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NEXPE, de capital aberto, é mais uma proptech a anunciar demissão em massa

A temporada de cortes nas proptechs alcançou uma das poucas empresas de capital aberto do segmento. A NEXPE confirmou o desligamento de 50 colaboradores, o que representa uma redução de pouco mais de 10% na força de trabalho da empresa. 

Foram cortados postos em diversos níveis, inclusive gerenciais, nas filiais de Goiânia, São Paulo e Rio de Janeiro. Das empresas que fazem parte do grupo, a Desenrola foi a mais atingida. A proptech também anunciou um processo de “revisão criteriosa” das despesas com fornecedores, contratos, processos e projetos.

Diferentemente de outras startups imobiliárias, a NEXPE era conhecida por ter uma operação equilibrada e um quadro de funcionários enxuto. Por isso, as demissões neste volume pegaram as equipes internas de surpresa. 

Embora a NEXPE tenha confirmado 50 desligamentos, o Imobi Report apurou que o total deve ser maior, chegando perto de 80. Somente na Desenrola, foram 45 funcionários dispensados. 

Procurada pelo Imobi Report, a empresa disse que o objetivo com o enxugamento de pessoal e de infraestrutura é “reequilibrar o Grupo e permitir que as operações rentáveis prosperem cada vez mais”. “Além disso, acreditamos que a reestruturação nos dará fôlego para que as nossas operações continuem progredindo dentro do esperado e assim nossos resultados sejam atingidos de maneira sustentável”. 

A NEXPE afirmou que não pretende descontinuar as atividades da Desenrola, nem de nenhuma outra empresa do grupo, e disse ainda que encara a reestruturação como consequência de um contexto que passa por um cenário macroeconômico (mundial e nacional) desfavorável, uma mudança de mindset do mercado financeiro para concessão de investimentos e, internamente, a necessidade de buscar maior equilíbrio entre receitas e despesas.

No último dia 5, a NEXPE emitiu comunicado ao mercado revelando que contraiu um empréstimo de R$ 7,5 milhões junto a seu acionista controlador direto (a Promontoria Holding 276 B.V.), com vencimento em 15 de janeiro de 2023. A empresa não divulga a finalidade, mas o Imobi Report apurou que a ideia é quitar compromissos de final de ano. A empresa vinha sendo pressionada pelos acionistas e investidores a apresentar melhores resultados financeiros.

O que faz a NEXPE?

Fundada em 2007, a atual NEXPE é o resultado da união de seis marcas: Brasil Brokers (nome pelo qual era conhecida anteriormente), Desenrola, Abyara, CrediMorar, Bamberg e Convivera. 

A holding é dona de uma plataforma tecnológica que desenvolve marcas e soluções no mercado imobiliário. A empresa, que se autointitula “primeira plataforma tech de curadoria imobiliária do Brasil”, oferece serviços como intermediação de lançamento de novos imóveis, plataforma para busca de imóveis para compra ou aluguel e soluções financeiras.

Ao anunciar a mudança da marca de Brasil Brokers para NEXPE, em março deste ano, a holding traçava planos ousados: ser a melhor plataforma imobiliária do Brasil e representar 10% de market share no segmento até 2026. 

Ao lado da Lopes, a NEXPE é uma das únicas plataformas imobiliárias brasileiras com ações na B3. A companhia, porém, enfrentou um 2022 difícil, com queda no valor de seus papéis superior a 62% desde maio, quando passou por rebranding e teve o código de negociação na B3 renomeado para NEXP3.

Para esta quinta (15), a companhia convocou uma Assembleia Geral Extraordinária que discutirá o processo de grupamento de ações, na proporção de 50 para 1. O papel da NEXP3 encerrou o pregão desta terça (13/12) no valor de R$ 0,31.

O drama da startups

Os cortes da NEXPE acompanham um cenário complexo para as startups em geral e para as proptechs, especificamente. Com um quadro macroeconômico adverso, principalmente pela alta dos juros nos Estados Unidos e também no Brasil, empresas com viés tecnológico tiveram um ano duro. 

Acionistas e investidores exigiram dessas companhias – normalmente impulsionadas por aportes milionários, mas com resultados ainda tímidos, quando não negativos – austeridade de gastos para que elas mantivessem em vista a sustentabilidade econômica. 

Assim, muitas proptechs têm divulgado cortes e redução de despesas. Uma das primeiras foi o QuintoAndar, que em março deste ano anunciou a dispensa de 4% da sua força de trabalho, o equivalente a 160 profissionais. 

Já no final de julho, a Casai, plataforma de estadia de curta duração com sede no México, demitiu 60 funcionários em sua operação brasileira. Menos de um mês depois, salvou-se da falência ao costurar uma fusão com a Nomah, empresa do mesmo segmento que até então pertencia ao grupo Loft.

A Loft, aliás, foi outra que viveu um ano turbulento. A empresa divulgou três levas de demissões em massa desde março – a última ocorreu na última semana, quando 312 colaboradores foram dispensados, o que representa 12% do quadro de de 2,6 mil funcionários que serviam ao grupo. Ao todo, em 2022, foram 855 desligamentos no unicórnio. 

A Creditas, empresa de crédito com garantias, também enfrenta uma tempestade: a startup acaba de anunciar prejuízo líquido de R$ 245,6 milhões no terceiro trimestre. No acumulado do ano, o déficit soma R$ 858 milhões.

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Carlos Simon

Jornalista formado pela UFPR, atuou como repórter e editor em jornais, revistas e portais paranaenses, e foi coordenador de comunicação de empresas e órgãos públicos de diversos segmentos. Dedicado ao mercado imobiliário desde 2020, hoje é o responsável pelo conteúdo do Imobi Aluguel.

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