Covid-19

Sacada, cozinha, banheiros: os cômodos mais valorizados na quarentena são velhos conhecidos do imobiliário

Na década de 1970, Elis Regina já cantava que queria uma casa no campo, “do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé”. Em 2020, a cada dia extra de isolamento social, pode-se dizer que este desejo é compartilhado por mais pessoas. O isolamento social motivou mudanças nas prioridades e necessidades das pessoas  e, entre elas, há grupos que buscam uma reconexão com a natureza, mais sol e privacidade. Mas, claro, sempre com acesso à internet.

Não só a procura por chácaras e casas de condomínios que aumentou, como, segundo uma pesquisa do Imovelweb, a procura por imóveis com quintal cresceu 96% em maio, comparado ao mesmo mês em 2019. Já a busca por apartamentos com varanda foi 128% maior, de acordo com o mesmo levantamento.

Varanda e vista livre também são características importantes para mais de 50% dos entrevistados em uma pesquisa do Grupo ZAP. Os respondentes também disseram que ambientes mais bem divididos serão importantes ou muito importantes no pós-pandemia – guinada contrária à ascensão dos estúdios e, como diriam os Irmãos à Obra e outros programas da TV a cabo, “open concept” (conceito aberto, na tradução livre).

Ninguém aguenta mais lavar louça e nem cozinhar, ainda que o isolamento tenha feito a cozinha voltar a ser o coração da casa. Segundo uma pesquisa da startup Loft, 46% das pessoas estão cozinhando e reconhecendo a importância do cômodo.

Ainda, há os que levam em consideração a autonomia dentro do próprio bairro. Sete em cada dez entrevistados do ZAP declararam que morar em uma vizinhança com mais comércios e serviços passou a ser importante ou muito importante depois do isolamento social. Proximidade com transporte público continua relevante – com ou sem pandemia.

O desejo do contato com a natureza, a valorização da cozinha, a reinvenção dos comércios de bairro ilustra como o mundo funciona de forma cíclica. Continuando com a referência a Elis, o “novo normal” não é tão novo assim: parece que “ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”.

Para a jornalista que vos escreve, uma casa no campo cairia bem, mas queria mesmo um banheiro extra, uma sacada e pelo menos 6h de sol para plantar meus próprios temperinhos.