçar como são boas pessoas, vejam só. A atriz Kristen Bell e seu marido possuem dois edifícios residenciais na Califórnia e não irão cobrar os valores de aluguéis no mês de abril.
Os pedidos para negociação dos aluguéis estão chegando de todos os lados: mais forte por parte dos inquilinos de imóveis comerciais, que estão mais preocupados. Em entrevista para a UOL, o diretor-executivo da Lopes afirma que três em cada quatro pedidos de negociação que a imobiliária recebe são de inquilinos comerciais. Mas os residenciais vêm aí…
…e a CredPago lançou uma solução de parcelamento do aluguel para clientes que já possuem contrato de locação garantido pela startup. Nesta, os inquilinos poderão parcelar seus aluguéis no cartão de crédito em até 6x. Jardel Cardoso, CEO da CredPago, explica como funciona a solução e traz sua perspectiva sobre os impactos do Covid-19 em entrevista para o Imobi Report.
Já a Porto Seguro Aluguel irá liberar acesso gratuito a assinatura eletrônica e tour virtuais para imobiliárias parceiras. A assinatura eletrônica é feita em parceria com a DocuSign e o tour virtual é feito com a startup Banib.
Nos grupos de WhatsApp, está circulando uma carta de exemplo para solicitar e negociar a carência de aluguéis. E, no geral, esta é a recomendação principal: é importante manter o diálogo aberto entre inquilinos e proprietários para entrar em acordo e evitar a judicialização.
Sobre negociação da inadimplência, o CUPOLA Insider traz um treinamento sobre técnicas de Comunicação Não-Violenta para o momento atual. Com Denise Vieira e Larissa Vanderlinde, orienta como aplicar a CNV para imobiliárias, proprietários e inquilinos.
CUPOLA Insider, inclusive, que está com acesso liberado. Na plataforma, além do treinamento de CNV, assinantes têm acesso a mentorias online semanais, relatórios diários com análise de cenário, além de webinars e conversas com especialistas jurídicos, financeiros, de marketing e gestão, visando criar planos de contingência. Assine gratuitamente aqui.
O Turismo é um dos setores mais afetados pela crise da Covid-19. E não é diferente para o Airbnb. Como comentamos na última edição, a plataforma liberou os cancelamentos sem penalidades, o que é ótimo para os hóspedes, mas pegou mal com os anfitriões. Nas cidades turísticas, especialmente, se antes podíamos observar movimentação de proprietários dispensando contratos de longo prazo para investir no turismo, agora se observa o movimento contrário. Em Portugal, o portal Idealista já afirmou observar uma grande entrada de novos imóveis para locação que antes eram locados para curto prazo, como foco no turismo, o que deve inclusive baratear os preços do aluguel.
A plataforma também liberou acomodações gratuitas para profissionais de saúde. Por enquanto, a modalidade está liberada para a Itália e França e o Airbnb irá bancar os custos dos anfitriões. A acomodação para profissionais da área médica requer práticas de prevenção e higienização rigorosas e a plataforma afirma que “trabalhou com os principais especialistas e autoridades, para desenvolver um protocolo para os anfitriões que apóiam esse esforço coletivo de saúde”.
Uma breve explicação: estes profissionais são grandes vetores da doença para seus familiares. Por isso, o isolamento da família é indicado. Aqui no Brasil também há iniciativas neste sentido. Em Pernambuco, o governo está avaliando hotéis para abrigar médicos, enfermeiros e outros envolvidos na linha de frente de combate ao vírus.
Na cidade de São Paulo, um prédio comercial triple A será transformado em hospital com 200 leitos. O edifício, da VBI Real Estate e alugado pela Prevent Senior, teve seu contrato de locação revisto para poder atender às demandas de saúde.
O Ministério do Desenvolvimento Regional também se colocou à disposição para disponibilizar casas do Minha Casa Minha Vida para serem usadas durante a quarentena. Um mapeamento mostrou 7 mil imóveis desocupados que poderão ser utilizados para esta finalidade.
Techs
A Softbank, investidora de startups como a WeWork, QuintoAndar e Uber anunciou a venda de ativos e a recompra de ações. Normalmente, essa movimentação significa que a empresa acredita que seu valor de mercado é maior do que as ações refletem ou para segurar as pontas e evitar quedas acentuadas. Segundo a Exame, o caso do Softbank sinaliza um pouco dos dois. Sobre as startups aportadas e sua situação de mercado, o portal cita que o QuintoAndar pode ter problemas por diminuir a demanda de visitas em imóveis.
Nos EUA, além da Redfin e da Opendoor, a Zillow e a Realogyinterromperam seus programas de iBuyer. A Zillow, especialmente, não só cancelou novas ofertas como suspendeu contratos que já tinham sido negociados, mas ainda não haviam sido assinados. (em inglês)
No Brasil, o Grupo ZAP tem seu próprio programa de iBuyer. Sobre o programa, a crise e o comportamento dos usuários nas plataformas imobiliárias, o Imobi Report entrevistou Lucas Vargas, CEO do Grupo ZAP.
A Abrigar é uma startup que funciona como um leilão privado. Na plataforma, o usuário pode comprar, vender ou trocar imóveis. Ainda em fase de angariação de imóveis, a Abrigar está oferecendo testes gratuitos na plataforma, mas deve cobrar em breve uma taxa por oferta recebida.
A FireFly, startup de atendimento remoto e automatizado, disponibilizou chatbot para sites de corretores autônomos e imobiliárias gratuitamente por 60 dias. Os interessados podem entrar em contato por e-mail ou WhatsApp.
