Arquitetura contemporânea pauta o morar na cidade de São Paulo
Resumo
Octavio Pontedura traz insights sobre uma conversa que teve com 3 incorporadoras sobre como a arquitetura contemporânea pauta o morar em SP.
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Tive o prazer de começar o ano conversando com três grandes nomes do mercado de incorporação de São Paulo, cujas atuações, na prática, têm contribuído muito para uma mudança significativa do morar em nossa cidade, em seus diferentes nichos de atuação, de empreendimentos de alto luxo a empreendimentos de HIS (Habitação de Interesse Social).
São eles Otávio Zarvos, fundador da Idea! Zarvos; André Ciztrom, fundador da Magik JC, e Rafael Fiorotto, fundador da Tico Incorporadora. Vem ver mais neste pequeno ping pong com os três e sobre como as três empresas, em escalas e perfis de clientes diferentes, têm pautado o morar contemporâneo em São Paulo:
1. Que relação a arquitetura que a empresa desenvolve estabelece com a cidade em que vivemos?
OZ – São três pontos principais. O primeiro é a estética através da arquitetura autoral; o segundo, o entorno imediato do prédio, onde nos preocupamos em promover algumas gentilezas urbanas como bancos nas calçadas, árvores, um lugar para food truck e lojas embaixo do prédio – elementos importantes pois requalificam o bairro e tornam o prédio amigável; e, o terceiro, o uso, pois sempre estudamos o bairro para propor uma solução a uma demanda, por exemplo, se o bairro possui muitos escritórios, propomos algo residencial.
AC – Este é um pilar muito importante da Magik. A gente acredita que arquitetura e design não são apenas o desenho e os bons elementos. Também é isso, mas tão importante quanto é a relação arquitetônica do prédio com a rua, bairro e a cidade em que ele está inserido. Quando pensamos em nossos projetos no centro de São Paulo, precisamos entender o bairro em que o projeto está inserido, a rua desse bairro e as heranças culturais e arquitetônicas da região. Na Vila Buarque, por exemplo, temos edifícios das décadas de ouro da arquitetura brasileira. É claro que não vamos reproduzir estes edifícios, mas precisamos dialogar com eles. Saindo um pouco da forma e do desenho, pensamos na arquitetura como a composição do edifício a nível de térreo com a rua. Buscamos sempre eliminar os muros para que a rua faça parte do térreo do prédio, e vice e versa. Buscamos a harmonia e a interlocução entre o edifício e a rua em que ele está inserido.
RF – A expectativa é que seja uma relação mais fluida, harmônica e menos conflituosa. Apesar de ser uma preocupação, não vejo hoje a estética como ponto central, até por se tratar de algo subjetivo. A maneira como a edificação vai interagir com o entorno (vizinhos, pedestres etc), o nível de complexidade para que ela “funcione” de maneira satisfatória (para quem irá habitar) e o tamanho do impacto (neste caso desconforto) que ela irá causar antes (quem ou o que está saindo dali), durante (quanto tempo de obra e o quão incômodo será) e depois (como será a nova vida daquela vizinhança) estão no centro da preocupação.
2. Nos seus nichos de atuação, o que é mais “caro e precioso” para quem irá habitar os projetos e o que priorizam a cada novo empreendimento?
OZ – Aqui são três pontos que priorizamos, e que são preciosos: imobiliariamente falando, a localização é o critério mais importante na decisão da compra do imóvel. Depois vem a experiência de arquitetura: nos preocupamos em construir prédios esteticamente bonitos e melhores, e com arquitetura autoral. Isso produz uma experiência ao morador ou aos visitantes do espaço. Quem passar por ali vai sentir o cuidado arquitetônico, sensação que será percebida e sentida por anos ao longo do tempo. E, por fim, a posição do prédio no terreno: ao darmos o briefing para o arquiteto, preocupamo-nos em proteger o prédio dos ruídos da rua, principalmente aqui na cidade de São Paulo, onde o fluxo de carros é intenso e constante. Também nos preocupamos com a vista e a posição dos ambientes para que ela seja favorecida.
AC – Nossos empreendimentos são caracterizados por serem HIS – Habitação de Interesse Social, que respeitam a Legislação Federal e a Municipal, com decreto específico. Ao construir empreendimentos no centro de São Paulo com preço, arquitetura e design acessível, entendemos que os moradores levam muito em conta a localização e as características arquitetônicas e de desenho do prédio. Também recebemos o feedback de que o nosso posicionamento de respeito à vizinhança e às heranças culturais de arquitetura da região e a interlocução com os agentes que já existem no bairro e a comunicação transparente fazem parte do que é precioso para os nossos clientes. Não consideramos o nosso produto como de nicho. Ele por si só é um produto viável para um maior número de famílias possível.
