Influenciadores do Imobiliário: a criação de personagens na busca pela audiência
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A informação de que os brasileiros estão entre os maiores usuários do mundo da internet e das mídias sociais não é novidade. Mas o país desponta em mais um ranking: do número de influenciadores digitais. De acordo com pesquisa Nielsen, o Brasil tem 10,5 milhões de perfis com, pelo menos, 1 mil seguidores. Desses, 500 mil conseguem alcançar mais de 10 mil reações em suas postagens. No mercado imobiliário, a cada dia surge um novo rosto capaz de angariar milhares de seguidores, influenciar decisões de compra e comportamentos ou ainda ensinar técnicas da área.
Para atuar nesses ambientes digitais, é necessária grande habilidade em comunicação e também no estabelecimento de vínculos com a audiência. Simpatia, empatia e conexão são palavras-chave no trabalho desenvolvido por esses profissionais. Entretanto, até que ponto o influenciador deve ir para atender aos anseios dos seguidores? Vale a pena construir um personagem diferente de quem a pessoa é, de fato? Nesse espaço, onde vida pública e privada se misturam, qual deve ser a estratégia adotada? Esses são alguns dos questionamentos que o Imobi Report aborda nesta terceira e última matéria especial sobre os influenciadores do mercado imobiliário.
Autenticidade x audiência
Na busca pela audiência, não é incomum que influenciadores digitais assumam personalidades que diferem de quem eles são na vida real. As consequências relacionadas a esse posicionamento são diversas. O influenciador e CEO do IQR Educação, Guilherme Machado, alerta para os casos de sucesso na internet que não refletem o cenário real, o que leva profissionais despreparados a trilhar caminhos incertos. Para Machado, o luxo e a promessa de altos ganhos atraem, mas talvez não sejam o suficiente para produzir uma carreira sustentável. Ele defende que relações pessoais, necessidades humanas e aprendizado contínuo devem ser priorizados acima de perspectivas irreais.
O corretor de imóveis e influenciador Guilherme Wohlke compartilha dessa opinião. Para ele, os profissionais inexperientes e despreparados que tentam atuar como professores nas mídias sociais fazem um desserviço ao mercado. “São pessoas que acabaram de entrar no mercado e estão passando informações equivocadas, que não são efetivas. Eu, com mais de 10 anos de experiência, tenho a preocupação de ensinar apenas o que eu coloquei em prática e o que gerou resultados efetivos”, exemplifica Wohlke.
O corretor defende que os profissionais que atuam junto às redes sociais devem agir com responsabilidade, já que impactam verdadeiramente a vida das pessoas. Ele relata o caso de seguidores que viajam muitas horas para ver pessoalmente um influenciador ou ainda os que mudam de carreira em função do conteúdo veiculado nas mídias sociais. “Nós não temos noção do impacto que causamos nas pessoas. Quando um seguidor nos encontra, ele tem a expectativa de receber um insight, ouvir algo motivacional e levar algo de você. Por isso, é muito importante ser verdadeiro”, destaca.
Wohlke reforça que faz questão de manter seus valores e princípios nas mídias sociais. “Não gosto de fazer o jogo da audiência para manter seguidores. E isso me limita, tanto em termos de faturamento, como em termos de alcance. Mas eu não abro mão dos meus princípios e faço questão de me conectar com pessoas de verdade”, evidencia.
A influenciadora Sophia Martins também salienta a importância de ser autêntico e transparente nas mídias sociais. De acordo com ela, esse posicionamento é, inclusive, valorizado. “Os seguidores valorizam a honestidade e a genuinidade, então é essencial criar um conteúdo que reflita seus valores e personalidade”, diz.
Os personagens
A privacidade tem um papel importante na saúde mental dos influencers, visto que nem tudo precisa ser visto, ouvido ou divulgado, afirma a psicóloga especialista em terapia cognitivo comportamental e neurociências, Amanda Kulik. Ela destaca que, em certa medida, é saudável haver distinção entre a vida real e virtual. “A exposição contínua não é saudável, pois, além de afetar a privacidade, acaba gerando expectativas no público, que pode vir a cobrar mais por esse tipo de conteúdo. E, por querer agradar e manter o perfil atraente, a pessoa acaba cedendo”, pondera Amanda. A especialista explica que essa pressão por engajamento acaba resultando em ansiedade, exaustão e distanciamento de si mesmo.
Para separar a vida pública da privada, alguns influenciadores chegam a criar personagens idealizados, que atendem às expectativas do público, sem revelar questões íntimas. Segundo a psicóloga, cada pessoa vai encontrar a estratégia de enfrentamento que for mais adequada. “É provável que muitos já tenham visto o impacto na saúde mental que uma atriz, ou ator, teve com o trabalho de atuação, na gravação de algum filme, por exemplo. Por isso, é importante dizer que nem tudo é pra todo mundo e a avaliação para essa escolha (ou não) deve ser bem criteriosa, com a ponderação minuciosa dos aspectos positivos e negativos”, explica.
Mas diferentemente de interpretar personagens fictícios ou biográficos, os influenciadores encarnam versões de si mesmos. O que fazer quando esse arquétipo se infiltra na vida privada? De acordo com Amanda, é importante ter atenção ao aparecimento de um sofrimento psíquico que essa interpretação pode trazer. Deve-se avaliar o quão cansativo isso pode ser, se é uma versão idealizada e romantizada que não condiz com a realidade ou se está muito distante de quem a pessoa é. “Perceber o quão descolada a pessoa fica da realidade e se há momentos em que essa interpretação e a vida real se confundem trazendo sofrimento significativo. É mais difícil acontecer, contudo é grave se a pessoa não consegue distinguir o real do que é imaginado. Nesses casos, a busca por profissionais da saúde mental deve ser realizada imediatamente”, recomenda.
Amanda conclui que para equilibrar vida pública e privada é necessário impor limites de tempo e dedicação, deixando espaço para hábitos saudáveis. “Sono adequado e em horários adequados, prática regular de atividade física, fazer parte de um grupo em que se tenha vínculos de qualidade, ter tempo de lazer com amigos e família, hábitos alimentares saudáveis, tendo ações de controle e manejo do estresse (que muitas vezes envolvem dizer não e recusar a sobrecarga de trabalho), ter tempo de qualidade offline, cuidados com a saúde geral e a busca por profissionais de saúde mental quando necessário”, elenca.
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