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Como surge um hub de inovação imobiliária? Conheça o case do Tijolo Hub

A busca por inovação e troca de experiências é um caminho obrigatório para diversas empresas que procuram se estabelecer no mercado imobiliário. Em meio a esse cenário, espaços que reúnem startups e empresas de tecnologia que procuram crescer juntas, conhecidos como hubs de inovação, têm a oportunidade de explorar segmentos como o imobiliário, mercado que possui grande potencial de escalabilidade.

Na América Latina, as proptechs (startups focadas no mercado imobiliário) possuem um horizonte otimista. Depois de um boom de investimentos – foram 1,4 bilhão de dólares em 2021 – o setor manteve a atração de interesse e somou mais 278 milhões de dólares em captações no primeiro trimestre de 2023, segundo dados da Latin American Venture Capital Association (LAVCA). 

O número proporcionalmente menor, no entanto, não significa que o segmento perdeu apelo. A participação das proptechs nas captações de investimentos apresentou recuo menor que a média dos demais segmentos de inovação. Na América Latina, as proptechs somaram 10,1% dos investimentos recebidos por startups segundo dados da LAVCA, montante recorde nos últimos 5 anos.

Neste contexto, em Porto Alegre (RS), surgiu o Tijolo Hub. O espaço se destaca por reunir dezenas de empresas ligadas ao imobiliário, formando um ambiente propício para o desenvolvimento e crescimento conjunto de proptechs e startups correlatas. 

O idealizador do projeto, Frederico Renner Mentz, compartilhou com o Imobi Report os detalhes sobre o funcionamento do Tijolo Hub, além de falar mais sobre as diversas iniciativas do espaço.

Imobi Report: Como surgiu a ideia de formatar o Tijolo Hub? Para quem não conhece, é possível explicar de maneira resumida como funciona o hub?

Frederico Renner Mentz, idealizador do Tijolo Hub: Ele é formado por negócios que se associam ao Hub e recebem uma série de contrapartidas, divididas em três pilares: um de conhecimento, um de conexão e um de geração de negócios. Dentro de cada um desses pilares, temos uma série de eventos e atividades dedicadas.

O hub surgiu por conta de nossa experiência com consultoria e educação para o ramo de inovação. Fomos puxados pelo próprio mercado. Um dos nossos clientes era do mercado imobiliário e ele sugeriu a criação de um projeto de nicho para esse segmento. Era uma demanda latente.

Ao mesmo tempo, alguns dados nos ajudaram a tomar essa decisão, como uma pesquisa de Harvard que apontou que a indústria da construção civil ficava em penúltimo lugar em relação à inovação. Com esse respaldo, desenvolvemos o hub não só para a cadeia de construção civil, mas para o imobiliário como um todo, reunindo empresas focadas em vendas, insumos e uma série de outras questões.

Imobi Report: Chamam a atenção atividades como a entrega de trilhas de conteúdo e produção de um podcast próprio. O que está por trás dessas iniciativas?

Frederico Renner Mentz: Temos várias iniciativas ligadas a conteúdo. Produzimos o podcast TijoloCast, em que chamamos as empresas que estão conosco para falarem de seus projetos e do mercado. Temos também uma newsletter (Tijolada), que fala sobre o que acontece dentro do hub e no mercado imobiliário em geral. Produzimos também eventos presenciais, onde levamos conteúdos ligados ao mercado e promovemos o networking entre as empresas. 

Temos também alguns programas mais estruturados. Um deles é o Viga, focado na conexão entre as empresas associadas e as startups no ecossistema do mercado imobiliário. Esse programa é voltado para o matchmaking, ou seja, ele procura conectar dores do mercado com alguma solução que já está no mercado, aproveitando tecnologias desenvolvidas por startups. Esse programa funciona por temáticas, ajudando a atrair startups, contribuindo para que mais de 250 empresas desse tipo já estejam na base do Tijolo Hub.

Também vale destacar nossas comunidades de prática. São grupos que se reúnem com temáticas mais específicas. Cada empresa manda um representante com sinergia sobre o tema da vez para participar. Então, acontece uma troca bastante prática e aberta entre as empresas, com uma pessoa do Tijolo Hub fazendo a moderação desses grupos. 

E por último, acho que é bacana falar sobre o Tijolo Academy, que é o braço educacional lançado por nós. Nele, rolam cursos e conteúdos ligados a temas que detectamos por meio das empresas. O primeiro curso, por exemplo, foi o do “Corretor do Futuro”, que buscou trazer algo mais estruturado para o corretor, falando sobre tecnologia e comportamento.

Imobi Report: Hoje, no mercado, vemos diversas empresas concorrerem ao entregar soluções parecidas, como as esteiras digitais. Algumas das empresas presentes no hub possuem atuação de nichos próximos ou similares. Como o hub lida com este tipo de situação? De que forma essa convivência entre concorrentes pode ser produtiva?

Frederico Renner Mentz: É bem comum chegar este tipo de pergunta aos ambientes de inovação. Só que, em todos os hubs que participamos, sempre falamos que o ambiente é aberto e inclusivo. O hub é para que todos estejam presentes, sem restrições com concorrentes. Afinal, o mais interessante em um hub é justamente essa diversidade de empresas. 

Para lidar com isso, a estratégia é focar nos temas abordados nas trocas de experiências. Os participantes podem resguardar o core, a estratégia da empresa, mas ganham muito ao tratar de temas transversais que são de interesse de todos, gerando aprendizados mútuos entre todas as startups. O pressuposto é de que quem está dentro do hub vai ter sempre um diferencial competitivo contra quem está fora dele. 

Então, essa ideia sobre concorrência de que “eu tenho que ficar fechado no meu negócio, pois posso ter uma ameaça ao estar me abrindo” não procede, porque é justamente o oposto. É comum que quem não está participando não consiga enxergar isso.

A gente fala que o hub funciona muito como uma bússola, um radar que detecta sinais do mercado e tendências que estão acontecendo. O hub, então, traz esses sinais para que as empresas possam se preparar com antecedência para os novos movimentos. Tendo em mãos a possibilidade de antecipar acontecimentos, como podemos nos adaptar de forma rápida? Essa construção conjunta e saudável é a essência e principal mensagem do hub.