COP26
Opinião

O que a COP26 tem a dizer ao mercado imobiliário

Representantes do mundo todo se reuniram durante outubro e novembro para redefinir parâmetros fundamentais a respeito da emissão de poluentes e o futuro do aquecimento global. Apesar de pouquíssimo comentada nos núcleos do nosso setor imobiliário, a COP26 tem muito a nos alertar sobre os rumos deste mercado, que precisa deixar de se ver apenas como coadjuvante nas ações pela melhoria do meio ambiente.

O Brasil é o quinto país que mais emite gases poluentes. Na ordem de emissões, está atrás dos EUA, China, Rússia e Índia. Por outro lado, temos a maior floresta tropical do planeta, a Amazônia, um potente sumidouro de carbono, mas que devido ao desmatamento acelerado na última década, já emite mais CO2 do que consegue absorver.

No contexto imobiliário, as missões do setor de construção civil atingiram recordes em 2019, segundo relatório da ONU e são responsáveis por 38% de todas as emissões de CO2 relacionadas à energia. 

Após me surpreender pelas poucas manifestações sobre o reflexo da conferência mundial do clima no imobiliário, questionei alguns empresários do mercado, com exclusividade para a Imobi Report, sobre como os debates da COP26 influenciam – ou deveriam – nos influenciar.

“Todas as discussões sobre o local onde vivemos – as cidades e os bairros – são impactadas diretamente nosso setor. Pensar em uma cidade melhor para viver vai muito além de apenas construir empreendimentos. Buscar diminuir os impactos negativos durante o ciclo imobiliário e aumentar os impactos positivos na comunidade é uma prática e pilar fundamental em nosso manifesto de impacto”, diz André Czitrom, CEO da Magik JC, uma rara empresa certificada pelo Sistema B neste segmento.

A influência dos debates vai além das cidades e também diz respeito à forma como os edifícios são construídos e operados, afirmou Francine Vaz, fundadora da Seed Solution, consultoria de sustentabilidade. “O setor deveria discutir a descarbonização das edificações – (criação de edificações mais eficientes, edificações net zero), a promoção de cidades mais resilientes e menos dependentes de carros para auxiliar nas ações climáticas”.

Mesmo sem grande repercussão recente, a indústria imobiliária há muito tempo discute a diminuição da emissão de CO2, assim como o uso racional dos recursos naturais. Com relação à COP26, explica: “fomos signatários das propostas do Governo do Estado de São Paulo através das ações do “Race to Resilience” e “Race to zero”. Dentre as propostas que levamos está zerar o desmatamento irregular e clandestino. Isto porque, no Estado de São Paulo, através das Normas Resolução SMA 80/2020 e SMA 07/17, já foi determinado que em caso de supressão de vegetação, os empreendedores compensem e mitiguem, revegetando mais do que cortam. Portanto, a somatória é positiva em termos de florestais” analisou Caio Portugal, empresário do ramo de loteamentos, vice-presidente de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente no SECOVI (Sindicato da Construção Civil) e presidente na AELO (Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano do Brasil).

Um assunto de tamanha complexidade envolve empresas, empresários e instituições do imobiliário. Questionados sobre os papéis que assumimos frente ao tema, Ciztrom foi categórico ao afirmar: “nosso dever vai além do empresarial. Nosso dever é pessoal. Trazer a discussão para dentro das empresas contribui para que aumentemos essa espiral de um movimento positivo”.

Para Caio Portugal, a construção de novos paradigmas é o papel das empresas e empresários. “Se analisarmos o quanto a indústria imobiliária se reinventa, e como a questão ambiental é estruturante para esse segmento econômico, temos certeza que será um exemplo dessa nova economia verde”, aponta.

Já para Francine, o papel das empresas e empresários é de “se engajar nas ações climáticas e incorporar no seu processo construtivo novas formas de construir, que tragam maiores benefícios ambientais em todo o ciclo de vida da edificação, desde o projeto, passando pela construção e finalizando na operação e manutenção do empreendimento.” 

Ainda há muito a ser feito, especialmente quando tomamos conhecimento da meta para aquecimento global até 2026 e onde nos encontramos hoje. 

Na visão de Portugal, “as maiores deficiências estão no sistemas de comando e controle das políticas públicas” e por se tratar de uma indústria que constrói qualidade de vida por meio de seus empreendimentos e prestação de serviços, “se não incorporar como valor importante a questão da poluição, e as mudanças climáticas, essa indústria não cumpre seu papel, e, portanto é desacreditada pela sociedade em geral”.

Trata-se de um assunto urgente e que diz respeito a todos nós, mesmo que não esteja sendo comentado. 

É preciso fazer o certo, mesmo quando ninguém esteja olhando.

Elisa Tawil

Idealizadora e co-fundadora do movimento Mulheres do Imobiliário, LinkedIn Top Voices, colunista no blog Revista HSM (Empresas Shakti), idealizadora e host do podcast Vieses Femininos.
Consultora estratégica para o Real Estate e mentora de negócios.