As tendências para o mercado da locação em 2022

Se o Brasil fosse um filme, seu roteirista seria candidato ao Oscar todo ano. O brasileiro está se acostumando a viver dentro de uma montanha-russa de emoções, diante da incrível imprevisibilidade dos cenários político, econômico, social e até mesmo cultural. E este 2022 que se inicia promete impactos do mesmo nível ou até maiores. Essa inconstância afeta inclusive os mercados com uma natureza mais serena, como o imobiliário, que faz projeções em longo prazo e cujos ciclos de altas e baixas normalmente podem ser vislumbrados com alguma antecedência. Porém, hoje não é seguro projetar um panorama para dois anos à frente, por exemplo, com razoável grau de certeza. E em 2022, o cenário para o mercado de locação, mais especificamente, reserva uma série de eventos que podem aprofundar essa guinada para o imponderável: o desenrolar da pandemia de covid-19, com a nova variante ômicron; o provável retorno das atividades e das aulas presenciais; a consolidação do trabalho remoto ou híbrido; a disputa dos unicórnios pela liderança no segmento (e pela confiança das imobiliárias); as condições econômicas do país, com cenário atual de crescimento baixo e Selic em alta; a incerteza política em ano eleitoral. Para antecipar tendências para a locação neste ano que se inicia, o Imobi Aluguelbuscou a opinião de quatro profissionais consagrados dentro do setor, capazes de filtrar o que há de mais relevante nesse emaranhado de condições e antever probabilidades. E a capacidade de fazer projeções, como sabemos, é crucial para sairmos na frente e tomarmos as decisões mais assertivas possíveis. Confira: Rodrigo Werneck CEO da Cupola, principal consultoria do mercado imobiliário brasileiro.Sabemos que o ano de 2022 guarda bons sinais para o mercado de locação, pois o aluguel é um produto que vai especialmente bem nos momentos de crise econômica, quando temos inflação e juros crescentes. As pessoas continuam se casando, continuam se divorciando, os casais continuam tendo filhos… a vida real se impõe mesmo nos cenários de crise.E durante a crise, muitos desses consumidores de imóveis acabam não tendo acesso a crédito imobiliário, acabam postergando o sonho de comprar um imóvel e encontram justamente no aluguel a sua solução de moradia imediata.Em função disso, é esperado um forte crescimento das transações no aluguel em 2022, especialmente nos públicos de renda mais baixa, onde a demanda seguramente será muito forte, especialmente se não tivermos a retomada da pandemia. Diante de um cenário tão promissor, é esperado o investimento de muitas empresas e de fundos de investimento, procurando acelerar startups e projetos que já operam na locação. Também esperamos para 2022 uma grande batalha de garantias, com muitos players ofertando modalidades de garantia locatícia convidativas, com valores e contratação mais baixos, justamente porque o aluguel oferta aquilo que é o sonho de consumo para os investidores, para os empresários, que é a recorrência.Dentro do aluguel vejo também muitas possibilidades de diversificação de receitas para as imobiliárias, para os operadores de mercado. Hoje caminhamos para um cenário em que as imobiliárias, dentro dessa crescente demanda, também terão de diversificar e sofisticar as suas estratégias de captação de imóveis, que estão cada vez mais escassos. E isso se torna, talvez, o maior desafio para as imobiliárias em 2022. A crise da captação só tende a piorar neste ano que está começando. Portanto, as imobiliárias que conseguirem encontrar alternativas seguramente vão colher os melhores resultados. O assédio sobre os poucos imóveis disponíveis só aumentará ao longo de 2022.Outra tendência forte é o encarecimento do custo de aquisição de clientes, diante do aumento da concorrência no marketing digital. Isso acaba, de certo modo, impactando aqueles que operam no aluguel com a divulgação dos imóveis em carteira.Eu vejo também, dentro da corrida