Além do TTI: os gargalos na formação dos corretores de imóveis
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Uma queixa comum na rotina do mercado imobiliário é relacionada à formação dos corretores de imóveis. Há quem diga que a qualificação dos novos profissionais está abaixo do esperado, e é consensual que depende-se de viver a profissão na prática para compreender e executar tarefas.
“Boa parte dos cursos existentes agregam muito pouco”, afirma José Augusto Viana Neto, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP). Ou seja, além de buscar boas referências, é preciso ir além do famigerado TTI, o curso Técnico em Transações Imobiliárias, obrigatório para o exercício legal da profissão.
Para realizar as atividades de um bom corretor de imóveis, é cada vez mais importante buscar o aperfeiçoamento, indo além das funções básicas, até mesmo realizando formações complementares.
Em um conteúdo especial para o mês do corretor de imóveis, lembrado no dia 27 de agosto, o Imobi Report conversou com especialistas e associações do mercado imobiliário para entender como anda o cenário da formação de corretores. Também falamos sobre quais iniciativas podem ajudar a qualificar estes profissionais.
“Na prática, a teoria é outra”
“Falar da formação do corretor no TTI é como fazer a comparação entre tirar a carteira de motorista e saber dirigir ‘de verdade’. Há uma diferença muito grande”, afirma Daniel Rosenthal, diretor da Keller Williams em São Paulo. A empresa é uma das maiores franquias imobiliárias do mundo, com 200 mil corretores e presença em 56 países.
O aperfeiçoamento acontece com o tempo, a partir da troca contínua de experiências e da vivência de situações diversas. Contudo, o profissional precisa estar aberto para buscar formações específicas constantes dentro da área.
“É este pacote que trará qualificação suficiente para os corretores atuarem entregando aquilo que os consumidores buscam: segurança, agilidade, facilidade e oportunidade. Certamente, os que não tomarem este caminho não terão mais espaço no mercado em um curto espaço de tempo”, resume Rosenthal.
Ele afirma que é imprescindível para quem estiver começando estar apoiado por outros profissionais e uma imobiliária bem estruturada. De preferência, que a empresa siga um modelo de negócios com padrões, metodologia e um programa de treinamentos específicos, pois são ferramentas que permitirão ao profissional se especializar e se aperfeiçoar
“Quanto mais nichado for, maior será o seu sucesso. Poucas imobiliárias possuem um modelo realmente sólido de negócios. Por isso, a maioria das empresas do segmento são pequenas e médias. Sem um modelo com metodologia, processos e padronização, utilizando-se apenas da criatividade, o crescimento é um enorme desafio”.
Para prosperar, é essencial ir além do TTI
“É muito ruim quando os corretores de imóveis não querem se capacitar, crendo que irão aprender absolutamente tudo na prática”, destaca José Augusto Viana Neto. Para o presidente do Creci-SP, além de entender melhor os clientes e conseguir gerar negócios, é preciso superar erros básicos que podem gerar autuações, multas e condenações.
Viana Neto explica que a entidade produziu conteúdos educacionais ao notar situações controversas do mercado. “A maior contradição que vimos foi quanto à avaliação de imóveis, casos em que um proprietário deixa o imóvel com vários corretores, cada um deles anunciando com um preço diferente”, conta Viana. Além de atrapalhar toda a cadeia de negócios, práticas como derrubam a credibilidade do mercado imobiliário.
Contudo, a partir da oferta de cursos e o entendimento da categoria sobre a importância dos estudos, o cenário já dá sinais de melhora. “Podemos mensurar o avanço da capacitação do mercado por meio da diminuição dos processos ético-disciplinares, que vêm diminuindo conforme aumenta o número de participações nos cursos”, afirma Viana.
O Creci-SP conta com materiais abertos ao público sobre temas como avaliação imobiliária, fotografia, administração de imóveis e locação.
E também há no mercado cursos e imersões promovidos por especialistas que atuam diretamente no imobiliário, que servem tanto a profissionais que querem alcançar a alta performance quanto aos que pretendem dar os primeiros passos na profissão.
