Influenciadores do imobiliário relatam realidade complexa e desafiadora
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Influenciadores do imobiliário relatam realidade complexa e desafiadora

Uma nova geração de celebridades se revela nos feeds intermináveis das mídias sociais. Eles têm a habilidade de cativar audiências, moldar tendências culturais e influenciar decisões de compra. Entretanto, por trás de todo glamour aparente, existe uma realidade complexa e desafiadora que muitos desses influenciadores enfrentam diariamente. Nela, coexistem os efeitos relacionados à grande exposição e a pressão exercida pelas determinações algorítmicas. 

De acordo com uma pesquisa da plataforma Criadores ID, 81% dos influenciadores se sentem pressionados a produzir novos conteúdos para manter a audiência. Além disso, 22% deles possuem transtorno de ansiedade e 6,4% depressão. Os influenciadores do setor imobiliário não são exceção e também sofrem com os efeitos relacionados ao trabalho na internet. A seguir, confira o que Ricardo Martins, Sophia Martins e Guilherme Wohlke falam sobre o assunto.   

Mais tempo para a família

Recentemente, a movimentação profissional e pessoal de um influenciador do mercado imobiliário ganhou repercussão. Com participação em uma das maiores imobiliárias do Brasil, a My Broker, Ricardo Martins decidiu dedicar mais tempo à família, abandonando a sociedade na empresa e reduzindo o tempo de produção de conteúdo. Com isso, Martins ofereceu um outro ângulo sobre os desafios enfrentados nos bastidores das redes sociais. 

Martins revela que a pressão dos algoritmos das mídias sociais é constante. De acordo com ele, uma vez que você ganha destaque, você fica escravo do negócio. “Você precisa se atualizar com frequência e estar sempre produzindo. Você nunca para. Você perde a noção de que horas você está trabalhando e que horas você está tendo vida social”, conta. 

A incessante demanda por conteúdo fresco e relevante coloca os influenciadores em um ciclo de produção constante, muitas vezes às custas da saúde mental e bem-estar emocional. Quando questionado sobre o aspecto emocional de sua jornada nas redes sociais, Martins reflete sobre o custo da exposição. “Quando você decide ir para a internet, você tem que estar disposto a aceitar a rejeição. Os haters ganham força na internet e falam coisas que jamais falariam pessoalmente. A pessoa que se expõe tem que estar preparada para aguentar pedradas”, salienta.  

Ele compartilha sua própria experiência  em lidar com críticas e ódio online. “É um processo. Às vezes, eu respondo os haters com humor. Mas é preciso aprender a ignorar. No começo, é muito difícil”, explica. Apesar dos aspectos negativos, Martins avalia que o trabalho junto às redes vale a pena. “Quando o assunto é corretagem, com certeza é a forma mais fácil de produzir resultados em vendas. Porém, não é indispensável”, pondera.

Um trabalho pelos outros

Outro influenciador que recentemente deixou a imobiliária na qual possuía participação foi Guilherme Wholke. Ele era sócio da Imobille Negócios, uma das maiores de Balneário Camboriú, em Santa Catarina. No início de março, ele assumiu carreira solo como corretor de imóveis, também com o objetivo de focar na área de educação, a qual ele considera uma missão. “Fazer trabalho mal feito não é uma opção para mim. Eu não estava conseguindo dar a atenção que a imobiliária exigia. Por isso, fiz uma escolha para focar naquilo que gosto e que tenho como propósito”, ressalta.

No caso de Wohlke, as mídias sociais continuam a ser uma estratégia relevante para o seu reposicionamento. Ele destaca que as mídias sociais exigem uma dedicação e uma frequência de publicação grande. “A postagem diária é uma necessidade. É preciso frequência, ter a consistência de aparecer todos os dias. E nem todos os dias você está animado ou motivado, mas a audiência sente falta. Você precisa lembrar que está fazendo um trabalho pelos outros”, relata.

O corretor conta que desenvolveu táticas de publicação para determinadas oscilações de humor, natural para qualquer ser humano. Assim, ele concilia a rotina de posts com o seu estado emocional. “Quando estou sem paciência, por exemplo, são os dias adequados para a abertura da caixinha de perguntas, já que as respostas serão mais assertivas”, exemplifica.

De acordo com Wohlke, o autoconhecimento contribui para o trabalho junto às mídias sociais. O profissional possui formações como coaching, PNL (programação neurolinguística) e análise comportamental. Ele defende que é preciso entender que as mídias sociais acabam sendo uma extensão da vida, não apenas trabalho. “As pessoas querem fazer parte da sua vida. Então, você precisa escolher quais janelas da sua vida você vai mostrar”, salienta.