Atendimento remoto é um dos serviços que Bruno Loreto, managing partner da Terracotta Ventures, aposta no crescimento durante a crise. Em entrevista para o Imobi Report, Bruno também aponta que o setor de home equity deve ser exponenciado: “ao precisar de caixa, empresas ou pessoas físicas usam ativos para garantia de crédito barato”.
Pedro Doria, jornalista e colunista do Estadão, trata sobre a rápida digitalização por que estamos passando: “Se passarmos mesmo alguns meses em quarentena, e é isto que tem cara que vai acontecer, nossa relação com tecnologia e a natureza da economia se transformará de forma irreversível”. Vale a leitura.
Incorporadoras
A MRV e a RNI tiveram obras ou parte de obras interrompidas por conta da Covid-19. Segundo a MRV, são 10% das suas obras paralisadas em decorrência de decretos municipais ou estaduais que ordenam a paralisação das atividades.
Rubens Menin, fundador da MRV, faz parte do grupo de empresários que pede intervenção estatal na economia. Em uma transmissão ao vivo com outros empresários, afirmou: “Estou assustado porque o problema econômico pode ser quase tão grande como o da saúde. As autoridades estão trabalhando da melhor forma possível para combater as consequências da saúde, mas se a economia parar com a rapidez que está parando, vamos ter problema e não vamos sair dessa fácil; pessoas vão sofrer. Pessoas precisam se organizar minimamente para manter a cadeia produtiva acesa na medida do possível”.
A Cyrela irá entrar no setor de locação. A incorporadora firmou uma parceria com o fundo Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB) para transformar alguns de seus imóveis em multifamily.
Mundo
Há luz no final da crise: o imobiliário chinês já começa a dar sinais de recuperação. A população, que passou quase três meses em quarentena, está sendo,liberada aos poucos. Segundo um estudo, só na primeira quinzena de março as vendas de casas aumentaram 8,5 pontos comparadas ao mesmo período de fevereiro.
Uma pesquisa da RentCafe com 6 mil inquilinos americanos apontou que mais da metade deles mantém seus planos de mudar de casa, independente da pandemia. Na mesma pesquisa, os entrevistados apontam que estão procurando um aluguel mais barato, que possam e devem fazer uso de tours virtuais, levando em consideração aspectos de higiene e, inclusive, escolhendo a primeira locação disponível para acelerar o processo de mudança. (em inglês)
Muitas pessoas estão aderindo às tiny houses, ou minicasas, nos Estados Unidos. O espaço pequeno, que pode parecer assustador para ficar em quarentena, está se mostrando muito útil por ter custos mais baixos e permitir que seus proprietários não tenham que arcar com um financiamento longo. (em inglês)
A mudança de data das Olimpíadas de Tóquio gerou problemas para os apartamentos da Vila Olímpica. Isso pois 25% dos imóveis já tinham sido vendidos e deveriam ser entregues para seus proprietários a partir de setembro, logo depois das paraolimpíadas. A nova data para o evento começar é 23 de julho de 2021 e os imóveis devem permanecer vazios para os atletas os utilizarem.
O CEO da Compass, Robert Reffkin, escreveu uma carta pedindo que seus corretores aproveitem e façam uso do CRM durante o período de crise. Segundo ele, apenas 20% fazem uso do CRM e, na sua carta, aproveita e dá dicas para otimizar as vendas. E você achando que é só na sua imobiliária que as equipes de vendas têm dificuldade para usar o CRM? Vale a pena se inspirar e mandar uma carta ou uma mensagem no WhatsApp pra turma. (em inglês)
Estamos de Olho
Praticar o isolamento social morando em casas superlotadas é difícil – quase impossível. E é o desafio de 11,5 milhões de brasileiros que moram nessa situação, segundo números da última Pnad Contínua do IBGE. Há pessoas em situações ainda mais problemáticas, como não ter banheiro em casa, acesso restrito à água e falta de internet no domicílio, impossibilitando o trabalho remoto – de quem possui ocupação compatível com o home office. A Folha de S. Paulo entrevistou famílias que dividem quartos, salas e casas – e podem dividir o vírus.
A quarentena está criando novos hábitos em todo o mundo. O delivery cresce e outras opções ganham destaque. É o caso da startup Onii, que oferece lojas de conveniência para dentro de condomínios residenciais. Os clientes fazem as compras por app e a marca já tem como clientes as incorporadoras MRV e Bild.
Compartilhar a refeição através de uma webcam ou um celular é outra novidade. Para combater a solidão, pessoas estão fazendo jantares, almoços e happy hours de suas próprias casas. Em uma reportagem do Washington Post que entrevista pessoas que estão aderindo à modalidade de refeições virtuais, uma frase do filósofo grego Epicuro: “Um jantar de carnes sem a companhia de um amigo é como a vida de um leão ou um lobo”. (em inglês)
Também com objetivo de combater a solidão, as pessoas passam a valorizar mais suas janelas e sacadas. E começam a descobrir os hábitos de seus vizinhos. Gustavo Teles descreve em coluna para o Correio 24h: “Passei a perceber coisas que não me chamavam atenção antes. Uma delas é que o vizinho de baixo fuma muito. Às vezes, são duas ou três sessões de fumaça por dia da varanda dele direto para o meu apartamento. Isso ajuda a tornar nosso isolamento familiar um pouco mais desagradável. Aqui em casa ninguém fuma. E por mais que eu entenda e respeite o fato de algumas pessoas fumarem, isso não torna agradável a sensação de ter a fétida fumaça do cigarro entrando em casa. Mas vida que segue”.
Os exercícios também passam a ser praticados dentro de casa. Um francês correu uma maratona, 42km, dando voltas na varanda do seu apartamento. Um italiano fez meia maratona, 21km. A equipe do Imobi, que está em home office, já baixou aplicativos de exercício. Mas isso é papo para outra news…
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