Apartamentos sem garagem já são maioria nos lançamentos em São Paulo
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Nos lançamentos imobiliários em São Paulo, o número de unidades sem garagem ultrapassou a quantidade de unidades com vagas para todos os condôminos já em 2019. De acordo com dados do Secovi-SP, das 65.132 unidades lançadas no ano passado, 34.261 não oferecem vaga de garagem, o que representa 52,5% do total. A tendência, que já vinha ganhando força há alguns anos, deve se intensificar ainda mais no período pós-pandemia, agora que muitos profissionais aderiram ao home office e devem mantê-lo mesmo após o término das medidas de isolamento social.
Esta é a opinião de Ricardo Pajero, diretor comercial da MAC Construtora, que já tem quatro empreendimentos residenciais sem garagem em seu portfólio – e mais um lançamento previsto para o início de agosto. “Nessa pandemia, muita gente sentiu a necessidade de morar perto de onde há uma infraestrutura completa de comércio e serviços, como supermercados, padarias e farmácias, onde você pode ir a pé ou de metrô. Tem muita gente repensando seu modo de viver e a região onde mora, preferindo pagar um pouco mais pelo metro quadrado, ainda que o apartamento seja mais compacto, para ter uma infraestrutura melhor perto. Quem vive muito isolado está sofrendo muito”, avalia.
A análise de Ricardo é compartilhada por Alexandre Frankel, CEO da Vitacon, que oferece empreendimentos com menos vagas de garagem em relação ao número de apartamentos, entre seus lançamentos mais recentes. “Na prática sabemos que o morador não sente falta, pois as garagens são ocupadas, em média, apenas por 30% dos moradores, já que a grande maioria não tem mais carro. Ainda assim, as pessoas ainda precisam trabalhar e estudar, a minoria está em home office. Grande parte da população ainda se expõem ao risco usando transportes públicos. Não podemos nos enganar e esquecer isso. Acreditamos que o meio de mitigar os riscos à saúde dessa população é oferecendo uma moradia perto do trabalho, onde ela não precise se expor aos riscos de transportes públicos lotados ou ao trânsito”.
Para isso, no entanto, é necessário que os empreendimentos atendam a algumas especificidades, como explica Ricardo. “Existe um tripé que faz com que esses lançamentos deem certo: mobilidade (possível com uma vasta rede de linhas de metrô e ciclovias, entre outros equipamentos públicos), conceito (apartamentos compactos, no modelo coliving, com áreas comuns compartilhadas) e custo x benefício (tem de valer a pena financeiramente)”, afirma.
Nova realidade pós-pandemia
Além disso, com as novas demandas oriundas da pandemia, é possível que os próximos lançamentos tenham que passar por modificações, para contemplar particularidades dessa nova realidade em que estamos inseridos. “Acreditamos que a busca pelo prestador de serviço e pelo delivery se intensificará e permanecerá conosco. Por isso, os prédios precisam ser pensados para receber essa demanda. Como espaços estruturados e lockers para recebimento de encomendas, fluxo de delivery nas portarias, salas multiuso para utilização de prestadores de serviço como manicures e barbeiros, por exemplos. Além disso, com bicicletários maiores e serviço de bike e car sharing na porta de casa”, comenta Alexandre.
Aliás, Ricardo vê a tecnologia como grande aliada nesse processo de mudança de hábitos, que inclui a diminuição das vagas de garagem nos empreendimentos. “Hoje, temos tudo na palma da mão, com os celulares. Foi uma transformação um pouco mais rápida do que estávamos imaginando, mas o modo de vida atual está muito relacionado à tecnologia, com o compartilhamento de bicicletas e patinetes, além da praticidade com os demais aplicativos, de transporte, de delivery e até de streaming, a forma como a gente consome entretenimento hoje. A pandemia veio para consolidar essa tendência”.
O diretor da MAC ainda complementa: “A tecnologia fez a gente revisitar o modo como vivemos hoje. E o fato de algumas pessoas optarem por imóveis que não têm garagem tem uma relação direta com tudo isso, pois, com a facilidade da tecnologia, você não precisa de carro para praticamente mais nada. Em vez de pegar o carro para ir ao supermercado, você pode ir ao mercado express do lado da sua casa ou mesmo fazer as compras por aplicativo. Tudo fica mais prático, você não precisa sair para muita coisa. Os aplicativos de transporte facilitaram muito a vida nesse sentido, além de deixar o transporte mais barato, pois com o carro, há gastos com IPVA, seguro, combustível. E, mesmo quando você precisa de fato de um carro, para viajar, por exemplo, você pode alugar. Mas isso tudo só faz sentido agora. Há dez anos, tudo isso pareceria loucura”.
Alexandre, inclusive, acredita que a tendência dos empreendimentos sem garagem não deve ficar apenas em São Paulo. “Esta é uma realidade que já está se estendendo para as capitais de outros estados e deve chegar a outras cidades, inclusive menores”, afirma. Já Ricardo acredita que nem todas as cidades têm as características ideias para esse tipo de empreendimento. “Mesmo algumas capitais não têm um serviço de transporte público eficaz. No interior, é mais difícil ainda, pois como as cidades são pequenas, elas se conversam e há um fluxo muito grande de uma para outra, por causa do comércio e serviços, havendo ainda a necessidade do carro. Mas tem lugares onde eu vejo essas oportunidades, como Curitiba e na Baixada Santista”.
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