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“Retomada consciente” anima, mas lançamentos são adiados

A retomada gradual da economia em São Paulo, com flexibilização da quarentena mediante critérios estabelecidos pelo Governo do Estado, começou pra valer desde ontem. O plano de “retomada consciente”, como está sendo chamada essa reabertura econômica, prevê cinco fases, cada uma correspondendo a uma etapa da epidemia. À medida que determinada região avança nas fases, há maior flexibilização da atividade econômica. 

A capital paulista, por exemplo, está na fase 2, definida pelo início da flexibilização, que contempla a permissão da retomada das atividades imobiliárias. Nesta etapa, a reabertura desses estabelecimentos depende de autorização dos prefeitos de cada cidade do Estado. Além disso, há algumas restrições para o atendimento, como horário reduzido de funcionamento e número limitado de corretores e clientes no local. Na próxima fase, a terceira, as atividades imobiliárias já poderão funcionar normalmente, sem restrições. 

O anúncio da retomada em São Paulo animou incorporadoras, ou pelo menos parte delas, já que a possibilidade de reabertura dos estandes de vendas de imóveis pode trazer um fôlego maior para as empresas voltadas paras as rendas média e alta, com perspectiva de aumento das vendas e retomada dos lançamentos. 

Meyer Nigri é um dos defensores da retomada das atividades. O fundador da Tecnisa disse que “vamos correr algum tipo de risco que possa gerar emprego” e que ele é “a favor de liberar com critério”.

Já a MRV deve manter a redução do seu estoque de unidades. A incorporadora estima que seus lançamentos do segundo trimestre vão superar os dos três primeiros meses do ano. Primeiro trimestre, diga-se, que já apresenta impactos do início da pandemia: o lucro líquido da incorporadora no período recuou 39,1%. Já o resultado do seu lucro líquido consolidado teve baixa de 45%. Com isso, a receita líquida da empresa ficou na mesma média em relação ao mesmo período do ano passado, em R$ 1,51 bilhão.

As estatísticas sobre a Covid-19 no Brasil não são nada animadoras. Estudo da Funcional Health Tech aponta que não estamos nem perto do pico da doença ainda, que deve acontecer somente no início do mês de julho, tanto em São Paulo quanto no restante do país. Desta forma, não é possível saber ainda quais impactos a flexibilização da quarentena no Brasil pode trazer para o avanço do novo coronavírus – e também para a economia. Fato é que locais bastante atingidos pela Covid-19, como Nova York, Itália e Espanha, só tomaram essa medida mais de um mês após o pico de casos.  

Não à toa, 79% das construtoras devem adiar lançamentos imobiliários, segundo pesquisa realizada pela CBIC. Entre as empresas que responderam a pesquisa, houve um crescimento na previsão de atraso dos lançamentos. Em março, 18% das empresas esperavam atrasar por 120 dias. Em abril, o número subiu para 28%. As estratégias de lançamentos também devem ser revistas

Com isso, a construção civil deve ter uma queda significativa. Segundo estimativa feita pela FGV/IBRE, o tombo deve ser de 11%, em um ano que era considerado a retomada do setor, após cinco anos de retração. 

Com tudo isso, o mercado imobiliário terá de continuar se reinventando. A migração para o digital segue forte, principalmente devido a impossibilidade de visitas a parte dos imóveis. Neste sentido, mudanças de cultura no setor têm ganhado cada vez mais força, como a digitalização dos processos e a adaptação de projetos que já estavam prontos para o lançamento

Imobiliárias

Segundo um levantamento do CRECI São Paulo, a inadimplência no aluguel aumentou quase 50% nos meses de fevereiro e março

E o preço dos imóveis começa a cair, pelo menos no Rio de Janeiro. Um levantamento do Secovi aponta que o valor do metro quadrado residencial caiu 1,34% de março para abril. Já o índice de inadimplência fechou abril em 20%.

O que segue estável é o preço médio dos imóveis comerciais, segundo o índice FipeZap. Os preços de venda e locação em abril variaram de -0,09 e +0,04, respectivamente, em comparação a março.

Os proprietários passaram a avaliar mais seus imóveis durante a quarentena. Segundo a plataforma Avalion, a procura por precificação em abril teve alta de 57%, em relação ao mês anterior. As cidades com mais acesso à plataforma foram São Paulo e Curitiba.

O PL que suspende as ações liminares de despejos enquanto durar a pandemia da Covid-19 ainda aguarda a sanção presidencial. Em uma coluna para o Estadão, especialistas explicam que o projeto não exime o inquilino de manter seu aluguel em dia ou o protege de toda a decisão despejo, somente adia a ação para evitar o trânsito de pessoas durante a pandemia.

Inclusive, há casos de locatários sendo despejados por descumprirem as regras de isolamento social, promovendo festas ou insistindo no uso das áreas comuns, como piscinas e academia.

Sobra para os síndicos fazer a gestão de conflitos e relacionamentos, além de manter os condomínios em dia. Mesmo com uso limitado, as áreas comuns precisam de manutenção, assim como o gás, elevadores, bombas, caixa de gordura e esgoto, entre outros.

Um levantamento do Grupo ZAP aponta tendências para os imóveis pós-pandemia. Varandas, vistas livres e ambientes melhor divididos são considerados importantes por mais de 50% dos respondentes da pesquisa.

