Covid-19

“Para continuar vivos, empresários devem entender o pós-Covid”, afirma CEO da Vitacon

No meio do lockdown, a Vitacon fez o lançamento online de um novo empreendimento na Avenida Paulista, em São Paulo. Conversamos com Alexandre Frankel, CEO da incorporadora, sobre como foi a experiência, além de outros assuntos, como coliving, iBuyer e os próximos passos do mercado.

IMOBI: Como foi para a Vitacon reorganizar sua operação para o período de isolamento?

Alexandre Frankel: A equipe se adaptou muito bem. Ando conversando com muitos empresários e vejo que o mercado também está se adaptando e se organizando. Claro, muda de setor para setor. Na Vitacon, montamos e nos dividimos em grupos de trabalho e formamos um comitê gestor para lidar com os assuntos importantes da crise. A equipe está em home office e a empresa continua funcionando a todo o vapor, tá dando para segurar bem todas as rotinas.

IMOBI: E como estão as obras?

Frankel: Como são ambientes abertos, as obras continuam. Estamos seguindo algumas determinações e precauções alinhadas ao sindicato e aos órgãos da saúde, como tirar temperatura na entrada dos canteiros de obras e focos de higienização em todos os pontos de passagem. Para garantir o distanciamento, dividimos as refeições em turnos e limitamos a concentração de pessoas por setor de trabalho.

Já fazíamos uso de EPIs e equipamentos de segurança obrigatórios, como luva e capacete, então implementamos o uso de máscara. Procuramos manter um ambiente protegido, com risco mínimo de contaminação. Além disso, estamos ajudando os colaboradores para não dependerem do transporte público. A continuação das obras e a prevenção adequada foi uma decisão acertada, tanto do governo quanto do setor e trabalhadores para manter os empregos.

IMOBI: Como foi desenhado esse lançamento digital?

Frankel: A gente vinha no processo de venda 100% digital há cerca de 3 anos, aprimorando nossos sistemas. Então já há muito tempo não trabalhamos com papel e contrato físico, já tínhamos esse trabalho totalmente digital. A gente tinha o entendimento de lançar justo na sexta-feira que entrou o lockdown em São Paulo. E ficamos na grande dúvida se ia sair a licença para venda e se deveríamos ir adiante, lançar. É um produto muito especial, que estava com uma demanda grande, na Avenida Paulista. A gente seguiu e já ultrapassamos 200 unidades vendidas. 

IMOBI: Como está sendo a experiência?

Frankel: Este foi um case bastante interessante. Acho que foi o último lançamento pré-crise no Brasil e atingimos esse índice realmente surpreendente. Mostra que o mercado continua resiliente apesar da preocupação e dos efeitos gerados pela crise da Covid-19, ainda tem um mercado importante e soluções criativas e adaptadas ainda funcionam muito bem. 

IMOBI: Vocês perceberam mudanças de comportamento nos seus clientes? Pensando em geração de leads e fechamento de contratos.

Frankel: Diminui. É óbvio que nesse momento de dúvida, todo mundo retrai. Todo o volume de vendas, numero de interesse. Mas por outro lado cresceram consultas, pessoal procurando conteúdo. Sinto que muita gente está com mais tempo e acesso a meios digitais, então vemos um comportamento de pesquisa e entendimento para uma futura compra aumentar. Por outro lado, o número de acessos ao site e leads quentes de interesse caiu.

IMOBI: Muito se fala sobre o coliving ser um problema em tempos de isolamento social. Como você lê isso?

Frankel: Existem vários níveis de coliving. Tem a modalidade que todo mundo coabita as áreas que dormem e áreas sociais. E tem o nível de coliving que é o que a Vitacon criou no Brasil, que a pessoa é proprietária de uma unidade menor, com banheiro, quarto, cozinha exclusiva e áreas comuns compartilhadas conforme ela queira. A pessoa tem opção, usa e frequenta quando e como quiser. O coworking, sala comunitária e esses equipamentos são utilizados conforme o interesse da pessoa.