“O compartilhamento de informações relevantes é um caminho assertivo para desenvolver o mercado e seus profissionais. Na CUPOLA, temos eventos de alto impacto como o CUPOLA Summit, Conference Aluguel e a Imersão em Gestão de Vendas Imobiliárias. Tudo isso além do próprio Imobi Report, que oferece conteúdos gratuitos de alta relevância e conteúdo premium para assinantes que querem aprofundamento em seu nicho”, destaca Michel do Prado, head de Educação da CUPOLA, principal hub de inteligência imobiliária do país.
Melhorar a formação dos corretores de imóveis é um desafio conjunto
“Lamentavelmente, temos de admitir que, não obstante haja boas escolas de Técnico em Transações Imobiliárias, há muitas delas cujo ensino é sofrível, o que ocasiona as reclamações de colegas novos e antigos”, afirma João Teodoro, presidente do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci) desde o ano 2000.
Teodoro ressalta que a competência para fiscalizar as escolas de TTI não é do Sistema Cofeci-Creci, mas sim das Secretarias Estaduais de Educação. “Mas, via de regra, essas instituições não têm estrutura para fazê-lo a contento. Ao Cofeci cabe apenas aferir a legitimidade das escolas que oferecem a formação”, aponta.
O presidente do Cofeci afirma que a entidade e também os Crecis (órgãos estaduais) têm realizado um esforço conjunto para oferecer capacitação e reciclagem profissional por meio de cursos, palestras, seminários e congressos em todo o Brasil, sendo alguns pela internet, para aumentar o alcance. Entre as iniciativas, Teodoro destaca o Saber Imobiliário e o Enaci, Encontro de Corretores Avaliadores e Internacionais.
O Imobi Report também questionou Teodoro sobre um Projeto de Lei que segue no radar do Congresso Nacional, que pode mudar regras relacionadas à profissão – propondo, inclusive, a exigência da formação superior do corretor de imóveis.
“O projeto de lei, que ainda está em elaboração, contemplará não apenas a formação superior, mas também um exame de proficiência, a ser aplicado por empresa certificadora de qualidade contratada via licitação. Acreditamos que, com esta última medida, as escolas terão de melhorar de padrão sob pena de serem excluídas do páreo pelos próprios alunos, que terão de procurar as escolas boas”, diz o executivo.
Formação superior específica para o mercado imobiliário
Diversas faculdades pelo Brasil oferecem uma graduação direcionada para o mercado imobiliário, nas modalidades presencial e remota. Trata-se do tecnólogo em Negócios Imobiliários, que permite aos graduados possam prosseguir com especializações, incluindo MBAs, Mestrado e Doutorado, conforme seus interesses e aspirações profissionais.
Uma das instituições pioneiras é a Universidade Federal do Paraná (UFPR). A universidade introduziu o TTI em sua grade no ano de 1994, evoluindo para a graduação em Negócios Imobiliários em 2009.
“Essa expansão do escopo curricular visava proporcionar uma formação abrangente, indo além da preparação para a função de vendedor. A mudança representou uma evolução natural, uma vez que permitiu a ampliação dos conhecimentos transmitidos aos estudantes. Isso inclui áreas como formação geral, gestão e administração, economia, finanças, estatística, arquitetura e urbanismo, construção civil, meio ambiente, aspectos jurídicos, práticas imobiliárias, marketing, vendas e empreendedorismo”, explica André Martinez, coordenador do curso.
Um dos maiores diferenciais da graduação é o alto nível da equipe docente, o que dá mais robustez à formação dos alunos. Cerca de 90% dos professores da graduação são doutores em sua área de atuação.
A carga horária total é de 2060 horas em seis semestres. São 40 disciplinas obrigatórias e um estágio obrigatório de 200 horas para os alunos, ampliando ainda mais suas possibilidades na indústria imobiliária.
“A formação busca fomentar a autonomia intelectual e empreendedora, preparando os graduados para gerir seus próprios empreendimentos com inovação e criatividade. A proficiência na comunicação interpessoal e a habilidade de colaborar efetivamente em equipes também são áreas de enfoque”, complementa Martinez.
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