Covid-19

“Seja mais inteligente na forma de atuar, não apenas cortando investimentos”, diz especialista

Desde o início da crise da Covid-19, o Imobi vem ouvindo especialistas do mercado imobiliário para entender os impactos e caminhos para o setor. Confira entrevista com Bruno Loreto, managing partner da Terracotta Ventures, primeira venture capital na América Latina focada em startups do setor da construção e do mercado imobiliário.

Como você lê o cenário atual pela perspectiva do imobiliário?

Eu tenho a visão que, evidentemente, o mercado imobiliário vai ser impactado, uma vez que você tem essa fase de lockdown e fica limitado para fazer transações imobiliárias. Assim, iremos ter uma queda expressiva no volume de negócios, especialmente na venda de imóveis. Olhando o cenário da China, por exemplo, houve um impacto acima de 30%, 40% de queda das vendas.

Mas acredito que este é um momento que tende a ser compensado mais adiante. A demanda por imóveis não é temporal e vai continuar existindo, vai apenas ter um descasamento de tempo. A curto prazo, talvez até a médio prazo, as empresas vão sofrer maior impacto, mas essas vendas em algum momento vão acontecer e o mercado vai retomar. A maior preocupação, para mim, são os profissionais ou pequenos empresários que vivem de prestação de serviços ou de demandas pontuais de curto prazo. Esse público vai ter uma situação de caixa bastante prejudicada.

Corretores que dependem muito de comissionamento, por exemplo, são uma classe que vai estar bastante desprotegida. Qualquer política que ajude esses públicos, tanto por parte das imobiliárias ou de outra iniciativa, seria válido. Já do lado da atividade construtiva você tem também os empreiteiros, os arquitetos, decoradores, que geralmente vivem de prestação de serviço e que também vão ser bastante prejudicados com o mercado parado. 

Quais inovações estão sendo demandadas desde o início da crise?

No momento de crise como estamos vivendo, acredito que o principal para toda empresa é conseguir gerar caixa e reduzir custo. Assim, qualquer iniciativa que consiga, mesmo diante deste ambiente, continuar promovendo geração de negócios, é bem vinda. Soluções que permitem às empresas reduzir custo, eliminar alguma ineficiência, também são oportunas. Apresentação virtual do imóvel, ferramentas que permitem e facilitam o contato digital entre o vendedor e o cliente são exemplos que facilitam o processo de contratação, mesmo que um pouco mais lento que o usual.

Como as proptechs podem se diferenciar no mercado neste momento?

O principal para uma proptech nesse momento de crise é ter soluções rápidas que gerem resultados rápidos. Não é o momento que as empresas podem esperar meses para coletar os resultados ou esperar que uma proptech desenvolva a solução com prazo grande. É a hora para proptechs que já têm um bom timing de mercado e geram retorno rápido. As scale up que estão na fase de produto mais robusto e o time mais maduro devem sair na frente.

Como as empresas mais “tradicionais” devem se portar em relação à inovação e a crise?

Do ponto de vista das empresas tradicionais, o primeiro comportamento natural é de medo, incerteza sobre o que está acontecendo e cortar gastos. Mas acredito que o ideal, neste momento, é mais do que evitar gastos. É importante ter inteligência de onde você pode reduzir custos e ineficiência e estar atento para oportunidades de investimento que alavanquem seus resultados.

Então, a recomendação que eu daria para as empresas: seja mais inteligente na sua forma de atuar, não apenas cortando investimentos que potencializam resultados. As empresas tradicionais precisam pensar bem sobre quais investimentos podem avançar e quais resultados podem obter. Assim, podem despriorizar e adiar projetos que não têm retorno tão claro até que a situação seja melhor definida.

Pode citar exemplos e tendências que você apostaria?

Acredito que o home equity é um mercado que vai se fortalecer. Já vemos fortes iniciativas neste sentido e vejo um fortalecimento do home equity pois, ao precisar de caixa, empresas ou pessoas físicas usam ativos para garantia de crédito barato. É uma alternativa e está em um momento de mercado bastante propício.

Modelos digitais de venda e locação de imóveis também devem se fortalecer. As pessoas estão evitando o contato físico e ficando dentro de suas casas. Negócios que estão ligadas a esse tipo de atividade tendem a ganhar tração, o que aumenta a pressão dos players tradicionais que ainda têm processo analógicos e ineficientes.

Ana Clara Tonocchi

Jornalista formada pela UFPR, com experiência também como assessora de imprensa, participa do Imobi desde a sua fundação. É uma das responsáveis pelos conteúdos do portal e pela newsletter do Imobi Report.

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