das fintechs, os ERPs e CRMs fazendo cada vez mais parcerias para oferta de garantias, e vejo ainda as garantidoras de aluguel ofertando cada vez mais conveniências para as imobiliárias em troca da sua fidelidade na contratação de garantias locatícias. (clique aqui para ouvir as projeções de Rodrigo Werneck para o aluguel em 2022). Lucas Madalosso CEO da Refera, startup especializada em reformas e manutenção de imóveis.2022 será um ano de consolidação, falando daquilo que eu tenho conversado com o mercado imobiliário, que é inovação e transformação digital. E quando falo em consolidação, me refiro a alguns movimentos. Vou citar três deles. O primeiro é que nos últimos anos as imobiliárias acabaram recebendo uma enxurrada de startups e tecnologias, e isso gerou mais estresse e dor de cabeça do que efetivas soluções. A imobiliária acabou se vendo perdida, sem saber quais soluções adotar que realmente trouxessem bons resultados. Acontece que nos últimos um ou dois anos houve uma espécie de seleção. As boas soluções, aquelas que realmente geram valor para a imobiliária e para o seu cliente, estão se destacando, e cada vez fica mais fácil para a imobiliária adotar aquelas que realmente façam sentido e gerem valor para ela e para o cliente dela. Então existe uma consolidação nesse sentido, das boas ferramentas. O segundo ponto é que essa avalanche de soluções acabou criando uma espécie de jornada desconectada. Ou seja, tanto o cliente da imobiliária como o próprio operador da locação - o atendente, o analista da imobiliária - acabavam tendo que atuar em diversas plataformas, diversos softwares. E o cliente acabava tendo diversos tipos de experiências, em virtude dessas múltiplas soluções que as imobiliárias foram contratando. E o que a gente tem visto nos últimos tempos, e vai se consolidar em 2022, são as integrações: as imobiliárias conseguindo oferecer uma única experiência para o seu cliente, muito mais fluida, muito mais integrada e conectada. Isso também é uma consolidação. E aí vem o terceiro ponto: o posicionamento dos grandes players digitais, das grandes plataformas, dos grandes marketplaces. No início eles vieram com um posicionamento diferente, talvez um pouco mais agressivo. Acredito que nos últimos 12 meses, talvez um pouco mais, houve um reconhecimento da importância da imobiliária e do corretor de imóveis - e com locação não foi diferente. Esses grandes marketplaces passam a reconhecer que a imobiliária e o corretor de imóveis são fundamentais dentro do processo de locação, especialmente em trazer o conhecimento da região, da localidade, relacionamento, fazer o trabalho lá na ponta. E isso é muito legal. As grandes empresas de tecnologia passam a se posicionar como provedoras de soluções, de ferramentas e de parcerias. É fundamental tomar muito cuidado ao fazer essas parcerias, com o contrato que se estiver assinando, pois as imobiliárias terão um grande assédio em 2022 para escolher o parceiro A, B, C ou D - eu vejo 4 grandes empresas no mercado se consolidando nessa frente. Então acredito que isso será um movimento bem intenso para 2022. (clique aqui para ouvir as projeções de Lucas Madalosso para o aluguel em 2022). Ricardo Paixão CEO da iConatus, fornecedora de esteira digital para imobiliárias, e diretor da imobiliária Marc, de São Paulo (SP).Sem dúvida nenhuma, a locação é quem capitaneia e está na vanguarda de toda essa transformação no mercado imobiliário. Muitos dos experimentos, muito do que há de novo começa na locação e depois se espraia para as outras partes do mercado imobiliário, seja a parte de venda, seja a de incorporação, de construção ou de lançamento. Dito isso, podemos esperar para 2022 a consolidação das plataformas de locação para o B2B. E o que é isso? Vimos o surgimento de muitas plataformas, muitas proptechs, muitas startups, mas os tiros eram muito difusos e parece que ao longo da pandemia houve uma consolidação e sobretudo o entendimento dos grandes