RF – Acredito que seja um tripé formado por arquitetura/urbanismo, escala e qualidade. Na parte de arquitetura e urbanismo, desde o traço até a relação do edifício com a cidade. Na parte da escala, acredito que muitos dos que nos escolhem têm a vontade de morar em comunidades menores, onde se consiga uma relação mais próxima com os vizinhos. Por fim, a parte da qualidade é um pouco que procuramos caprichar, desde a escolha dos materiais “base” (cimento, argamassa, tinta, fios, cabos, tubulações, etc) de qualidade até acabamentos que são executados para ficar ali e não serem removidos logo ao receber as chaves, o que costuma ser padrão no mercado.
3. Como os empreendimentos residenciais estão sendo pensados para as necessidades contemporâneas dos clientes?
OZ – Apostamos em apartamentos flexíveis, flexibilidade dentro do prédio, com uma estrutura de concreto e hidráulica que permita a mudança. Por exemplo, propomos uma estrutura flexível para as janelas, o que permite mudar os ambientes dos imóveis. Outro ponto: após algumas décadas, esses prédios podem servir para outros usos. Um prédio comercial pode se tornar residencial, o residencial pode se tornar uma escola. Quando projetamos pensamos nesta flexibilidade. A cidade vai mudar a longo prazo e se as construções forem flexíveis auxiliarão nas mudanças. Isso se reflete muito no Retrofit que produzimos hoje.
AC – Os nossos empreendimentos são pensados para fazer parte de uma cidade, não de um único empreendimento, da cerca para dentro. O térreo é desenhado para combinar com a rua em que está inserido. Não queremos vida apenas para dentro do condomínio. As necessidades contemporâneas dos clientes, em nosso caso famílias jovens, partem de alguns fundamentos, como adquirir o apartamento com o essencial e não sobras, ou seja, uma planta eficiente, não necessariamente pequena, mas sem os excessos. Hoje vemos as famílias e jovens indo muito na linha do menos é mais, pouca acumulação, sem carro. Nossos empreendimentos geralmente não possuem vagas de estacionamento, por exemplo. A gente estabelece uma planta de um ou dois dormitórios com condições de habitabilidade ótima, mas, são plantas eficientes, com uma metragem menor do que o executado em São Paulo por não termos corredor e nem varanda. A planta tradicional de 36m2 de um dormitório passa a ter 27m2. A tradicional planta de 45m2 de 2 dormitórios, passa a ter 38m2. Pensamos um condomínio menor do que os tradicionais “condomínios clube”, onde trazemos eficiência na área comum. Apesar de serem completas, equipadas e decoradas com arquitetura e design, ela tem um espaço total menor e sem exageros comparado a um condomínio grande, o que gera menos custo de manutenção. Assim, acreditamos que atendemos as famílias mais jovens e os jovens que estão vindo morar sozinhos, que buscam um apartamento muito bem localizado, perto do trabalho e, falando de necessidades de São Paulo, estar próximos das estruturas, como equipamentos de saúde, gastronomia, transporte, entre outros.
RF – Acho que muito mudou nas últimas duas décadas. Vejo que após a onda dos condomínios clube entramos em uma nova era onde a arquitetura passou novamente a ser um grande diferencial nos projetos. Se essa arquitetura tem qualidade de fato ou não já são outros quinhentos, mas acho importante que a matéria tenha voltado a ser ponto importante no desenvolvimento dos projetos e para o marketing deles. Agora espero que a nova onda seja essa relação dos edifícios com a cidade. Entender que a arquitetura é mais que uma escultura “murada” no meio de um terreno. Tem também o outro lado da moeda, do que pode ou não ser feito e isso passa pelo poder público. A prefeitura deu um passo importante na última reformulação do plano diretor, mas ainda existe muito espaço para melhorias, mudanças pequenas e simples que fariam uma diferença enorme na qualidade dos edifícios que são produzidos e acabam por moldar a maior parte de nossa cidade.
Arquitetura em primeiro plano, cuidado com o entorno e com o impacto que seus edifícios irão causar como fundamento.
Três incorporadoras com perfis distintos, mas com princípios similares no que diz respeito à relação com a cidade, que buscam imprimir suas marcas na paisagem sem desconsiderar as pessoas e as experiências cotidianas.
O morar, o lar, ganhou (ou reencontrou) novas dimensões após a pandemia, assim como a relação das pessoas com sua rua, seu bairro e a cidade.
As mais universais dessas dimensões são as que têm o lar como lugar que deve acolher bem todos os aspectos do dia a dia, do descanso ao convívio e do trabalho; e que a rua deve ser um lugar de segurança e de encontro.
Pensar o morar contemporâneo e do futuro, pensar a cidade das próximas décadas, precisa contemplar essas dimensões.
Como é satisfatório para nós da Refúgios Urbanos, apaixonados pela cidade, sua arquitetura e dinâmica, ver esses temas tendo cada vez mais proeminência nas discussões sobre seu futuro e nas realizações de mais e mais agentes do mercado imobiliário.
Tudo certo! Continue acompanhando os nossos conteúdos.
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