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Coliiv promove “match” entre usuários de moradia compartilhada
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Coliiv promove “match” entre usuários de moradia compartilhada

03 mar 2021
Ana Clara Tonocchi
Ana Clara Tonocchi
9 min
Coliiv promove “match” entre usuários de moradia compartilhada

Resumo

A proptech Coliiv se propõe a dar match entre possíveis moradores de uma moradia compartilhada. Confira nossa entrevista com as fundadoras.

Esqueça a ideia de república: quando falamos de coliving, falamos de moradia compartilhada entre adultos. A motivação é variada: o desejo de companhia, de morar em um bairro cujos imóveis não cabem no bolso. Mas há um desafio, que é morar com alguém que você não conhece. Seu colega de quarto não é família, mas a alta convivência exige que haja uma harmonia. Foi pensando nessa dificuldade que Veronique Forat e Marta Monteiro lançaram a Coliiv, uma proptech que preocupa-se com a relação entre moradores.

A proposta inicial da Coliiv foi promover o “match” entre o imóvel disponível e quem quer morar nele. Hoje, a startup cresce e tem como objetivo facilitar e tirar os ruídos da moradia compartilhada.

Entrevistamos Veronique e Marta sobre coliving e a jornada da startup. Confira!

Veronique da Coliiv, moradia compartilhada
Veronique Forat, co-fundadora da Coliiv

Imobi Report: Como surgiu a Coliiv?

Veronique: A Marta e eu nos conhecemos em um workshop de reinvenção do trabalho, nós estávamos com um comichão de fazer alguma coisa diferente. A Marta estava trabalhando no mercado imobiliário e eu trabalhava com marketing de relacionamento, e nós duas tínhamos um interesse pessoal por moradia compartilhada. Tivemos essa suspeita de que tinha uma lacuna no mercado, que faltava resolver uma dor: a gente imaginava que muitas pessoas gostariam de morar de forma compartilhada, mas o que existia era uma oferta de você morar com pessoas desconhecidas, sobre as quais você não sabia praticamente nada.

O primeiro passo foi validar se essa dor existia e, segundo, quais eram as dificuldades que as pessoas enfrentavam para concretizar uma moradia compartilhada. Fizemos uma pesquisa e 85% dos entrevistados diziam que sim, teriam interesse em moradia compartilhada em algum momento da vida, mas tinham dificuldade de morar com um desconhecido.

Para resolver essas dificuldades, começamos o negócio. Começamos com outro nome, de uma forma completamente manual. Fizemos um MVP Concierge e só quando recebemos um aporte, em 2019, que pudemos realmente dar a virada que ainda estamos dando, de virar uma plataforma digital e com um novo nome, Coliiv.


Imobi: Então a moradia compartilhada era uma vontade pessoal de vocês?

Marta Monteiro, co-fundadora da Coliiv

Marta: Isso! Eu comecei a procurar por coliving, que é a moradia compartilhada num mesmo imóvel, queria ter essa experiência. Mas aí, quando comecei a procurar, vi que a grande dificuldade e minha grande insegurança era “como eu vou morar com pessoas desconhecidas? Quais serão os valores dessas pessoas? Os hábitos, os interesses?”. Foi quando percebemos que não existe nada no mercado que me dê mais segurança, para conhecer a pessoa antes, saber se essa pessoa é parecida comigo. Não é que eu via como um casamento, mas queria um pouco mais de semelhança comigo para com quem eu fosse conviver.

A  Veronique também estava procurando por um modelo compartilhado, mas pelo cohousing. Cohousing é a moradia compartilhada em unidades independentes, cada um na sua própria unidade, mas mantendo um compartilhamento em algumas áreas comuns, tipo cozinha, lavanderia, horta. 

Começamos a discutir, com um grupo de estudos. Virou negócio, fomos nos aprofundando e fazendo muita experiência no campo.


Imobi: Lembro de alguns players que atuam em outras frentes da moradia compartilhada, principalmente a relação com o imóvel, mas a relação interpessoal não.

