imóveis para seniores
Imobi Explica

Imóveis para seniores: diversidade e flexibilidade são as chaves

Quando na infância, cada ano da sua vida é único. A partir da vida adulta, começamos a contar de 10 em 10. Depois dos 60 anos, é comum que a sociedade leia os maduros como um bloco só: os idosos. Com a longevidade da população brasileira cada vez maior, é importante lembrar que a individualidade não deixa de existir com o passar dos anos. E o segredo para o mercado imobiliário se relacionar com os chamados maduros é exatamente esse: enxergar a individualidade nos imóveis para seniores.

“Devemos partir do princípio de que a maturidade é heterogênea. Imagina colocar na mesma caixinha um grupo de 50, 60, 70, 80, 90… São necessidades, comportamentos e desejos completamente diferentes. Por isso, é tão importante partir do princípio da diversidade. Ao lançar um produto para o mercado prateado, é preciso entender qual o estilo de vida do seu consumidor e quebrar estereótipos e paradigmas relacionados ao envelhecimento”, explica Bete Marin, cofundadora do Hype50+, consultoria de marketing e comunicação especializada em maduros.

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Bete Marin, cofundadora do Hype50+

“Percebemos que os investidores do mercado imobiliário, quando começam a entrar nesse mercado prateado, muitos caem nas ILPIs (Instituição de Longa Permanência para Idosos). Buscam construir um centro de moradia numa cidade no interior, onde os idosos vão viver todos juntos, isolados, segregados, como se aposentadoria fosse isso. Mas será que é isso que seu público quer? Tem muita gente que quer envelhecer no seu bairro, na sua cidade”, afirma Bete, levantando o questionamento.

Mas por que falar sobre imóveis para seniores?

Primeiramente, é preciso lembrar que a população mundial está envelhecendo. Dados da OMS apontam que, entre 2015 e 2050, a população mundial com mais de 60 anos vai passar de 12% para 22%. No Brasil, daqui a 9 anos, a nossa população terá mais pessoas com mais de 60 anos do que crianças com menos de 10. Ou seja, os maduros são um público muito significativo para o mercado imobiliário.

A diminuição das famílias brasileiras também reflete diretamente no comportamento dos novos maduros. “As pessoas que vão fazer 60 anos dentro dessa década percebem que têm poucos netos ou quase nenhum neto. Na prática, isso significa mais dinheiro no bolso e menos despesas com a família. Isso faz com que esses novos seniores invistam em duas coisas: longevidade (que inclui medicina preventiva, reposição hormonal e atividades de lazer e entretenimento) e imóveis mais práticos”, explica Marcus Araújo, fundador e presidente da Datastore.

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Marcus Araújo, fundador e presidente da Datastore

Há também uma nova relação com os imóveis que essa geração já possui. “A patrimonialização dos novos seniores vai no sentido da renda, e não da herança. Eles não têm mais cultura de herança, de ter aqueles imóveis que só dão despesa, estrangulam a renda do maduro, que ele não aproveita, mas quem vai aproveitar é quem vier depois. Os novos maduros estão vendendo os imóveis encostados, apostando em imóveis que fazem renda complementar e usando a grana que recebem para investir em outros imóveis”, conta Marcus.

Isso faz com que os maduros sejam um grande público investidor do mercado imobiliário, além de consumidor. “Os maduros gostam de investimentos de renda passiva e estão atentos na sociedade. Ou seja, não estão comprando imóveis tradicionais, estão comprando imóveis arrojados. Sabem que os netos, as netas, os filhos, estão mais alugando do que comprando. E assim fazem uma renda complementar pensando no futuro”, explica Marcus.

Entre as samambaias e a cidade: as semelhanças entre os maduros e os millennials

Imóveis melhores, empreendimentos com áreas comuns úteis, regiões centrais e com fácil acesso. Poderíamos estar descrevendo um imóvel para millennials, mas estamos falando de residências para os maduros. “Hoje, os maduros procuram imóveis mais práticos. Estamos falando de produtos imobiliários de, no máximo, duas suítes – até pelo volume de pessoas que eles vão receber. Os maduros entraram na mesma pegada do casal mais jovem: não pagar por aquilo que não vai se utilizar. Observe que eu não estou falando de um imóvel menor, mas que não tenha excesso. Ou seja, áreas que não vão utilizar. Uma varanda gourmet para leitura? Fantástico. Mas, um quarto a mais para alguém que nunca vem passar o final de semana não faz sentido. São imóveis mais funcionais e também mais tecnológicos”, explica Marcus.

Bete corrobora: “Tudo que a indústria imobiliária vende para o público jovem, para os millennials, você pode ter certeza que é muito pertinente também para o público mais velho. Os imóveis diminuem: a pessoa pensa, será que eu não preciso de um espaço menor? Será que não tem que ser mais prático? Se você tiver áreas comuns que promovam a conexão entre pessoas, uma comunidade com tudo muito próximo, é muito importante. O maduro valoriza muito a multigeracionalidade”, conta.

Além disso, apesar de haver o estigma de se aposentar no interior, os novos maduros e os millennials são gerações que valorizam muito as cidades. “Os centros urbanos são muito importantes, pois têm mais acessibilidade. A pessoa tem acesso a tudo muito fácil. E mesmo nas cidades menores, a infraestrutura das comunidades evolui: surgem assim os bairros amigos dos idosos, cidades amigas dos idosos, que vêm com diversas características para que leve segurança e conforto para essas pessoas”, afirma Bete.

