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Mas afinal, o que é uma Smart City ou “Cidade Inteligente”?

A expressão “Cidades inteligentes” está ganhando cada vez mais espaço de discussão não apenas no mercado imobiliário, mas também no interesse de pessoas de maneira geral (provavelmente ou simplesmente porque as pessoas moram em cidades). Massimo Russo (sócio sênior emérito na BCG e um ex-fellow do BCG Henderson Institute) alcançou a marca de mais de 1 milhão e meio de visualizações, pela plataforma TED Talks, falando sobre o tema. 

No ambiente acadêmico, universidades como o MIT e Stanford têm incluído em suas disciplinas temas e pesquisas relacionadas à inovação urbana, tecnologias inteligentes e sustentabilidade. 

O Brasil, em cooperação com o governo alemão, desenvolveu uma carta delimitando conceitos e oferecendo recomendações para a construção de uma “estratégia nacional para Cidades Inteligentes”. 

Mas o que faz uma cidade ser “inteligente” ou classificada como “smart city”?

Conceito de Smart Cities

Na verdade, o termo “Smart City” é um rótulo bem sucedido. Desde da década de 80, já se idealizavam cidades que tivessem uma capacidade própria de se autogerenciar e interagir com os cidadãos, como pudemos ver em filmes de ficção científica. 

Não é um conceito bem claro ou pacificado em todo o mundo, mas é bem aceito no mundo acadêmico. Para não deixarmos essa questão sem resposta, vai aqui minha ideia de Cidade Inteligente, baseada em diversas leituras: Cidades Inteligentes ou Smart Cities são centros urbanos que utilizam tecnologia de conectividade e gestão de dados para melhorar a qualidade de vida dos habitantes e o ambiente de negócios.

Ou seja, três elementos-chave são pré-requisitos para chamarmos uma cidade de inteligente:

  1. Conectividade;
  2. Utilização de dados;
  3. Envolvimento público (Prefeitura e comunidade).

Portanto, assim como os smartphones, se a cidade não for pensada para interesses das pessoas e se não houver a participação delas no seu desenvolvimento, não é o mero uso de tecnologia que fará uma localidade “smart”. 

Pelo mundo

As cidades têm diferentes vocações e necessidades e por isso estão se desenvolvendo com diferentes usos de tecnologia. Vejam alguns exemplos:

Singapura: Conhecida como uma das líderes em smart cities, a cidade-Estado utiliza tecnologias avançadas para monitorar o tráfego, a segurança pública e até mesmo o uso de banheiros públicos. 

Tóquio: Utiliza sistemas inteligentes para otimizar o consumo de energia e, pasmem, monitorar o crescimento de árvores nas áreas urbanas.

Barcelona: A cidade catalã implantou sensores em diversos pontos para monitorar o tráfego, coletar dados ambientais e otimizar a coleta de lixo.

Copenhague: A capital dinamarquesa utiliza tecnologias para melhorar a mobilidade urbana, promovendo o uso de bicicletas e transportes públicos eficientes.

Seul: Implementou uma infraestrutura avançada de rede 5G, além de usar a tecnologia para monitorar a saúde dos idosos.

Amsterdã: Utiliza sensores para monitorar a qualidade do ar, controlar o tráfego de bicicletas e até mesmo otimizar o uso de energia em edifícios públicos.

Dubai: Utiliza inteligência artificial para oferecer serviços públicos automatizados.

Mobilidade Urbana

As primeiras iniciativas sobre uso de análise de dados e conectividade para melhoria da qualidade de vida dos habitantes de uma Smart City foram direcionadas para a melhoria da mobilidade urbana. Aqui, um gráfico com as cidades melhor ranqueadas:

Para tanto, algumas inovações foram implementadas:

Sensores e Internet das Coisas: Ajudam, por exemplo, a controlar semáforos e iluminação pública que são adaptativos. Explico: dependendo do engarrafamento, muda o tempo de espera de um semáforo. Outro exemplo é a quantidade luz solar que interfere no acender e apagar dos postes de luz;

Veículos Autônomos e Conectados: permite o uso compartilhado de veículos como por exemplo carros, bicicletas e patinetes elétricos;

Less Mile Gap: É uma prática que consiste em, por meio de Aplicativos e Plataformas de Mobilidade, identificar a menor distância entre a porta da sua casa e o transporte mais próximo naquele momento, incluindo carros elétricos compartilhados;

Easy miles: Ônibus compactos que vão te buscar no horário agendado por um aplicativo. (já em teste em Berlim);

Digitalização das ruas: Em Amsterdam, alguns carros já contam com modems para avisar qual velocidade é mais inteligente para você conduzir, de maneira que você não pegue um sinal fechado, por exemplo;

Transportes inteligentes em hidrovias: Também em Amsterdam, temos barcos com sensores a laser que mapeiam o que está no caminho. Útil para transporte de pessoas e na coleta de lixo. 

No Brasil

O Brasil tem um programa próprio para estimular e fomentar cidades inteligentes, respeitando pilares como igualdade social e desenvolvimento sustentável. 

Em agosto de 2020, a cidade mineira de Ouro Preto assinou uma parceria público-privada colocando em marcha os planos de se tornar a primeira smart city histórica do Brasil. 

No Ceará, a Smart City Laguna (em São Gonçalo do Amarante, distrito de Croatá), é a primeira cidade brasileira a nascer inteligente, pois está sendo construída do “zero” com essa finalidade.

Privacidade

As smart cities buscam integrar tecnologias para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. No entanto, o uso extensivo de tecnologias em cidades inteligentes também levanta preocupações quanto à privacidade. Aqui estão alguns pontos:

Coleta excessiva de dados pessoais: Pode levar à criação de perfis detalhados dos indivíduos, representando uma ameaça à privacidade.

Vigilância em massa: Isso pode levar a uma sensação de invasão de privacidade e à restrição da liberdade individual. 

Falta de transparência: É importante que as autoridades forneçam informações claras sobre como os dados são tratados.

Falta de consentimento informado: Em maio de 2023, uma campanha comercial no metrô de São Paulo coletou, sem prévia autorização e por reconhecimento facial, a emoção, gênero e faixa etária das pessoas posicionadas em frente a anúncios publicitários.

Inclusão digital e desigualdade: As tecnologias nas cidades inteligentes podem criar divisões digitais, onde determinados grupos têm acesso limitado às soluções tecnológicas.

Existem diversos desafios na implementação de processos e tecnologias para cidades inteligentes como, por exemplo, questões legais. Em caso de acidentes envolvendo carros autônomos, quem é o responsável? Quais os limites do monitoramento de pessoas em nome da segurança pública? 

Até que possamos responder estas perguntas, não teremos grandes novidades em cidades brasileiras.

Por: Daniel Claudino LinkedIn | Instagram

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Daniel Claudino

Daniel Claudino é empresário, escritor e especialista em mercado imobiliário, graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Brasília - UnB, tem MBA em Planejamento em Marketing pela ESPM e especialização em Design Thinking e Direito e Negócios Imobiliários. Também atua como advisor em importantes players do mercado imobiliário como a Cupola, ABMI (Associação Brasileira do Mercado Imobiliário) e atualmente como Diretor de Inovação do CRECI-DF. Autor da obra “A Natureza do Mercado Imobiliário”.

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