Em relação à exposição proporcionada pelas mídias sociais, ele afirma que aprendeu a lidar com isso. Embora se considere tímido, ele ressalta que é frequentemente abordado por seguidores que querem tirar fotos ou conversar com ele. Além disso, tenta não se abalar com ataques de haters. “Quando aumenta o nível de exposição, também aumenta a quantidade de pessoas que gostam ou não de você. Eu percebo que as agressões são maiores quando você está vendendo algo. Talvez seja uma inveja ou frustração escondida”, avalia.  

Wohlke diz que, no começo, importava-se mais com comentários e repercussões negativas. Entretanto, atualmente, ele tenta não alimentar emoções negativas, que podem impactar a sua saúde. O profissional, que passou por uma crise de Burnout aos 23 anos, acredita que o seu estado emocional influencia diretamente na sua vida e nos seus resultados. “Eu faço um exercício de me afastar da situação e ver como ela é irrelevante para a minha vida e para minha história. Hoje, eu consigo não me importar”, recomenda.    

Desafio Gratificante

Assim como acontece no caso de cantores, atores e outros profissionais sujeitos a grande exposição, os influenciadores têm sua privacidade comprometida. Além disso, existe a constante cobrança dos seguidores, que se sentem no direito de tecer críticas, não apenas sobre o conteúdo, mas também a respeito de características físicas dos influenciadores. A pressão é tamanha que não são incomuns os casos de influenciadores que abandonam o seu trabalho.  

Mas para Sophia Martins, que partiu de cliente insatisfeita para referência no mercado imobiliário, as questões são encaradas de maneira positiva. “Lidar com a exposição pode ser desafiador, mas também gratificante. Busco manter uma postura autêntica e transparente, compartilhando não só os sucessos, mas também os desafios e aprendizados estrategicamente, dentro do contexto do meu negócio. Isso fortalece minha conexão com a audiência”, comenta.

Apesar disso, manter-se relevante não depende apenas do próprio talento. Os algoritmos definem o que será exibido, prejudicando a autonomia criativa e forçando os produtores a criarem conteúdos dentro de métricas e tendências. Também há a cobrança por frequência e interações, que demandam tempo e esforço dos responsáveis pelos perfis. Alguns influenciadores contratam assessores para auxiliar nessa parte. Sophia optou pela tecnologia. “A inteligência artificial já impacta o mercado imobiliário de diversas formas. Na minha perspectiva, a IA ainda vai impactar ainda mais, principalmente na interação com os seguidores, oferecendo respostas mais rápidas e precisas e ajudando a personalizar a experiência do cliente”, prevê.

Riscos à saúde  

Os efeitos dessa pressão exercida pelas determinações algorítmicas podem variar, a depender de aspectos genéticos, socioeconômicos e comportamentais. O medo das penalidades, atrelado aos parâmetros exigidos pelas plataformas, pode resultar em esgotamento. “Estar nessa posição pode ser muito ansiogênico, estressante e exaustivo, o que pode ter relação com a alteração da percepção de si mesmo, da própria capacidade e diminuição da criatividade. Pode haver a sensação de ‘estar se perdendo’, o que também pode estar ligado à baixa autoestima”, ressalta a psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental e neurociências, Amanda Kulik. 

Outro elemento das mídias sociais que afeta o psicológico é o sistema de avaliação, seja por comentários ou reações. Opiniões negativas podem gerar sentimento de fracasso ou incapacidade, provocando uma reação de autocobrança. Por outro lado, elogios poderiam tornar o produtor de conteúdo refém de demandas públicas. Isso também nem sempre é bom, pois prejudica a autonomia criativa e, em alguns casos, resulta em situações constrangedoras ou perigosas.

Diante desses riscos, é necessário avaliar se ocorreram mudanças no comportamento, sentimentos e pensamentos, analisando o grau de sofrimento e prejuízo no cotidiano. “É importante observar se houve alteração no tempo de sono, na prática de atividade física, no padrão alimentar, no convívio com amigos e familiares e se existe medo de sofrer penalidades da plataforma por tirar férias ou estar offline por um tempo”, destaca Amanda.

Se de um lado estão os influenciadores, moldando padrões de consumo, do outro está o público, aprovando ou rejeitando comportamentos e opiniões. Na base, também estaria a rede social, definindo e redefinindo parâmetros de atuação. Para Amanda, trata-se de uma situação complexa. “Além da determinação de limites e tempo de dedicação ao trabalho, é necessário adotar e manter hábitos saudáveis e buscar profissionais de saúde mental quando necessário. Os influenciadores são trabalhadores da informação e é crucial lembrar do papel que as plataformas e o público ocupam”, defende.

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