Contra o apagão da mão de obra: saiba onde as empresas devem investir para mitigar o problema
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A falta de profissionais qualificados no setor da construção civil atinge todas as funções, desde serventes até engenheiros, incluindo pedreiros, azulejistas, pintores e carpinteiros. O resultado é o aumento dos custos da folha de pagamento, que acaba sendo repassado para os valores dos imóveis.
Em 2024, o dissídio da construção civil no estado de São Paulo teve o maior ganho real dos últimos 20 anos, com um aumento de 1,27% acima da inflação, além da correção do INPC de 3,18%, segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP). Nos 12 meses encerrados em maio, o Índice Nacional da Construção Civil (INCC), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acumulou alta de 4%, enquanto o custo da mão de obra, apurado pelo mesmo indicador, subiu quase o dobro (7,51%).
O primeiro passo é qualificar
Para enfrentar esse desafio, construtoras, empreiteiras e sindicatos têm investido em treinamento e na adoção de novas tecnologias. Os cursos de formação também buscam ampliar a base de trabalhadores qualificados, abrangendo também mulheres e até imigrantes.
A engenheira civil e mestre em engenharia dos materiais, Fabiana Mazetto, defende a qualificação como caminho para solucionar o problema. “A especialização e a preparação são fundamentais para sanar a questão da escassez de mão de obra”, diz. Fabiana foi professora de mão de obra no SENAI, em Curitiba (PR), nos cursos de formação de pedreiros, assentador de cerâmica e mestre de obras. Ela conta que, quando os treinamentos começaram a ser ministrados, há cerca de 10 anos, houve um grande interesse do público feminino. No segmento de “acabamentos”, mais de 50% da turma era formada por mulheres. Com isso, surgiu a necessidade de formar grupos exclusivamente femininos. Atualmente, Fabiana conduz inúmeras capacitações para incorporadoras, com grupos diversos.
Para o coordenador do Grupo de Trabalho de Recursos Humanos (GTRH) do SindusCon-SP e diretor-executivo do Grupo Kallas, David Fratel, é necessário um trabalho de conscientização com as novas gerações, além de criar programas de capacitação e parcerias educacionais. “É preciso mostrar as vantagens da construção civil aos jovens aptos e que querem crescer”, cita.
O vice-presidente de Inovação e Tecnologia do Sinduscon-PR, Fabio Giamundo, concorda que é preciso renovação na área. “Será extremamente importante a reciclagem dos trabalhadores da construção para os novos sistemas construtivos”, afirma.
Industrialização
A adoção de métodos industriais de construção, como madeira engenheirada, perfis de aço galvanizado (steel frame) e construção modular, também tem sido uma alternativa considerada no enfrentamento ao problema. Essas tecnologias reduzem a demanda por trabalhadores, pois as estruturas pré-fabricadas na indústria são montadas diretamente no canteiro de obras. “Transformar a construção em uma linha de montagem com processos racionalizados e industrializados é essencial”, destaca Giamundo.
O coordenador do GTRH do SindusCon-SP concorda com a necessidade de promover a industrialização, embora pondere sobre as dificuldades para uma adoção imediata dessas soluções. “Hoje, no Brasil, é melhor construir no canteiro de obras do que na indústria. Além dos tributos envolvidos na industrialização, como IPI e ICMS, também há o custo para o transporte das grandes peças”, alerta Fratel. Outro complicador é a própria logística para levar essas grandes peças ao centro de São Paulo, por exemplo, que possui restrições de tráfego em boa parte do dia. À noite, quando não há restrições de tráfego, existe a chamada lei do silêncio, que impede atividades que façam barulhos.
Para atrair é preciso investir
Na opinião de Giamundo, do SindusCon PR, a construção civil no país está estagnada há décadas, utilizando métodos arcaicos que demandam grande dependência de trabalho manual e expõem os trabalhadores a condições insalubres. “A construção civil, hoje, paga bem aos trabalhadores, e isso pode chamar a atenção. Porém, o tipo de trabalho espanta a maioria das pessoas”, ele diz, enfatizando que é preciso transformar trabalhadores em especialistas de montagem com alta produtividade.
Há um consenso de que o trabalho pesado, que demanda grande esforço físico, é um dos fatores que pode corroborar para um possível apagão da mão de obra. Fabiana revela que há métodos capazes de reduzir a força bruta no trabalho, como carrinho de mão automático e outras tecnologias a favor da produtividade no canteiro de obras.
Fratel também afirma que já existem tecnologias e métodos de organização que protegem os trabalhadores, por exemplo, das condições climáticas adversas, de forma a proporcionar mais conforto aos profissionais no desempenho de suas atividades.
Ele ainda acrescenta que é possível melhorar as condições de carreira aos trabalhadores, como oferta de PLR, plano de saúde, entre outros benefícios. “Devemos mostrar que é possível trilhar um plano de carreira”, defende. O executivo não acredita que esses benefícios encarecem o valor final dos imóveis. “A construção civil é cara atualmente porque, com a mão de obra desqualificada, exige-se uma alta taxa de retrabalho”, finaliza.
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