players da mensagem que o mercado passou. Então sobre essas plataformas de locação, que veem nas imobiliárias e corretores os seus clientes - por isso que são B2B -, eu levantaria dois pontos que aconteceram em 2021 e vão se consolidar em 2022: 1) a flexibilidade que elas adquiriram; e 2) o entendimento da mensagem do mercado.Quanto ao primeiro ponto, essas plataformas existem para todo gosto: desde a imobiliária que quer, está preparada e tem vocação para uma transformação mais radical, para pivotar o seu modelo de negócio; até aquela imobiliária que está plugando uma nova garantia, está fazendo um incremento, mas não uma inovação disruptiva. Então neste mercado de plataformas de locação temos um menu a la carte. Imobiliárias e corretores conseguem ter opções, algo que no começo estava um pouco esquisito, você não sabia bem qual era o caminho e qual era o impacto que elas trariam. Esse é o ponto da flexibilidade, que realmente vai trazer uma adesão em massa das imobiliárias para essas plataformas.E o segundo ponto é os grandes players terem entendido a importância da presença do corretor e da imobiliária na intermediação. O mercado imobiliário é sobretudo um mercado regionalizado, fragmentado e pulverizado. Aqueles corretores e aquelas imobiliárias - e isso já virou até clichê - que se conseguirem se adaptar estarão muito bem posicionados e empoderados através dessas plataformas.O fato de esses grandes players terem realmente comprado essa bandeira para ajudar imobiliárias e corretores é uma mensagem muito importante. E acho que isso vai ser um pano de fundo para 2022. Pouquíssimas imobiliárias não estarão plugadas de uma maneira ou de outra nessas plataformas. Teremos também a briga de grandes imobiliárias que querem construir a sua própria plataforma, mas não está muito certo quais realmente conseguirão fazer isso. E outro ponto que eu traria: no começo de dezembro eu fiz um painel no Rede Show, um evento da Rede Secovi-SP, que se chamava “Plataformas de locação - transformação necessária”. Trouxemos quatro grandes players: o Zapway+, a Porto Seguro, a Kenlo (do inGaia) e a Superlógica com a Arbo. Claro que existem outros grandes players, como a Loft e o Quinto Andar, mas olhando para aqueles primeiros, que têm uma parceria com imobiliárias e corretores de forma mais aberta, um B2B mais claro, todos estão com discurso alinhadíssimo: a percepção de que a imobiliária e o corretor precisam ser empoderados.E todos têm modelos flexíveis de adoção. Ou seja, por onde a imobiliária consegue entrar sem grandes traumas, sem grandes barreiras. E no momento que ela entra, ela vai fazendo a transformação necessária. E todos visando a questão do ecossistema, desde o momento da geração do lead até o momento da assinatura do contrato.É uma grande briga que está acontecendo. E eu acho que para as imobiliárias e corretores vai ser muito saudável ter essa diversidade de opções.Em paralelo, QuintoAndar e Loft certamente vão correr para estreitar os modelos de parceria com imobiliárias e corretores. O QuintoAndar já está numa numa empreitada clara, divulgada, especialmente agora em São Paulo, que parece que é a bola da vez para eles, também no modelo de venda, mas talvez saia alguma novidade também no modelo de locação, em função até dessa pressão de outros players importantes e também capitalizados entrando nesse mercado.Então, sem olhar a questão macroeconômica, o pano de fundo constante em 2022 será a adoção de plataformas que vão transformar a maneira como as imobiliárias fazem a locação. Elas vão conseguir se plugar a serviços mais velozes, mais precisos, que é o que a gente precisa para o consumidor. Afinal, toda essa transformação ocorre por causa do consumidor e não porque a gente gosta de inovação.A imobiliária se plugar a uma dessas plataformas fatalmente não será mais um diferencial. Ou seja, será obrigatório. E aí em 2022 talvez surja uma sementinha: já que as plataformas não serão mais um