DestaquesVendas Mercado sofre após Caixa fechar torneira do crédito imobiliário Atualizado 8 de dezembro de 20228 de dezembro de 2022 AutorRodrigo Arend Compartilhar: A Caixa Econômica Federal reduziu o volume de recursos para o crédito imobiliário nesta reta final de ano. A situação não é inédita, mas já não era registrada há alguns anos. Por todo o Brasil, diversas imobiliárias relatam que negócios estão em compasso de espera por conta do fechamento de torneira promovido pelo banco estatal.Entre os empecilhos relatados junto à Caixa, estão o teto de R$ 1,5 milhão por contratação e o veto na liberação de crédito para clientes que já tenham um financiamento ativo junto ao banco.Redução no crédito da Caixa se deve ao orçamento curtoA diminuição do crédito concedido acontece por conta do esgotamento do volume orçado para financiamentos via Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Neste modelo, o banco faz a captação de dividendos por meio da caderneta de poupança.O total orçado pela Caixa para financiamentos em 2022 foi de R$ 85 milhões, recorde histórico, superando com folga os R$ 77 bilhões do ano passado. Porém, o orçamento previsto foi superado ainda em novembro, obrigando a instituição a corrigir a rota e elevar a previsão para R$ 92 bilhões.O que diz a CaixaAo Imobi Report, a Caixa afirmou que a concessão de crédito obedece a critérios internos de governança, com base no contexto de mercado, no monitoramento de produtos e nas estratégias do banco.“Cabe observar que as linhas de crédito do banco estão ativas e que todos esses critérios são constantemente avaliados tecnicamente e visam garantir a sustentabilidade e competitividade da instituição”, destacou o banco em nota.A força da Caixa Econômica Federal no financiamento imobiliário se deve às taxas convidativas. Com recursos SBPE, são quatro linhas de financiamento imobiliário oferecidas: Taxa Referencial (a partir de 8,5% ao ano mais TR), Poupança Caixa (a partir de 2,80% mais remuneração da poupança), IPCA (a partir de 3,95% mais IPCA) e Taxa Fixa (9,75%).Como as imobiliárias estão se virando?Vale lembrar que enquanto a Caixa, líder no crédito imobiliário, quebrou recorde de financiamento em 2022, outros bancos viram a procura diminuir em 12% entre janeiro e outubro deste ano, na comparação com igual período de 2021.O volume reduzido de recursos liberados está fazendo muitas imobiliárias e construtoras terem de se virar para garantir as vendas. “Para viabilizar negócios, um caminho é ver se o cliente se enquadra na carta de crédito do FGTS dentro da própria Caixa, que ainda tem recursos”, sugere Claudio Ourique, diretor da Nilo Imóveis. A imobiliária tem sede em Santa Maria (RS) e também atua em outras quatro cidades.De acordo com Ourique, a busca por alternativas está fazendo com que a indisponibilidade da Caixa não prejudique os fechamentos. “Mantemos bom relacionamento com outros bancos e isso ajuda a ter mais agilidade operacional, principalmente Santander, Bradesco e Itaú. Outra opção é aguardar a liberação da Caixa para o orçamento de 2023”, diz.Segundo o corretor Vinícius Matos, da Douglas Imóveis, de Caruaru (PE), as dificuldades com liberações da Caixa foram sentidas ainda no mês de outubro. Ele relata que, no momento, há clientes postergando a compra.“Existe uma perspectiva positiva para a segunda quinzena de janeiro, contando com uma prioridade do governo eleito para o acesso à moradia. Porém, para o alto padrão, existe algum receio dos investidores. Na cidade, há construtores que estavam para fechar a compra de quatro a cinco lotes em condomínios de alto padrão, porém, pensando na incerteza, eles travaram”, conta Matos.O ponto interessante é que, para encaminhar negócios, a ferramenta que vem sendo usada pela imobiliária é aproveitar a incerteza para criar um senso de urgência no cliente. Com isso, estão sendo negociadas taxas competitivas em bancos como Santander e Itaú. “Todo mundo está buscando soluções diferentes para fazer os negócios rodarem mais”, afirma o corretor.“A estratégia de segurar negócios é relativa. Na prática, o que temos é uma taxa de juros entre 8,5% e 9,5% ao ano, um valor que está defasado. Porém, ainda não sabemos como a taxa vai se comportar no ano que vem, nem como será feita a condução da Caixa Econômica. Juntando isso com as regras de financiamento, que sempre estão mudando, conseguimos gerar uma urgência no cliente para que ele compre agora. O imóvel é uma segurança para os investidores”, sugere Matos.