As ofertas com vídeo tour da Kzas tiveram 40% a mais de visualizações do que as ofertas que não contam com a opção. Este é só mais um demonstrativo sobre como as imobiliárias devem, cada vez mais, apostar em fotos e vídeos profissionais. No caso de novos empreendimentos, também cresce o uso de realidade virtual e vídeos com uso de drones.

Techs

“É preciso olhar o site da imobiliária como um e-commerce. (…) a única diferença é que no site da imobiliária ainda não é possível realizar o pagamento, porém o envio de documentação para quem vai alugar um imóvel, ou o cadastro do imóvel com foto e documentos já podem ser feitos pelo site, seguindo um processo e sem a necessidade de interação”, analisa o CEO da Colibri360, Luiz Garcia, em entrevista exclusiva para o Imobi.

Também no Imobi, sobre digitalização, Vilson Moesch, CEO da Vista: “Hoje em dia, a imobiliária já utiliza várias tecnologias: telefonia digital, chat, produção de conteúdo, marketing digital. Mas se a imobiliária não usa tudo isso de uma forma automatizada e integrada,  a maneira de extrair a inteligência de dados será muito mais demorada e difícil. Então, um bom CRM não é apenas para cadastrar os seus imóveis e clientes (o que já faz toda a diferença). É uma ferramenta que te ajuda a automatizar processos e melhorar a tomada de decisões”.

O Yahoo Finanças fez uma listinha de 10 proptechs. Muitas são figurinha repetida aqui no Imobi: citam a Kzas, RuaDois, Loft, Fix, EmCasa, Apsa e Yuca. Já as que debutam nesta newsletter são a Planet Smart City, startup italiana com soluções para cidades inteligentes; a Urbit, que faz uso de inteligência artificial e big data para reunir informações urbanísticas de Belo Horizonte e São Paulo; e uma extra, a Elephant Skin, que usa CGI para gerar projetos de empreendimentos para construtoras. 

Não é imobiliária, mas vale conhecer a história: a BlackCart, startup de proteção de fraudes em e-commerces, conseguiu arrecadar 2 milhões de dólares em plena quarentena fazendo pitches pelo… Zoom. Sim, o aplicativo pelo qual você fala com sua equipe – ou faz sua aula de yoga – também pode ser bem utilizado para conversar com investidores, clientes e prospects.

Mundo

As demissões em massa nos Estados Unidos continuam. O número de americanos que fizeram o pedido de auxílio-desemprego se mantém acima de 2 milhões pela décima semana consecutiva. Apesar de estar começando a flexibilizar a quarentena, o país teme uma segunda onda do coronavírus.

A Amazon nada contra a corrente. Na última edição do Imobi, apontamos que seu CEO, Jeff Bezos, pode virar o próximo trilionário. Agora a empresa anunciou que irá contratar permanentemente 70% de seus colaboradores que estavam trabalhando na modalidade temporária.

Parece que os nova iorquinos estão aproveitando o “novo normal” para reavaliar seus imóveis. O mercado imobiliário de cidades como Nova Jersey, Long Island e Westchester County está esquentando, com a busca por espaços menos densos e mais áreas verdes.

Já em Orlando, os aluguéis de casas por temporadas voltou a ser autorizado pelas autoridades. A autorização veio acompanhada da notícia de que os parques da Disney e Universal voltarão a funcionar a partir desta sexta-feira (5). Há regras para estes aluguéis: as locações devem ter um intervalo de pelo menos 72h, limpeza e desinfecção devem ser intensificadas, há limite de ocupação e distanciamento social de pelo menos 14 dias por visitantes de países “altamente infectados”, caso do Brasil.

Sabe aquelas histórias sobre imóveis por 1 euro? Pois o brasileiro Douglas Roque comprou uma casa em um vilarejo a 100 km de Florença, na Itália, mas, com a quarentena, está preso na cidadezinha até hoje. A cidade não tem nem 800 habitantes e participa de um programa do governo italiano que vende antigos imóveis com a condição que eles sejam restaurados pelos novos proprietários. Além de ter comprado a casa por cerca de 6 reais, segundo a cotação do euro de hoje, para a reforma Douglas talvez poderá contar com os pacotes de estímulo à construção civil que a Itália vem aderindo para aquecer a economia pós-coronavírus.

Estamos de olho

Como será o nosso novo normal? É essa pergunta que a Época tenta responder, na coluna de Adriano Lima, que faz uma reflexão sobre o momento que estamos vivendo e o que ele chama de “antecipação forçada do futuro”, com o aumento da integração digital entre empresas e consumidores. 

O novo normal também compreende muitos problemas com os quais teremos que lida. O principal deles, certamente, é o desemprego. Conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), todos os setores econômicos registraram saldo negativo de empregos em abril. Ao todo, 860 mil vagas de emprego formal foram fechadas no mês.

Antes mesmo de abril, a economia brasileira já estava sentindo os reflexos da pandemia. O PIB do país encolheu no primeiro trimestre do ano, caindo 1,5% em comparação com os últimos três meses de 2019. Com isso, o PIB regrediu a um patamar semelhante ao que se encontrava no segundo trimestre de 2012.

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