V: Com a profundidade que nós fazemos, não existe mesmo. A maioria dos players do mercado está focado no imóvel. Desde empresas que constroem imóveis para serem compartilhados até empresas que reformam. O ponto focal é sempre o imóvel e não as pessoas que vão conviver no imóvel. No nosso caso, na plataforma, damos um grande peso para a descrição do imóvel, mas damos um peso enorme para quem vai morar naquele imóvel. Fazemos um duplo match: as pessoas com o imóvel e a pessoa com as outras pessoas.

Há detalhes que parecem bobos, mas que são importantes. Por exemplo, pessoas que não moram com gatos, não gostam de pássaros ou que já têm um pet mas que não se mistura com outros. Com o tempo, fomos nos orientando para saber quais perguntas deveríamos fazer para fazer um match com profundidade. Religião, tendências políticas, alimentação. Descobrimos ao longo do caminho, por exemplo, que muitos vegetarianos e veganos não querem morar com quem come carne.

Estamos melhorando a cada dia, introduzindo novos filtros. Isso é o núcleo do nosso trabalho. Saber quais perguntas fazer, dar pesos diferentes para as perguntas


Imobi: O objetivo é afinar esta inteligência artificial do match?

V: A nossa visão é que a Coliiv seja um hub para tudo que você precisa para morar bem, de forma compartilhada. Facilitar e tornar mais segura a moradia compartilhada.

O match com a pessoa certa é só o começo da jornada do compartilhamento. Começamos a pensar e implementar outras funcionalidades para as pessoas que já deram um passo adiante nessa jornada. Já estamos oferecendo a possibilidade de contratar serviços de reforma que facilitam o proprietário a receber o novo inquilino, além de faxina, pintura e mudança. Serviços que são úteis para preparar o imóvel antes, durante e depois da moradia compartilhada

M: Também estamos acrescentando um produto que consiste em um contrato de acordo de convivência entre os moradores. Este é um assunto delicado e importante. Recebemos comentários brincando dizendo “se eu tivesse um acordo de boa convivência no meu casamento, estaria casado até hoje” (risos). É um combinado que você faz antes de morar. O que podemos fazer, como podemos nos entender para que a moradia compartilhada seja harmoniosa e duradoura.

V: O combinado não sai caro. Quanto mais pontos puderem ser discutidos antes de morar juntos, melhor. Desde coisas triviais como “eu gosto de tomar banho 3 horas da manhã” ou “eu acordo cedo e não gosto de barulho de madrugada”, até coisas mais complexas como receber visitas ou o que fazer caso um de nós perca o emprego e não possa pagar o aluguel.


Imobi: Então a ideia é estender o papel da Coliiv na jornada da moradia compartilhada?

V: A ideia é acompanhar estes moradores em toda sua jornada e poder oferecer produtos que lhes ajudem. Acreditamos que a moradia compartilhada resolve diversos problemas. Dificuldades econômicas, solidão, desejo de morar em um lugar mais central ou continuar morando em uma casa que você agora está sozinha, mas que tem um valor sentimental. Nós queremos que todos possam ter acesso à moradia compartilhada.

M: Estamos testando o modelo de monetização, tanto B2C quanto B2B, mas sempre tendo o cliente e a demanda do cliente como centro. E essa demanda está em constante mudança. 

V: Existem, de fato, países em que a moradia compartilhada é muito mais comum. Mas a gente percebe que até nesses países, falta um pouco essa questão de saber onde e com quem você vai morar. Então, dentre os planos da Coliiv está uma intenção de se internacionalizar, mas entendemos que isso depende de darmos outros passos. Começamos a atuar por São Paulo, hoje já estamos ampliando e temos pessoas de 7 estados brasileiros, depois Brasil e, enfim, um país que já exista essa cultura e, por isso, essa dor é muito presente.


Imobi: A Marta comentou sobre a relação B2B. Como estão sendo essas parcerias com empresas?

V: Hoje, temos pessoas oferecendo espaço nas casas delas e pessoas que estão buscando moradia. E estamos construindo esse terceiro pé de oferecer imóveis compartilháveis para que pessoas que têm afinidade entre si possam se juntar e ir morar nesse imóvel. Para isso, precisamos trazer mais imóveis, então estamos trazendo imóveis de pessoas jurídicas. Estamos lançando também a opção do proprietário colocar seu imóvel para locar sem que vá dividir junto. Ao invés de alugar para uma família nuclear, locar para vários inquilinos.

