Arquitetura emocional prioriza sentimentos dos moradores e é oportunidade para o mercado imobiliário
Resumo
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Desde o início da pandemia de Covid-19 ao redor do mundo, muito tem sido falado sobre como as pessoas estão repensando suas residências, cogitando mudanças de endereço, pequenas reformas ou pelo menos a compra de novos itens para torná-las mais funcionais e também mais aconchegantes. Em meio a esse contexto, o design de interiores tem ganhado mais força, impulsionando também o conceito de arquitetura emocional, que pode ser aplicado no mercado imobiliário, contribuindo para bons resultados de vendas ou locação.
Para quem ainda não está familiarizado com o conceito, a arquiteta Maiara Faria explica: “Pode-se dizer que arquitetura emocional é uma forma de projetar e executar projetos por meio das emoções. Diferente de um estilo arquitetônico, que expressa períodos da história da arquitetura, bem como regiões, culturas, pensamentos e modos de vida, a arquitetura emocional vem do esforço do profissional em concentrar suas criações no estímulo do espaço e na interação dos mesmos com as emoções do usuário. É uma nova visão projetual, que vai muito além da forma e função das edificações”.
Não se sabe ao certo quando e como o conceito surgiu, mas pode-se dizer que é uma derivação da neuroarquitetura, que explica a relação direta entre a arquitetura dos ambientes e as respostas que o nosso corpo e o nosso cérebro dão conforme o espaço é projetado. “Como consequência positiva da neuroarquitetura, a arquitetura emocional surgiu com o objetivo de reduzir os impactos negativos que os espaços podem provocar na mente e corpo humanos, além de destacar os impactos positivos através de estratégias que façam com que o usuário seja estimulado a uma determinada função, sentimento, sensação”, explica Maiara.
“Em um primeiro momento, esses conceitos focavam em ambientes corporativos (para estimular o bem-estar do funcionário), depois comerciais (para valorizar a identidade de uma marca, por exemplo, e estimular a experiência do consumidor), e, hoje, já chegaram em nossas residências justamente com o propósito de restaurar o equilíbrio emocional do usuário, provocando sensações de relaxamento e conforto, dentre outras. É através da arquitetura emocional que nós, arquitetos, procuramos evidenciar a funcionalidade sensorial de cada ambiente e destacar que o mais importante no espaço é o que ele nos faz sentir”, completa.
Não é à toa que o número de perfis nas redes sociais dedicados a temas relacionados à arquitetura e decoração tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Alguns desses influenciadores, inclusive, têm se destacado na internet por mostrar em detalhes suas próprias residências, servindo como referência para pessoas que buscam inspirações para deixar suas residências mais aconchegantes e personalizadas. Este é o caso da blogueira Sabrina Olivetti, que, além de ser fundadora do blog de beleza Coisas de Diva, mantém o perfil @meuapartamentinho no Instagram, no qual mostra detalhes de sua residência, desde a reforma até a escolha dos itens de decoração.
“Comecei com o perfil quando estava no meio do processo de reforma do apartamento e tinha muito conteúdo sobre isso. Achei que seria legal criar uma conta para compartilhar todas essas informações com quem estivesse na mesma situação que eu. Na época, não se falava muito em arquitetura emocional. Mas eu queria muito que ele tivesse uma cara de ‘lar’, de um lugar com gente morando e que meus convidados não tivessem medo de derrubar farelo de pão no sofá, por exemplo. Nunca quis um apartamento com cara de showroom, daqueles impecáveis, mas sem personalidade. Acredito que o projeto tem muito da minha personalidade e dessa minha forma de ver a vida”, conta Sabrina.
Sem medo de expor detalhes íntimos do apartamento, a influenciadora afirma que gostaria de inspirar as pessoas de forma positiva, mostrando sua relação com o imóvel. “Espero que meu perfil ajude as pessoas a verem como uma casa pode ter a nossa cara e nossa personalidade sem precisar se preocupar com o que está na moda ou que é tendência agora. Espero que as pessoas possam ver o perfil como uma inspiração de conforto e aconchego”, completa.
