Opinião

Análise: QuintoAndar anuncia entrada no México, mas alvo é a compra e venda no Brasil

O QuintoAndar comunicou nesta sexta-feira (28) ter recebido um novo aporte de investidores, desta vez na ordem de US$ 300 milhões, o que eleva o valor de mercado da startup para a casa de US$ 4 bilhões.

Se essa cifra parece intangível para você, um dado nos ajuda a dimensioná-la: Cyrela e MRV, as duas maiores construtoras brasileiras, valem juntas quase US$ 3,3 bilhões na B3, de acordo com levantamento da plataforma de informações financeiras Economatica, feito a pedido do NeoFeed.

Em uma série de entrevistas concedidas durante a semana e publicadas nesta sexta, o CEO Gabriel Braga anunciou a decisão de iniciar operações no México, onde a companhia avalia existir um cenário de oportunidades semelhante ao do mercado imobiliário brasileiro.

Os esforços de relações públicas das startups ao anunciar rodadas de investimentos são geralmente assim: a empresa comenta sua estratégia em linhas gerais, mas os detalhes são preservados para não dar elementos à concorrência (leia-se Loft, numa batalha de bilhões em que o ponto de chegada é a abertura de capital).

Logo, cabe uma análise sobre as entrelinhas do anúncio desta semana.

Sim, o México é um campo de oportunidades, e a internacionalização seguramente faz parte da estratégia para embasar um IPO mais robusto, mas o grande desafio do QuintoAndar no curto prazo é acelerar sua entrada no mercado de compra e venda de imóveis no Brasil.

Desde a operação de aquisição da Casa Mineira, o time de parcerias do QuintoAndar voltou a campo para dialogar com imobiliárias nos grandes centros em que já opera a venda de imóveis: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre.

A prioridade, no momento, é acelerar o modelo de parcerias com ênfase em Belo Horizonte, praça em que a Casa Mineira é líder absoluta de mercado.

Na locação, cabe destacar, o modelo de parcerias do QuintoAndar não decolou, mas em vendas há mais dinheiro à mesa e um modelo que congregue e remunere corretores, imobiliárias e a plataforma transacional é mais viável.

E o que o QuintoAndar almeja conversando com imobiliárias?

Originação de demanda, ou seja, imóveis cadastrados em massa, o mesmo racional da Loft, que pode ser equiparada ao QuintoAndar em termos de captação de investimento, mas está muito atrás em termos de capilaridade e maturidade do modelo.

Enquanto a Loft flerta mais enfaticamente com corretores de imóveis, o QuintoAndar demonstra estar centrado em atrair imobiliárias, que podem publicar milhares de imóveis no portal em um único clique. Na corrida pelo imóvel disponível para venda, é uma diferença de estratégia a ser destacada.

Com imóveis em pauta, o que veremos nos próximos meses é um investimento massivo do QuintoAndar em mídia, financiado por este último aporte, para mover a roda da demanda, o que a tornará, possivelmente, o maior site imobiliário do Brasil em termos de tráfego, ponto em que a startup conflita com a OLX, dentro de outra guerra anunciada.

Enquanto os portais imobiliários clássicos entregam leads aos anunciantes, o QuintoAndar se propõe a entregar oportunidades quentes, já qualificadas e com visita agendada, em outro patamar de relacionamento com os parceiros.

Os detalhes deste modelo de parceria entre o QuintoAndar e as imobiliárias em vendas ainda estão sendo formatados, mas não se surpreenda se logo mais um representante do QuintoAndar bater à porta da sua imobiliária.

Depois de se tornarem a maior empresa de tecnologia do mercado imobiliário da América Latina, eles agora querem ser líderes em vendas no Brasil.