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Em modelo de negócios inédito, startup atua na recuperação de obras residenciais paralisadas

Em um segmento cujos desafios financeiros são recorrentes, uma startup especializou-se num modelo de negócios inédito no Brasil: a recuperação de obras residenciais paralisadas, com revitalização de projetos imobiliários com dificuldades financeiras ou de gestão.

Com uma abordagem que envolve desde a renegociação de dívidas até a revisão de planos de projeto, a Solv, subsidiária da Viver Incorporadora, retoma, conclui e relança estas construções no mercado. Em resumo, ela dá uma nova chance para que empreendimentos considerados perdidos sejam recuperados. Segundo a empresa, mais de 2 mil obras de prédios residenciais estão paralisadas atualmente no Brasil.

O ponto de partida 

O nascimento da Solv surgiu da experiência do CEO, Ricardo Piccinini, de longos anos no mercado imobiliário, o que trouxe a compreensão dos ciclos econômicos do segmento e das dificuldades enfrentadas pelas incorporadoras – especialmente os problemas financeiros, de crédito e fluxo de caixa, que não raramente resultam em obras paralisadas.

“Assim identificamos uma lacuna no mercado: a ausência de entidades capazes de assumir e reestruturar projetos imobiliários paralisados devido a complicações financeiras e legais. Nossa expertise então nos permitiu desenvolver um modelo de negócio focado na revitalização dessas obras, considerando aspectos como viabilidade do projeto, reestruturação financeira e relançamento no mercado”, contou ele ao Imobi Report.

Piccinini é também CEO da Viver Incorporadora, companhia de capital aberto, desde 2019. Em um processo de reestruturação da Viver, em 2020, o projeto da Solv foi tirado do papel. “O papel da Solv atua desde a renegociação de dívidas até a revisão de planos de projetos com dificuldades financeiras ou de gestão. Nosso objetivo é retomar e concluir estas construções, relançá-las no mercado com um plano de vendas eficaz e, finalmente, entregar os projetos com rentabilidade”, continua o empresário. 

Desdobramento da metodologia em três etapas 

A atuação da empresa segue um processo estruturado, que se inicia com um mapeamento de obras paradas desde 2020. “Esta seleção prioriza projetos com progresso significativo e localizados em regiões estratégicas, visando otimizar nossos esforços de avaliação”, explica o CEO.

A partir disso, a metodologia se desdobra em três fases principais. São elas: 

  1. Análise preliminar: Avaliação da viabilidade macroeconômica dos projetos por meio de uma análise até então superficial, considerando custos, progresso da construção e potencial de mercado.
  2. Negociação com stakeholders: Em seguida, são iniciadas negociações com todas as partes interessadas naquela obra. Tais como bancos, incorporadores, adquirentes e fornecedores, buscando reestruturar os passivos do projeto. Neste estágio, é comum que sejam propostos acordos que podem variar desde a manutenção dos contratos com ajustes até a resolução de termos para desistência.
  3. Formalização e relançamento: com os acordos estabelecidos, a Solv formaliza a aquisição do projeto, inicia a reestruturação e se prepara para o relançamento. Isso inclui desde a regularização de pagamentos até a obtenção de novos financiamentos, com o objetivo de reiniciar as obras, comercializar e finalizar o empreendimento.

De acordo com Piccinini, este processo, embora semelhante a uma incorporação tradicional, distingue-se pela agilidade e segurança, graças à pré-existência de recursos e ao conhecimento aprofundado do mercado. “Com um ciclo médio de 12 a 20 meses desde a aquisição até a entrega, comparado aos 4 ou 5 anos de um projeto iniciado do zero, nossa abordagem oferece um caminho menos arriscado e mais eficiente para a realização de projetos imobiliários”, ressalta o executivo.

O que o futuro aguarda

À medida em que a empresa atua na revitalização não só de empreendimentos, mas consequentemente, de regiões do mapa, ela transforma passivos em ativos valiosos também para as comunidades. Com isso, gera-se um ciclo que traz benefícios para além do financeiro, mas que atinge também a ponta social. 

Piccinini afirma que o foco atual da Solv é ampliar a sua escala de operação de forma sustentável. “Reconhecemos que, devido ao caráter específico e personalizado do nosso trabalho, um aumento de volume não é exatamente o objetivo. No entanto, pretendemos entender melhor o tamanho da empresa e o número de projetos que podemos gerenciar anualmente, equilibrando crescimento com capacidade operacional”, explica. 

Outro desafio consiste em identificar formas de financiamento para suportar a expansão, evitando excessos que historicamente levaram a resultados negativos em outras empresas do setor. “Estamos em discussões com o conselho e investidores para definir então estratégias que permitam um crescimento acelerado, porém controlado. Queremos absorver um número viável de projetos por ano sem comprometer a rentabilidade ou a saúde financeira da companhia”, finaliza o CEO.