Imobi Report

Pandemia coloca unicórnios em quarentena

Se tem uma espécie ameaçada de extinção com a quarentena, são os unicórnios. Ao que tudo indica, nem as startups avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares vão conseguir escapar ilesas, como aponta ampla reportagem da Exame. A avaliação é de que, em meio à crise, fique mais difícil (ou até impossível) encontrar novos unicórnios por aí. 

A derrocada das startups bilionárias teria começado já no ano passado, com o case da WeWork, cuja oferta pública inicial era das mais aguardadas. Acompanhamos quando o IPO frustrado levou ao prejuízo seu maior investidor, o SoftBank. Com a Covid-19, os investidores, que já estavam cansados de esperar para ver balanços no azul, não estão mais dispostos a se arriscar tanto. Soma-se a isso a própria retração da economia como um todo, que fez com que os unicórnios também apresentassem queda de faturamento, assim como inúmeras outras empresas.

Na avaliação da Exame, as startups brasileiras podem sofrer impacto menor do que outras, pois nunca contaram com tamanha disponibilidade de capital. Ainda assim, estão se virando como podem para sobreviver, adotando novas práticas, como o home office – mesmo para quem tinha acabado de inaugurar – e investir pesado em – uma nova sede, como é o caso do QuintoAndar.

Saem os unicórnios, entram os camelos. O choque de realidade fez parte dos investidores, tão afeitos a neologismos, encontrar logo um substituto para o fabuloso unicórnio. “Os negócios iniciantes terão de se transformar em um animal mais parecido com o camelo, capaz de passar longos períodos sem beber água”, comenta a reportagem da Exame sobre artigo do investidor Alex Lazarow, do fundo Cathay Innovation, que viralizou no mês passado (em inglês).

Falando em unicórnios, o QuintoAndar lançou duas linhas de crédito, para apoiar seu ecossistema de parceiros. Com o valor total de R$ 4,5 milhões, as linhas vão permitir que corretores, fotógrafos e imobiliárias que atuam com a empresa possam pedir antecipação de seus ganhos mensais. 

E ainda sobre startups brasileiras: o Imobi entrevistou Pablo Ramirez, CEO, e Robson Madalosso, COO e CFO da Hauseful. A empresa de serviços imobiliários passou a oferecer visitas remotas em março, com a início do isolamento social. Na matéria, Pablo e Robson comentam como essa modalidade deve vir a ser mais uma etapa na jornada do consumidor imobiliário, alinhada com uma tendência de consumo que cada vez mais soma experiências físicas e virtuais.

Uma das novas empresas que mais sente a crise do coronavírus é o Airbnb. Na semana passada, anunciou a demissão de 25% de seus 7.500 funcionários, devido ao impacto sofrido pela plataforma com o cancelamento das viagens ao redor do mundo. Em carta aberta divulgada para anunciar demissões, o CEO da companhia, Brian Chesky, disse que há estratégias para deixar as rescisões menos dolorosas e dá dicas para outros gestores de como fazer isso.

Mas, apesar do corte na equipe, o cenário pode mudar. A flexibilização da quarentena na Europa começou a mostrar sinais de recuperação para a plataforma. Isso pois o Airbnb observou aumento nas reservas para os feriados de final de ano, como Natal e Ano Novo.

Imobiliárias

A “maior imobiliária do mundo” deve se abrir para as plataformas. A Câmara dos Deputados aprovou a medida provisória que facilita a venda de imóveis da União. A MP permite que qualquer interessado apresente propostas de compra, que inclusive podem ser intermediadas por corretores. O texto está para ser aprovado pelos senadores ainda neste mês. Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, o país tem mais de 1 trilhão de reais em ativos imobiliários.

Em São Paulo, o Secovi liberou um levantamento sobre a compra de imóveis em abril, primeiro mês inteiro em isolamento social no estado. A queda foi de 65%, com maior impacto nos empreendimentos de médio e alto padrão. Além disso, os lançamentos adiados na região metropolitana de São Paulo somam um VGV de 1,5 bilhão de reais.

Segundo o Índice FipeZap do último mês, o preço médio dos imóveis residenciais subiu em 0,2%, comparado a março.

Com o aumento nos pedidos de negociação de contratos de locação e nos inadimplentes, proprietários passam a priorizar suas garantias locatícias. Para tratar sobre essa tendência no mercado de seguros imobiliários, o Imobi conversou com Flávio de Baère, Diretor Executivo da CSI Seguros.