Boa parte dos prédios fecharam ou limitaram o uso dessas áreas comuns, até porque o uso e a frequência diminuíram de uma forma abrupta. Ou até estão sendo usadas de outra maneira, com revezamento, por exemplo. Essa situação, sim, gerou uma diminuição do uso, mas o nosso produto permite essa dualidade. A pessoa pode optar por não usar as áreas comunitárias. Todos os nossos apartamentos têm ambientes onde se dorme, têm cozinha e banheiro. Tudo que é preciso no cotidiano é exclusivo.

IMOBI: Recentemente, a Vitacon anunciou um programa de iBuyer. Nos EUA, boa parte dos players da modalidade suspenderam as ofertas. Como está a operação da Vitacon?

Frankel: Por enquanto continuamos com a operação. Claro que as ofertas levam em consideração o momento, então essas propostas acompanham a liquidez do ativo. Dá pra ver que as pessoas ainda estão em um momento de paralisia, analisando a situação. Não sabem se querem vender, comprar, se vão fazer algo. Então não sentimos grande aumento do canal de iBuyer. Mas continua ativo e não pretendemos parar, muito embora a gente perceba que as pessoas ainda estão em um momento de indecisão e não estão tomando atitudes muito drásticas. 

“Para continuar vivos, empresários devem entender o pós-Covid”, afirma Alexandre Frankel, CEO da Vitacon. (Arte: Juliana Amorim)

IMOBI: Que impactos você já consegue ver no horizonte, pensando no mercado imobiliário brasileiro?

Frankel: Tenho uma leitura de São Paulo, que vinha em uma recuperação muito forte nos últimos meses e muitas empresas conseguiram vender, se capitalizar, e estava em um momento bom, e é uma praça mais segura. Agora, o resto do Brasil ainda não teve essa recuperação. As empresas estavam se preparando agora, depois de uma longa e dura crise, para voltar ao mercado e foram atingidos por esse fato inesperado. 

Pelo lado de empresa, vai ser um período duro. Muitas vão ter algum tipo de dificuldade. Por parte do consumidor, acho inevitável que tenham impactos em renda e rendimento. As pessoas devem buscar algumas medidas alternativas. Vejo um aumento muito grande no aluguel. E devemos ver uma curva ascendente no retorno dos compradores e investidores gradativamente, para todos os mercados.

IMOBI: Como você vê o movimento dos investidores?

Frankel: O favorável dentro desse cenário é que muita gente aprendeu que investimento de risco, como Bolsa, outros tipos de ativos e fundos, de fato apresentam riscos. Isso favorece o imóvel como algo mais seguro e as pessoas aprenderam isso de uma maneira não tão suave. A residência é primeira necessidade, uma despesa que não dá pra simplesmente deixar de pagar, por isso é um ativo tão resiliente.

E a baixa nos juros, que está na faixa de 3,75%, é muito favorável para que as pessoas que ainda têm capital, conforme a confiança vá voltando, retornem para a atividade imobiliária de uma forma acelerada.

Então, cessou esse pico agudo da doença, vejo tudo voltar de maneira bastante rápida. Claro, ainda há consequências, mas vejo uma aceleração por conta de todos os parâmetros econômicos que favorecem a retomada. Vamos encontrar um caminho interessante de retorno da economia e estamos torcendo para que os efeitos sejam baixos e que fique controlado.

IMOBI: E como seguir no momento pós-crise?

Frankel: O digital nunca foi tão importante. Você vê pessoas e empresas que nunca tinham feito nada, sequer tinham cadastro de venda digitais que acabam sofrendo muito mais. Outro ponto importante de entendimento é ficar atento aos impactos de hábitos e efeitos pós-crise. A moradia vai ser bastante impactada, assim como outros setores. O ambiente de trabalho, a correlação com a residência, o home office, as entregas vão mudar. Cabe entendimento para poder se adaptar ou atualizar alguns modelos para o momento pós-crise. Os empresários que querem estar vivos e continuar progredindo após esse momento têm que dedicar uma parte do seu tempo para entender o pós-Covid e como vamos ficar.

Tags:

Ana Clara Tonocchi

Jornalista formada pela UFPR, com experiência também como assessora de imprensa, participa do Imobi desde a sua fundação. É uma das responsáveis pelos conteúdos do portal e pela newsletter do Imobi Report.

Ver artigos

Seja o primeiro a comentar!