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Tecnologia: o segredo na corrida pelo ESG na construção civil

*Cristiano Gregorius

Que o ESG (Environmental, Social, and Governance, no inglês) está em alta no Brasil, não há dúvidas. A sigla, que se refere às ações voltadas para o desenvolvimento sustentável, social e de governança, está no topo das prioridades das principais empresas do país, mudando suas rotinas e negócios. 

Segundo a EY, a agenda ESG comanda a decisão de 99% dos investidores no cenário brasileiro (1). Além disso, o Brasil é o primeiro país do mundo a adotar oficialmente o padrão global de reporte de dados ESG, após a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicar uma resolução que torna obrigatória a publicação de relatórios sustentáveis a partir de 2026 (2). 

Outros movimentos que confirmam o amadurecimento da pauta no país são as novas normas da B3 sobre emissões e composição do conselho de administração das companhias negociadas na bolsa de valores e o avanço da aprovação do mercado de carbono regulado no Congresso Nacional. 

Na construção civil, o cenário não é diferente: o ESG chegou para ficar. E os avanços tecnológicos podem ajudar, e muito, as empresas que buscam estar alinhadas às novas demandas do mercado. Mas o que está por trás dessas três letras repletas de significado? 

Desenvolvimento sustentável – o “E” da sigla 

Ao falar de construção, estamos tratando de uma indústria responsável pela produção de 40% dos resíduos do mundo todo (3). Segundo a última edição do Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil, publicado em dezembro, o Brasil gerou 45 milhões de toneladas de resíduos de construção civil e demolição em 2022 (4), sendo o Sudeste a região que mais contribuiu com esse cenário, sendo responsável por 50,6% da produção. 

Analisando o atual cenário, observa-se que o Brasil está estagnado na agenda pela redução de rejeitos. Isso reforça a relevância da adoção de práticas sustentáveis na nossa indústria. 

A construção verde, a gestão de resíduos e o uso de energias de fontes renováveis são ótimas soluções para que avancemos nessa jornada por uma produção mais consciente. Um exemplo disso é o Japão, referência no gerenciamento e tratamento dos resíduos e que investe na reciclagem de concreto desde 2002 por meio da Lei da Reciclagem de Resíduos da Construção. Atualmente, o Japão recicla mais de 99% dos rejeitos de obras. 

O uso de ferramentas digitais já faz a diferença na redução dos prazos de entrega, bem como na gestão da obra, promovendo economia de tempo, uso eficiente dos materiais e agilizando a rotina dos profissionais envolvidos. 

Por meio de um sistema de planejamento, por exemplo, um engenheiro consegue planejar o cronograma de sua obra em apenas seis minutos, tarefa que antes podia consumir até duas horas de seu dia. Outros benefícios incluem o acompanhamento preciso das métricas ESG, promovendo uma cultura de melhoria contínua. 

Desenvolvimento Social 

Conhecida por ser uma das indústrias que mais emprega no país (5), a construção civil vem fazendo investimentos consideráveis em segurança do trabalho e na capacitação dos profissionais para um uso eficiente dessas novas ferramentas. 

Promover o acesso à educação, o letramento digital e a ampliação da conscientização são passos fundamentais para que as novas gerações sigam construindo um futuro mais positivo para a área. É importante reforçar aqui a importância de todos os players do sistema para que o acesso à tecnologia seja cada vez mais difundido e acessível, em todas as etapas da obra.

Promoção da governança – o “G” de ESG 

A governança funciona como um alicerce para que todos os princípios de ESG funcionem de forma efetiva. Aqui, estamos falando de transparência, atuação responsável e práticas éticas. 

Construtoras e incorporadoras seguem adotando novos padrões de gestão financeira, estratégias de engajamento dos stakeholders, além da estruturação de áreas como o Compliance, que fica responsável pelo acompanhamento e cumprimento de normas ambientais, regulamentações trabalhistas e de segurança. 

Nesse ponto, os recursos tecnológicos são essenciais para uma integração mais eficiente e transparente dessas práticas, apoiando a análise de potenciais riscos, a gestão de comitês internos e a produção de relatórios. 

Próximos passos – para onde estamos indo? 

Nessa análise de onde estamos e aonde queremos chegar, é possível perceber que ainda temos um longo caminho pela frente. Em um setor que ainda não completou seu processo de transformação digital e que carece de incentivos – educacionais, financeiros e de conscientização –, o ESG desponta como uma forte e constante tendência para os próximos anos em nossa indústria, impulsionada ainda mais pela agenda ambiental, debatida globalmente, e, claro, pelos inúmeros benefícios que uma atuação sustentável e responsável traz para todas as categorias envolvidas no ciclo produtivo.

É hora de encarar o ESG não apenas como uma sigla, mas como um passo fundamental na consolidação da construção civil como uma das áreas protagonistas na jornada pelo desenvolvimento sustentável e crescimento da economia do nosso país. 

*Cristiano Gregorius é diretor executivo do Sienge, plataforma de gestão com a maior cobertura da Indústria da Construção no Brasil. É um executivo com mais de 20 anos de experiência em projetos com resultados de alta performance em grandes empresas de tecnologia.