Na última semana, a CUPOLA promoveu o Aluguel Bootcamp, uma série de conteúdos ao vivo sobre locação de imóveis, conduzidos por consultores da CUPOLA. Foram tratados cinco temas: captação, plataformas (CRM e ERP), garantias locatícias, relacionamento com locadores e locatários, e fechamento comercial. Para quem não pode acompanhar, o conteúdo pode ser encontrado na íntegra e gratuitamente aqui.

Outra novidade anunciada na semana passada foi o lançamento da plataforma #TodosPorTodos, do Grupo ZAP, que pretende ajudar o ecossistema imobiliário durante a crise do coronavírus. A nova plataforma permite que os usuários tenham acesso a benefícios exclusivos para o período da pandemia e conteúdos gratuitos da empresa. O Grupo ZAP, que é um dos CUPOLA Partners, também irá oferecer conteúdos da CUPOLA na plataforma. 

E para colocar na agenda: amanhã, às 19h, no Instagram da CUPOLA, o CEO Rodrigo Werneck e Carolina Brun, gerente de Gente e Comunicação da Casarão Imóveis, tratam sobre recursos humanos no imobiliário: a base para os resultados.

Incorporadoras

Um decreto do Governo Federal passou a considerar a Construção Civil como serviço essencial no país. Isso significa que a categoria tem que continuar obedecendo às recomendações do Ministério da Saúde, mas não pode ser paralisada pela quarentena. As startups também foram liberadas por decreto, mas suas equipes não devem regressar para os escritórios, por enquanto.

Logo antes do decreto, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgou uma sondagem sobre a construção civil em março, classificada com 28,8 pontos. Os valores abaixo de 50 pontos são considerados retração (o indicador varia de 0 a 100). Segundo a instituição, é uma queda “muito intensa e disseminada”.

Uma reportagem da Veja destaca que 88% das obras no país continuam ativas, mas questiona: a internet vai dar conta da demanda? Entre os entrevistados da reportagem, Abrão Muszkat, CEO e fundador da You, Inc, cujo IPO deveria sair esse ano e foi adiado, afirma: “A venda digital representa 30% do nosso faturamento. Isso se manteve, mas é um limite. Não vejo como aumentar esse índice porque as pessoas, quando vão comprar um imóvel, querem saber onde o sol nasce, como é a varanda, mesmo que você tenha o tour virtual”. 

Já a Abecip sugere dois cenárioso primeiro é que, com o apoio do governo, a renda das pessoas e o crédito para o imobiliário sejam mantidos. Assim, o setor continua em crescimento, como era observado antes da pandemia. Já o segundo cenário é que a renda das pessoas permaneça menor por mais tempo e muitas empresas não suportem financeiramente.

Um levantamento da LCA Consultores sugere que o PIB da Construção Civil deve sofrer uma queda entre 5% e 10% em 2020. Antes da crise sanitária, a previsão era de crescimento. O Ibre/FGV concorda e estima uma queda de 7,2% no setor. Já a Tendências Consultorias é mais positiva: ainda espera uma queda, mas de 3,9%.

O EInvestidor, caderno sobre investimento do Estadão, entrevistou uma série de especialistas em fundos imobiliários sobre as perspectivas do investimento durante a pandemia. Um dos entrevistados, da Veedha Investimentos, afirma que os fundos de laje costumam ser mais estáveis por terem contratos longos e com grandes empresas: “Ainda que ocorram demissões, não vislumbro um impacto tão negativo. A AmBev vai continuar na sede dela no Itaim: se ela cortar 10% da força de trabalho, não vai devolver 10% do espaço”. Outros especialistas também reforçam que o desempenho de cada FII depende da vacância e da localização dos imóveis. Zonas comerciais antigas e regiões centrais costumam ter comércios menores e menos estáveis, que podem não sobreviver à crise.

Em 2014, a MRV lançou a plataforma Mão na Roda, mas com a ascensão da pandemia, decidiu atualizar o sistema. Na plataforma, proprietários e clientes da incorporadora podem divulgar seus trabalhos, serviços e produtos. Até então, já conta com 14 mil cadastros no site.

Famílias que moravam no prédio Wilton Paes de Almeida, que desabou há dois anos, ainda estão desabrigadas – e moram em favelas, cortiços e ocupações, aumentando a transmissão da Covid-19. A prefeitura anunciou que construirá um prédio com moradias sociais no terreno e, quando questionada, informou que “os antigos moradores entraram no auxílio-aluguel para aguardarem atendimento habitacional definitivo”.

