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Opinião

Muito além do TTI: o corretor que os robôs não vão substituir

O clima na Floresta era de velório no dia 9 junho de 2009. Floresta era como chamávamos o câmpus de Comunicação Social da UFPR.  É que neste dia, por oito votos a um, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram que o diploma de jornalismo não seria mais obrigatório para exercer a profissão.  

Eu estava no segundo ano da graduação, tive muitas dúvidas sobre como a decisão do STF afetaria meu futuro profissional, mas nunca deixei de acreditar o quanto a formação acadêmica era importante. Continuei o curso, quando muitos decidiram sair e até mudar de profissão. Me formei em 2011.

Em 2020, 9 anos depois de receber aquele diploma de jornalista, estou finalizando um curso que talvez nunca tenha passado pela minha cabeça: Técnico em Transações Imobiliárias. Fazer o TTI (que, aliás, minhas sócias também estão cursando) é parte da busca da CUPOLA por conhecimento profundo sobre o mercado imobiliário, para entender os principais desafios das imobiliárias e outras empresas do setor. Entre eles, justamente a formação do corretor de imóveis. 

Diferente do jornalismo, você não pode exercer a profissão de corretor se não for diplomado. A profissão é regulamentada pela Lei Federal nº 6.530 de 1978, que diz que para exercer a função é preciso possuir o título de Técnico em Transações Imobiliárias. Até aí, eu não poderia concordar mais. 

O corretor de imóveis tem nas mãos uma grande responsabilidade e é um profissional que precisa de formação. Penso o mesmo sobre o jornalista, mas isso é tema para outro artigo.

O meu questionamento é sobre o quanto o TTI, como é ofertado hoje, realmente prepara alguém para atuar como corretor. Estou quase no fim do curso e, sinceramente, tenho dúvidas se ele é suficiente para a preparação de um profissional que atuará em um mercado tão competitivo como é o imobiliário. Isso pra não mencionar o contexto VUCA – volátil, incerto, complexo e ambíguo – que vivemos.

Não vou generalizar aqui, pois posso acabar cometendo uma injustiça com alguns cursos e escolas, mas com base na minha experiência e na de corretores com os quais já conversei a respeito, o curso é bastante defasado. 

Entendo também que, na corretagem, assim como em qualquer outra profissão, muito se aprende no dia a dia, por meio de tentativa e erro, empiricamente mesmo. Vejo ainda o benchmarking como uma prática bem importante. 

Mas o conhecimento teórico, não tem jeito, é fundamental. Quando conhece a teoria, o profissional não só utiliza determinada técnica como também sabe como ela surgiu, como foi testada e porque vale a pena. O objetivo da teoria, eu entendo, é que o profissional tenha uma visão plural não só da profissão, mas do mundo.

Logo, entendo que é preciso ter a clareza de que o TTI, mesmo que possa ter sua grade aprimorada, é apenas o início de um caminho longo para o corretor de imóveis. Como foi pra mim aquela graduação em jornalismo em 2011. A partir dele, o corretor deve buscar desenvolvimento contínuo. Não só em cursos, mas em livros, vídeos, podcasts e inúmeras outras fontes de conhecimento que temos à disposição.

As áreas de conhecimento que fazem diferença na atuação de um corretor de alta performance são inúmeras. Mas pelo que observo no mercado, diria que o mais promissor para os corretores é desenvolver as competências chamadas de soft skills. O termo não se refere a habilidades “suaves” ou “leves”, mas aquelas que lidam com a relação e interação com outros.

O tema não é novo, mas pouco explorado na prática. O psicólogo e autor do best seller Inteligência Emocional, Daniel Goleman, é um dos inúmeros especialistas que defendem a importância das soft skills. Em 2015, ele escreveu um artigo dizendo que “habilidades como resiliência, empatia, colaboração e comunicação são todas competências baseadas na inteligência emocional e que distinguem profissionais incríveis da média”. 

Em um tempo onde tanto se fala a respeito do futuro do corretor de imóveis e sobre a suposta diminuição da importância desses profissionais com o avanço da tecnologia, minha provocação é essa: focar nas habilidades que as máquinas não vão substituir. 

Lembrar que o mercado imobiliário é feito de pessoas para pessoas. Robô algum terá a mesma capacidade de conexão com o cliente que um bom corretor pode ter.  Já comentei aqui neste outro artigo que empatia não é um dom e sim uma habilidade. Portanto, assim como as demais soft skills, ela pode ser desenvolvida. E como qualquer outra habilidade, é preciso estudo, prática e dedicação, acima de tudo. 

Com as constantes transformações que a tecnologia traz para o nosso setor, determinadas habilidades técnicas se tornam ultrapassadas muito rápido. Por isso, profissionais que querem se manter competitivos e em constante crescimento devem manter-se em formação. O mercado imobiliário é altamente dinâmico e competitivo. Nesse contexto, é preciso  ter a clareza de que o aprendizado é um processo contínuo e interminável. Não existe linha de chegada, não existe profissional pronto, mas existem aqueles que inteligência artificial nenhuma vai substituir.