A pandemia e a necessidade de adaptação das residências
Durante a pandemia, a arquitetura emocional ganhou maior relevância justamente por proporcionar novas possibilidades para as residências, que ganharam importância ainda maior na vida das pessoas. “Em geral, passamos 87% das nossas vidas dentro de edificações. Considerando somente o ano de 2020, podemos concluir que esta edificação foi a nossa casa, sem contar que parte de 2021 também será. Então, é natural e até essencial que voltemos nosso olhar para a curadoria de nossos lares. Antes do coronavírus, podíamos viver tranquilamente com um apoio de trabalho na mesa de jantar; hoje, já é preciso um espaço mais apropriado para home office. O mesmo acontece para as tarefas das crianças, que se multiplicaram em aulas online, ou da sala que virou academia de ginástica, etc”.
Para auxiliar seus clientes a fazer essa mudanças mais facilmente, Maiara começou a oferecer consultorias online durante a pandemia, serviço que tem ajudado muitas pessoas a repensarem seus lares de forma mais assertiva. Para quem está adquirindo um imóvel – e é aqui que os profissionais do mercado imobiliário devem ficar atentos -, a arquiteta recomenda que o cliente dedique sua atenção ao conceito de arquitetura emocional e de como esta edificação pode proporcionar isso. “Alguns pontos a observar são o acesso, se é facilitado para todos; a sustentabilidade e natureza, se existem; os espaços de lazer, se são condizentes com a realidade da família. Se a experiência ao entrar no ambiente agrada e o cliente consegue imaginar-se morando naquela edificação, pois ele traz uma sensação positiva de conforto, a compra é garantida”.
Arquitetura emocional e mercado imobiliário
Para melhorar ainda mais a experiência do cliente com o imóvel que está à venda ou disponível para aluguel, a arquitetura emocional pode ser aplicada de forma ainda mais prática, com a utilização da técnica de home staging. “Esse conceito foi criado por Barb Schwarz, corretora imobiliária nos Estados Unidos, na década de 70, com o objetivo de valorizar o imóvel através de pequenas alterações, e, ampliar o leque de compradores através do modo como o imóvel é mostrado, enfatizando pontos positivos e criando um impacto visual de bem estar ao cliente”, explica Maiara. “O home staging, portanto, nada mais é do que uma ‘encenação da casa’, criando um ambiente no qual o possível cliente se sinta mais à vontade naquele imóvel, naquele ambiente”, diz.
Hoje, diversas imobiliárias e incorporadoras no mundo todo, especialmente EUA, Canadá, Europa e Austrália, já utilizam deste serviço, que, na maioria das vezes é subsidiado pela própria empresa em troca de uma porcentagem maior na venda do imóvel, mas pode também ser feita pelo proprietário e o seu arquiteto para posteriormente colocar o imóvel à venda com um melhor valor agregado. No Brasil, alguns profissionais já estão se especializando nesse serviço, como é o caso de Schaelly Campos, mais conhecida como Shae, que tem formação em Design de Interiores e, depois de 15 anos trabalhando na área, decidiu incorporar o home staging a seu portfólio.
“Comecei a trabalhar com home staging em 2015, quando precisei me mudar e senti que a experiência de alugar ou comprar um imóvel é muito frustrante. Percebi, então, que existem milhões de imóveis nos grandes portais e muitos deles ficam encalhados por vários anos porque não recebem a devida atenção e cuidado. Tenho cases de apartamentos que estavam parados há três anos e foram vendidos em menos de três meses depois de aplicadas as técnicas de home staging”, conta Shae. “De fato, vários profissionais estão enxergando a relevância de se fazer home staging, já que algumas estatísticas demonstram que imóveis que passam pela técnica podem ter até 80% menos tempo para serem vendidos”, completa Maiara.
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