Imobi: Esse movimento é muito contemporâneo à realidade do mercado, vemos muitas incorporadoras indo para a locação e que se preocupam muito com a experiência do usuário, mas não lembram que a experiência do usuário vai passar diretamente com seus colegas de apartamento.

V: Isso, experiência do usuário não é só ver com o morador se ele quer uma geladeira de tal ou tal tamanho. A experiência do usuário para mim é muito mais relevante saber se ele vai se dar bem com o outro morador.

M: Se o ambiente tá gostoso, harmonioso, se as coisas andam de uma forma energeticamente boa para todos. Você quer que o morador do seu imóvel sinta que aquele é o lar dele, que ele queira voltar para casa no final do dia.

V: Agora durante a pandemia, então, você ser forçado a ficar preso em uma casa com outras pessoas sendo que você possivelmente não se dá muito bem com algumas delas, é torturante.


Imobi: E contemplar esse momento de escolha do morador aumenta a retenção do imóvel e diminui o churning, certo?

V: Justamente. Para esses players, ter moradores que se dão bem entre si se traduz em contratos mais longos. É muito complicado e trabalhoso ficar correndo atrás de novos clientes. É mais barato e menos trabalhoso reter seu cliente do que conquistar um cliente do zero. Para uma empresa que aluga imóveis, é muito mais interessante que o contrato seja duradouro


Imobi: Como o mercado imobiliário está recebendo a proposta de vocês?

M: Eu sai do mercado imobiliário e estava inquieta, aflita em sentir que o mercado imobiliário apenas oferece a caixa, o imóvel, para o cliente, sem conhecê-lo. O que começamos a fazer era ir junto às imobiliárias, bem no começo, antes de qualquer coisa. Eu sentia uma resistência muito grande com o modelo de negócio, isso ali em 2017, não faz muito tempo. Agora, o mercado mesmo está entendendo e vendo isso pois há incorporadoras e startups que estão fazendo isso, como a Yuca. E o bom é que saímos um pouquinho na frente.

V: Acredito que a maioria das imobiliárias ainda reluta com o modelo pois exige que saia da zona de conforto. É diferente ter uma casa de 4 quartos e alugar para 1 chefe de família com 3 filhos, do que para 4 pessoas e cada uma ocupe um quarto. Mas defendemos que é só uma questão de mudança de mindset. Se o proprietário está aberto para isso, é muito mais interessante do que ficar com um imóvel vazio, pagando IPTU, condomínio, além da deterioração do imóvel.

A demanda compartilhada se encaixa muito bem em determinados tipos de imóveis. Imóveis grandes, em bairros centrais, que não têm escola por perto. E que ainda não podem ser oferecidos para comércio.


Imobi: São Paulo, especialmente, tem muitos bairros de alta vacância.

V: Com certeza. O que aconteceu é que o perfil das famílias mudou muito nos últimos 60 anos. E o custo do metro quadrado aumentou vertiginosamente. Esses grandes imóveis não são mais desejados pelas famílias nucleares, são mais desejados por indivíduos solteiros. Se você for morar sozinho pelo mesmo valor que você pagaria para dividir, provavelmente vai para um lugar mais longe do centro, dos lugares que frequenta, em um apartamento menor.

E é importante que o mercado entenda que, na moradia compartilhada, os imóveis não vão virar uma república cheia de jovens bagunceiros, que vão detonar o imóvel. Os moradores que atendemos, na sua maioria, são profissionais e que têm maturidade para serem exigentes com quem eles moram. O morador de república é muito transitório. O perfil do usuário da Coliiv é um perfil muito diferente: adulto, que está ganhando seu dinheiro e que não quer morar em qualquer condição. Então, tem o perfil de conservar o imóvel.

M: E, claro, subsidiamos esse proprietário com contratos bem feitos e garantias locatícias por morador.

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