sentimento como ferramenta de gestão
Opinião

Sentimento não respeita horário comercial: identificar e expressar emoções também é ferramenta de gestão

Conflitos familiares, profissionais, brigas entre gangues e até cenários de guerra. Esses foram os ambientes nos quais o psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg estudou e mediou conflitos, que anos depois o levaram a sistematizar a Comunicação Não-Violenta (CNV). 

Quando questionado sobre o ambiente mais violento com que teve contato, surpreendentemente, ele afirmou que é o corporativo. Preocupante, não é mesmo? Lembrando que quando falamos da violência na perspectiva da CNV, não necessariamente nos referimos à violência física. 

De acordo com Marshall, o principal problema é que o mundo corporativo é o ambiente dos “não-ditos”. Somos levados a acreditar que o trabalho não é lugar para os nossos sentimentos. Como se pudéssemos deixá-los em casa. Como se a pessoa que vai ao trabalho e se relaciona com líderes, colegas, liderados e clientes tivesse outra personalidade em horário comercial.  

No ambiente profissional estamos sempre focados em desenvolver formas de pensar e de agir, até aí nada de errado. A questão é que negligenciamos o nosso sentir, o que nos afasta de nossas necessidades mais importantes. É como se elas deixassem de existir. E isso é insustentável. 

Segundo Marshall, a alienação dos nossos próprios sentimentos só nos causa sofrimento. Ao esconder ou ignorar o que sentem, as pessoas se afastam e os conflitos desnecessários surgem. Além disso, essas atitudes prejudicam a saúde emocional, o desempenho e a produtividade dos colaboradores de qualquer empresa. 

Neste artigo para o Imobi, o CEO da CUPOLA, Rodrigo Werneck, destaca a importância de dar espaço para que os colaboradores compartilhem como realmente estão se sentindo, atitude que faz toda diferença em um momento decisivo de liderança.

É aí que a Comunicação Não-violenta entra em cena, apoiando no estabelecimento de uma conexão humana nas relações que nascem no mundo corporativo. 

Nada e nem ninguém é capaz de nos causar um sentimento

Para criar esse espaço de expressão de sentimentos no ambiente de trabalho, primeiro precisamos entender como identificá-los e expressá-los. 

Marshall Rosenberg afirma que a maioria de nós ainda está em um estágio de educação emocional muito primitivo, somos verdadeiros “analfabetos emocionais”. Isso nos faz acreditar que são os outros ou aquilo que nos acontece os geradores dos nossos sentimentos. Contudo, a mesma coisa pode acontecer a duas pessoas e as reações serem completamente diferentes. Inclusive, a mesma coisa pode acontecer a nós mesmos em momentos distintos e termos reações diferentes. 

Quem nunca teve uma visita com o cliente desmarcada de última hora e ficou extremamente irritado, porque havia se preparado muito para aquele momento? Provavelmente, podemos ter julgado esse cliente como descomprometido, preguiçoso e por aí vai.  Mas quem também nunca ficou bastante aliviado, porque estava atrasado para fazer uma visita e o cliente desmarcou em cima da hora?

A responsabilidade pelo que sentimos é só nossa

É fundamental termos a clareza de que nosso sentimento diz respeito somente a nós mesmos e a nossas necessidades não atendidas. Da mesma forma, o sentimento do outro diz respeito a necessidades dele que estão, ou não, sendo atendidas. Ou seja, nada do que o seu colega de trabalho, líder, colaborador ou cliente disser é pessoal, lembre-se disso no momento de lidar com ânimos mais exaltados e procure investigar qual é a necessidade ali que não está sendo atendida.  

A Comunicação Não-violenta nos ensina que quando temos uma necessidade atendida vamos sentir coisas consideradas “boas”, como: conforto, satisfação, gratidão, otimismo, alívio, calma, relaxamento etc. Por outro lado, se nossas necessidades não estiverem sendo atendidas, provavelmente sentiremos coisas como: aborrecimento, incômodo, frustração, impaciência, irritação, angústia, tristeza ou cansaço. 

Entender o seu próprio sentimento e também tentar identificar o que o outro parece estar sentindo e precisando no momento de uma negociação com um cliente ou mesmo um feedback mais complicado para um colaborador, vai te ajudar a se comunicar de maneira mais empática e não a apenas reagir ao que o outro disser.

Entender que somos responsáveis pelo que sentimos, acredite, é libertador. 

A comunicação consciente é capaz de transformar o ambiente corporativo

Demonstrar que a sua empresa está atenta às necessidades e sentimentos de todos, escutar, compreender, deixar claro que se importa e fazer o possível para a atender a equipe é fundamental para um ambiente de trabalho mais acolhedor e, consequentemente, mais produtivo. 

Na CUPOLA, um dos nossos passos no sentido de reconhecer que todas as pessoas sentem e precisam de algo foi criar um programa contínuo de Comunicação Não-violenta, além de muitos outros investimentos em pessoas.

Sabemos que ainda há um longo caminho pela frente, mas que não o percorremos sozinhos.