Vários modelos de imóveis para seniores

Com tanta parte da população vivendo mais tempo, a variedade de produtos e formatos de imóveis para maduros aumenta. A Laguna, incorporadora curitibana, está desenvolvendo um empreendimento imobiliário focado no público sênior, com previsão de lançamento ainda no 1º semestre deste ano. “Serão apartamentos de um ou dois dormitórios que proporcionem tranquilidade, conforto e segurança que se espera de empreendimentos de alto padrão. O projeto deve promover a integração e convivência dos moradores, através de áreas comuns confortáveis e bem equipadas. Hoje, sabe-se que as edificações podem contribuir muito para a saúde e bem-estar de seus moradores, por meio do monitoramento da qualidade do ar, por exemplo, ou então da quantidade de raios solares que as janelas permitem entrar no prédio”, explica Luiz Renato da Silva Filho, coordenador de desenvolvimento imobiliário da Laguna.

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Luiz Renato da Silva Filho, coordenador de desenvolvimento imobiliário da Laguna

Luiz Renato conta que a incorporadora observou este movimento do perfil demográfico brasileiro, o que os fez investir no nicho. “Apesar de empresas de diversos setores desenvolverem produtos para este público, percebemos que o mercado imobiliário em geral ainda explora muito pouco esse nicho. Foi com esse pensamento que decidimos ir a fundo e estudar o público sênior e suas necessidades. Procuramos por referências no Brasil, mas não conseguimos achar nenhum projeto que tivesse uma proposta inovadora. Assim, fomos até os EUA para conhecer o mercado sênior e visitamos diversos empreendimentos na categoria Senior Living na região da Flórida”, compartilha.

Rafael Severo, CEO da Trend

Porém, mesmo com tantas novidades e inovações no mercado, os ILPIs ainda têm espaço, especialmente levando em consideração as praticidades envolvendo o cuidado com a saúde. A Trend Investimento, de Porto Alegre, está desenvolvendo uma sênior living na cidade, em parceria com o Instituto Moriguchi. “Teremos como foco a experiência dos nossos residentes e procuramos uma arquitetura que estimule a vida. Promover a socialização, que é crucial para uma longevidade com qualidade, promover espiritualidade, o senso de utilidade… São questões importantes e é preciso pensar nos espaços que as promovam”, conta Rafael Severo, CEO da Trend.

Veronique Forat

E há os novos formatos, como a alta demanda de maduros por colivings. Foi atentando-se a este movimento que Veronique Forat e sua sócia, Marta Monteiro, lançaram a Coliiv, uma plataforma que promove conexão entre pessoas que querem compartilhar residências. Além do empreendedorismo prateado – ambas têm mais de 60 anos – a Coliiv surgiu como plataforma multigeracional, mas que já atentou-se à demanda dos maduros. “Quando nós começamos nossa startup, imaginamos que a moradia compartilhada seria uma excelente solução para pessoas da nossa faixa etária. E aconteceu duas coisas interessantes: nesse crescimento orgânico, começou a aparecer gente de todas as faixas etárias e, principalmente, os mais velhos afirmavam que não queriam morar num ‘gueto de velhinhos’. Não queriam ser segregados”, afirma Veronique.

Geroarquitetura – passando bem longe da cara de enfermaria

Geroarquitetura é como Flavia Ranieri, arquiteta especializada em projetar para seniores, define seu trabalho. É a preocupação da arquitetura com a longevidade.

Flavia Ranieri, arquiteta especializada em geroarquitetura

Flavia afirma que, ao promover uma arquitetura amigável para longevidade, é preciso flexibilidade. “O mais importante é pensar em uma casa que seja flexível, uma casa que seja uma base que aceite mudanças sem precisar de obras. Cada um vai envelhecer de um jeito, com uma demanda. Ou seja, há algumas características coringas, como portas mais largas, que não precisem ser alargadas depois, opção de banheiros acessíveis, estrutura para automação… Com o envelhecimento da população, não teremos pessoas para cuidar das pessoas. Por isso, a automação residencial será essencial”, explica.

Há, também, a questão estética e o gosto pessoal. Nem todo maduro quer morar na casa com cara de vovózinha. “Uma vez vi uma pesquisa que mostrava que os idosos preferiam correr o risco de queda do que colocar uma barra de apoio. É que o fato de você colocar uma barra de apoio é assumir um monte de coisa: uma fraqueza, o passar do tempo. Então, é importante resgatar o respeito através da arquitetura. Atualizar o imóvel em termos de segurança e tecnologia, mas preservando a história pessoal daquele morador”, conta Flavia.

“Quando vamos estudar os desejos e necessidades do público maduro, precisamos partir do ponto de ouvir. O morador não quer se sentir em um ambiente envelhecido, então a gente tem que entender essas nuances, essas sutilezas, estudando o mercado prateado. Convenhamos, ninguém quer morar em um lugar que parece um hospital”, comenta Bete.

Ou seja, ao promover negócios com os maduros no mercado imobiliário, as mesmas boas práticas de atenção ao consumidor aplicam-se: conheça seu consumidor, ouça-o, respeite-o e entregue um produto que atenda sua demanda.