Que tal receber a nossa newsletter diretamente na sua caixa de entrada, toda semana? Assine o Imobi Report. É grátis!

Depois de quase três meses após primeiro caso de coronavírus no Brasil, os impactos sociais da pandemia e do isolamento ficam mais evidentes. Uma pesquisa da CNI lançada em maio aponta que quatro em cada dez brasileiros teve perda total ou parcial da renda.

Ainda no início desse mês, foi publicada a PNAD 2019.Entre os dados, revela-se a preferência dos brasileiros por casas: 85,6% moram neste tipo de residência. A maioria dos imóveis são próprios, quitados. Ainda segundo a pesquisa, o Mato Grosso do Sul é o estado brasileiro com mais pessoas que moram “de favor”. Em todo o território, 0,2% dos respondentes moram em cortiços ou invasões. Parece pouco, mas equivale a 126 mil imóveis.

Já tratamos sobre isso, mas vale lembrar: um dos maiores problemas na propagação do coronavírus no Brasil é que muitas famílias dividem domicílios e, inclusive, dormitórios. O G1 traz um pesquisador explicando como o adensamento excessivo faz com que os bairros mais populares de Salvador sejam os mais afetados.

Ainda: é óbvio, para praticar o isolamento, as pessoas devem ter casas para morar – e 12% da população brasileira não têm casa adequada. Este dado é de uma matéria da UOL tratando sobre o déficit habitacional brasileiro e como a moradia digna deverá ser prioridade para refazer as cidades com o fim da pandemia.

Mundo

5 mil nova iorquinos manifestaram que não vão pagar o aluguel em maio. Um dos pontos mais contaminados pela Covid-19 nos Estados Unidos, NY sofre com uma greve geral de inquilinos que não querem e/ou não podem arcar com seus aluguéis. Donnette Letford, uma das manifestantes, é imigrante e não tem direito ao auxílio emergencial que o governo americano oferece. Em um e-mail para o grupo “Comunidades pela Mudança”, pedindo adesão à greve, escreveu: “estamos todos a apenas um passo – seja ele [provocado por] ficar desempregado ou sofrer uma emergência médica – de perder nossa moradia”.

A pandemia da Covid-19 está evidenciando problemas sociais em todo o mundo. Em Genebra, na Suíça, uma fila para receber kits com arroz, feijão, macarrão, café, entre outros alimentos de forma gratuita, chegou a 1,5 km, com mais de 2.000 pessoas.

Estamos de Olho

Em entrevista para a Valor Econômico, Peixoto Accyoli, presidente da Remax Brasil analisa as grandes mudanças que o imobiliário deve passar. Entre elas, trata sobre a possibilidade do home office perdurar e acredita que as plantas das novas unidades devem ser revisadas, levando em consideração que um casal possa trabalhar mais da metade do tempo em casa. Também aponta a reavaliação da necessidade de espaços corporativos: “O mercado imobiliário passará por uma transformação gigante, nunca vista. Hoje, me pergunto se faz sentido alugar 800 metros quadrados na rua Estados Unidos [na região nobre dos Jardins, em São Paulo] para ter minha sede. Isso faz sentido, do ponto de vista do negócio, na nova sociedade?”, afirma. 

Ele não é o único com essa visão. O mega investidor Warren Buffett afirmou, em uma live sobre investimento, que as pessoas estão aprendendo a trabalhar remotamente, a começar por ele próprio. Então, as empresas podem vir a diminuir seus escritórios e aderir a políticas flexíveis que reduzam o uso de um espaço físico. Buffett também aponta que o varejo pode não se recuperar da crise – não no formato que se espera. Isso pois o padrão de consumo das pessoas está mudando radicalmente, com ênfase no consumo de produtos e serviços de forma online.

Ainda sobre mudanças de comportamento: atire a primeira pedra quem não mudou o sofá de lugar, pintou uma parede ou fez alguma pequena alteração em casa durante a quarentena. Frequentar tanto sua própria residência está acelerando pequenas reformas feitas pelos moradores. Esta reportagem aponta que o aumento por produtos para pequenos reparos chega a representar 70% das vendas do comércio em algumas cidades. É só procurar a hashtag #diydecor no Instagram que você já encontra mais de 700 mil publicações com dicas sobre o assunto.