assédio no mercado imobiliário
Opinião

Assédio sexual: o inimigo invisível do mercado imobiliário

Olhe para as mulheres da sua empresa. Seis em cada dez mulheres sofreram algum tipo de assédio, sendo quatro deles de natureza sexual.

O diagnóstico alarmante foi revelado pelos dados da pesquisa “O Lado Feminino do Mercado Imobiliário”, elaborada a pedido do Movimento Mulheres do Imobiliário e de Raquel Trevisan pela DataStore, com consultoria em assédio pela advogada, professora e doutora em administração Alice Oleto. 

Em um universo de 803 mulheres atuantes do setor imobiliário em todo o país, a pesquisa revelou que, no lado feminino do mercado imobiliário, a média de idade é de 39 anos, sendo 42%  casadas, 47% têm pós graduação, com mestrado ou  doutorado. Mulheres não brancas compõem 27%  e 58% do total de mulheres consultadas são as principais provedoras de suas famílias. Uma mulher madura, com o mínimo de 14 anos de experiência no setor, tem renda mensal média de  R $12.790.

É esse o perfil da mulher que, em sua grande maioria, sofre assédio calada. Apenas 13% das mulheres que relataram terem sofrido assédio, denunciaram. Medo e insegurança estão entre os principais motivos pela falta da denúncia. 

Alice Oleto, orientou a pesquisa e a Cartilha eletrônica sobre Assédio Moral e Sexual no Trabalho elaborada pelo Movimento Mulheres do Imobiliário e distribuída a partir  deste  mês de março, como forma de contribuir para a  conscientização sobre o tema. No documento, o assédio sexual é descrito como “um ato que pode variar de comentários verbais indesejados, piadas e gestos sexuais a ações que englobem tentativas de toques e estabelecimento de uma interação sexual coercitiva até o estupro (BUCHANAN ET AL., 2008) e desempenha a degradante tarefa de constranger a vítima em sua intimidade”.

Os depoimentos colhidos na pesquisa reforçam que a prática é vivenciada no cotidiano das atividade diversas do setor:

“Já passei por insinuações indecentes durante uma festa da empresa.”

“Ouvi insinuações sexuais durante um atendimento ao cliente”

“Quando eu trabalhava em um stand de vendas, passei por uma situação onde tive que suportar insinuações dos clientes”

“Meu chefe disse que eu deveria começar a usar roupas mais curtas em reuniões com clientes”

“Meu colega de trabalho assistia vídeos pornográficos quando ficávamos apenas nós dois na sala” 

O remédio para a cura

Num setor adoecido pelo sofrimento calado, a cura pode parecer simples: falar.

A importância de falar e conscientizar as pessoas sobre o assunto do assédio no ambiente de trabalho é praticamente unânime: concordam 93% das mulheres que atuam no setor.

A orientação do Ministério Público do Trabalho às empresas para prevenir o assédio em seu ambiente  também indica caminhos relativamente simples, como a criação de canais de comunicação eficazes e inserir o assunto em treinamentos, palestras e cursos. Conscientizar os trabalhadores a respeito da igualdade entre homens e mulheres, incluir regras de conduta a respeito do assédio sexual na norma internas da empresa, inclusive prevendo formas de apuração e punição. 

Sendo a comunicação o remédio para a cura de um mal que corrói o setor por dentro, o que falta então para começarmos a nos mobilizar por meio de atitudes que promovam melhoria do ambiente de trabalho dentro das empresas?

Seja você também um aliado pela cura desse problema em nosso setor,  falando sobre o tema e promovendo ambientes seguros para a conscientização e, se necessário, denúncia. E o mais importante, faça tudo isso não só no mês de março, mas sempre!

Sobre Pesquisa O Lado Feminino do Mercado Imobiliário  – A coleta dos dados ocorreu entre os dias 11 de Setembro de 2020 e 22 de Janeiro de 2021. Participaram da pesquisa 803 mulheres que atuam no mercado imobiliário. 

Elisa Tawil

Idealizadora e co-fundadora do movimento Mulheres do Imobiliário, LinkedIn Top Voices, colunista no blog Revista HSM (Empresas Shakti), idealizadora e host do podcast Vieses Femininos.
Consultora estratégica para o Real Estate e mentora de negócios.