diferencial, qual vai ser a bola da vez de diferenciação das imobiliárias? Talvez este seja o grande exercício estratégico deste ano para as imobiliárias. Cássio Roque CEO da Roque Imóveis, de Limeira (SP), e empresário do setor imobiliário há 36 anos.Sobre o mercado de locação em 2022, a gente até poderia fazer uma abordagem mais ortodoxa, digamos assim: falar da alta da Selic, inflação, retomada da atividade econômica presencial, o arrefecimento da pandemia, o cenário político conflagrado que teremos por conta das eleições… Mas eu não queria passar esse tipo de mensagem. Essa eu deixo para os economistas e para os pessimistas de plantão. Eu, como empresário há 36 anos, sendo que a Roque tem 37 anos, já vivi o suficiente no Brasil para aprender algumas coisas. Primeiro: se, para investir de fato na sua empresa, você for esperar que o Brasil tenha uma economia mais acertada e que as coisas se encaixem, você não vai investir nunca. O Brasil é assim. E não é para amadores. E locação, como sempre eu digo, é para os fortes. Então se você trabalha com imobiliária e com locação, você tem um baita negócio na mão. Basta acreditar nisso e investir em todos os setores que a sua imobiliária pode te dar receita. O segredo é esse: investir, inovar e acreditar no seu negócio e não ficar esperando que as coisas caiam do céu, porque não vão. O Brasil é assim mesmo, infelizmente ou felizmente, não sei dizer. E não vai mudar.A gente tem que acreditar no nosso negócio e fazer a diferença. Não precisamos ser os melhores, mas procurar fazer o melhor que pudermos. Um feliz 2022 para todo mundo e acredite no seu negócio, acredite no seu potencial, que é isso que faz a diferença. PODCAST IMOBI ALUGUEL Rodrigo Werneck e Lucas Madalosso Confira também em áudio as projeções do CEO da Cupola e do CEO da Refera para o mercado de locação em 2022. Clique aqui para ouvir os comentários na íntegra. Notícias da Locação Mais projeções para 2022O Imobi Aluguel não está sozinho: outros players relevantes traçaram cenários para o mercado imobiliário em 2022. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), por exemplo, projeta que a indústria da construção civil terá um crescimento mais tímido neste ano, na faixa de 2%. “Não será possível manter o atual nível de desempenho do setor se não forem tomadas medidas urgentes para repor a capacidade de compra das famílias de baixa renda”, projeta a entidade. Quadro ainda positivoJá o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França, vê um quadro ainda positivo, ao considerar a baixa taxa de inadimplência do financiamento habitacional, a queda do endividamento público, o aumento da arrecadação com impostos federais e a confiança do empresariado do setor. Segundo pesquisa Abrainc-Deloitte do terceiro trimestre, 80% dos incorporadores pretendem comprar terrenos nos próximos 12 meses. Lá fora, otimismoO Zillow, maior marketplace imobiliário dos Estados Unidos, prevê um crescimento de 11% no valor dos imóveis norte-americanos em 2022, além de 6,35 milhões de vendas de imóveis no ano – o que seria o maior volume desde 2006. A razão para isso é o crescimento da economia nos EUA, associado ao baixo estoque de novos imóveis. Aluguel e reformas em altaCom o aquecimento das vendas, o valor do aluguel também deve subir nos Estados Unidos. Segundo os economistas do Zillow, a demanda deve ser maior por aluguéis mais caros, inclusive para residências unifamiliares, já que as famílias permanecem mais tempo no mercado de aluguel. Outra projeção é que o boom de reformas continue em 2022 – uma pesquisa do próprio Zillow com proprietários descobriu que quase três quartos deles consideram pelo menos um projeto de reforma neste novo ano. Indicadores Acesse a página especial organizada pelo Imobi Aluguel com os principais indicadores ligados ao mercado de locação: IGP-M, IPCA, Fipe/ZAP, IVAR, QuintoAndar e outros: Indicadores Imobi Aluguel.

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