Inovação

Impactos do trabalho remoto no mercado imobiliário

A evolução da sociedade está ligada à evolução do trabalho. Além das questões técnicas, como desenvolvimento de novos conhecimentos, há também uma mudança nas culturas empresariais, nos valores e na relação entre empresa-colaboradores. Por conta da chegada da pandemia e as recomendações de isolamento social, mais um fator foi adicionado: a popularização do trabalho remoto. Mas trabalhar longe do escritório é tanta novidade assim? O home office é fogo de palha? E o que será dos escritórios?

Trabalho Remoto

“Se tem algo que a pandemia trouxe foi repensar o ambiente de trabalho como um todo. Muitas coisas já vinham mudando e a pandemia acelerou. Por exemplo, há tempos que as pessoas se incomodavam com longas distâncias para ir a um escritório central. Empresas já estavam optando por escritórios em áreas suburbanas. A pandemia acelerou e criou uma experiência massiva de trabalho flexível”, conta Tiago Alves, presidente do IWG, multinacional que atua com coworking há mais de 30 anos.

E há uma grande mudança que vai além da localização do escritório ser em casa ou no centro da cidade: é o novo mindset da liderança. Empresas estão aprendendo que é mais importante trabalhar com colaboradores com mais tempo produtivo do que horas registradas no cartão.

“O trabalho híbrido é composto de cinco componentes: horário, jornada, localização e remuneração flexíveis e gestão por performance”, explica Tiago. “O home office ajuda em um desses, que é a localização flexível. Mas, mesmo sem a pandemia, todos os componentes são tendências que as empresas já estão implementando. Hoje, as empresas querem que os funcionários engajem e sintam a vontade de produzir dentro do seu timing”, afirma.

Os fatores que compõem o trabalho híbrido apontam para uma reflexão: o home office deverá ser a principal forma de trabalho no futuro? Não necessariamente. Mas foi o trabalho remoto que mexeu, de vez, com as bases do trabalho tradicional em todo o mundo. E o caminho pode ser flexível.

O trabalho remoto, híbrido e flexível no mercado imobiliário

É no conceito de flexibilidade que muitas empresas estão apostando, inclusive players do mercado imobiliário. O Apto, plataforma de comercialização de lançamentos, deixou os colaboradores optarem onde preferem trabalhar. “Aprendemos, durante esses quase dois anos de pandemia, que o trabalho remoto funciona e substitui o trabalho físico. Entretanto, a troca, a interação e a cultura empresarial não são as mesmas no online como eram no presencial. Por isso, quando finalmente tivemos a flexibilização da quarentena, deixamos cada funcionário decidir o modelo que queriam trabalhar, fosse presencial, remoto ou híbrido”, conta Alex Frachetta, CEO do Apto.

No caso do Apto, o timing da quarentena foi quase irônico. O escritório da empresa havia passado por uma reforma e foi inaugurado em fevereiro de 2020. A equipe pode aproveitar o espaço por menos de um mês antes do lockdown. “Foi um momento muito singular e nunca tínhamos passado por um problema de escala global antes, então pegou a todos nós de surpresa. Todos os nossos funcionários passaram a trabalhar de casa e nós disponibilizamos os equipamentos para quem não possuía a estrutura em casa”, conta Alex. 

A cultura empresarial de promover a autogestão facilitou a adaptação. “A característica da empresa de ter colaboradores que praticam autogestão e ter uma cultura jovem facilitou para a produtividade se manter alta e, em alguns casos, até maior do que no trabalho presencial”.

Com toda a segurança de saúde no trabalho e com a flexibilização da quarentena, o eNPS (índice de satisfação dos funcionários da empresa) aumentou 28,7% no último trimestre. “Decidimos deixar a cargo de cada funcionário decidir o modelo que funciona para ele. Em geral, flexibilizar os modelos, muitas vezes, resulta no seu colaborador feliz, engajado com o propósito da empresa e confortável para expor quais formatos funcionam para ele. E isso gera resultado. O segredo mora em olhar para cada colaborador como uma engrenagem dentro da sua empresa e o trabalho é não deixá-la emperrar”, compartilha.

Escritório híbrido para pequenas empresas

Não precisa ser grande para aderir a modelos de trabalhos híbridos. A Ziar, imobiliária de São Paulo, com um administrativo de 7 pessoas, além de 32 corretores, já oferecia um modelo flexível para a equipe, que foi totalmente integrado durante a pandemia.

“Mesmo antes da pandemia, já tínhamos um escritório reduzido e como ‘base de operações’. Ou seja, quem sentia necessidade de estar ali, deixávamos as portas abertas, mas nossa equipe sempre pode trabalhar de casa, em um café, no shopping. Já entendíamos que, às vezes, o tempo de deslocamento é um tempo perdido, e não há necessidade de trabalhar presencial 100% do tempo”, compartilha Vinicius Capella, diretor de Operações na Zíar Consultoria Imobiliária.

A Ziar optou por continuar com a equipe totalmente remota, mas deve aderir ao modelo híbrido. “Por enquanto, não estamos confortáveis em voltar às atividades presenciais e pretendemos retornar quando estiver realmente seguro para todos, com a equipe vacinada. E nós conseguimos nos adaptar bem pra parte virtual, não afetou o resultado da empresa”, conta. “Mas devemos optar por um trabalho híbrido, pois sinto que momentos presenciais fazem a diferença para engajamento. Devemos promover encontros que vão ser muito mais para promover aproximação entre a equipe, trocar cultura, do que para cumprir funções e realizar atividades”, aponta.