José Izidoro, proprietário da JSI Imóveis
Imobiliárias

José Izidoro, uma inspiração para jovens negros no mercado imobiliário

Em uma semana marcada por protestos contra o racismo, tanto físicos quanto virtuais (quem não foi surpreendido por uma timeline inteira preta, na última terça-feira, com o #blackouttuesday?), no Brasil e no mundo, torna-se imprescindível fazer uma reflexão sobre a visibilidade dos negros na sociedade, inclusive no mercado imobiliário. E ninguém melhor para falar sobre o assunto do que quem vive isso na pele. José de Souza Izidoro é proprietário da JSI Imóveis, imobiliária de Cabo Frio (RJ). Ele conseguiu conquistar seu espaço no setor, mesmo vindo de uma família humilde de Caxias, na Baixada Fluminense, mostrando que competência profissional independe de cor. 

José Izidoro, proprietário da JSI Imóveis
José Izidoro, proprietário da JSI Imóveis

“É claro que a minha vida foi muito difícil, porque o negro sempre tem de fazer muito mais do que uma pessoa de cor branca para ter reconhecimento. Porém, um aprendizado que trago comigo é que tudo na vida fica mais fácil com conhecimento. É ele que faz as portas se abrirem, independentemente da cor. Foi assim que eu, que vinha de uma família com pais praticamente semianalfabetos, consegui crescer dentro do mercado, após fazer uma faculdade com grande dificuldade”, analisa Izidoro, que já acumula mais de 25 anos no mercado imobiliário. 

Sobre racismo, ele é categórico: “É claro que já passei por situações assim. Se dissesse que não, estaria mentindo”. Porém, mesmo em uma breve conversa, é possível perceber que o rancor não faz parte do dicionário de Izidoro e que, em vez de ficar remoendo o que já aconteceu, ele prefere ter uma postura mais otimista e tirar lições dos momentos adversos pelos quais já passou. “Em todas essas situações, consegui passar por cima das dificuldades e fazer com o que meu conhecimento mostrasse a essas pessoas que elas deveriam nos respeitar mais como pessoa, como ser humano. Em muitas situações, essas pessoas até pediram desculpas e passaram a admirar meu trabalho”, comenta. 

É justamente por essa garra, essa força de vontade, esse otimismo, que o próprio empresário se considera uma referência para jovens profissionais negros que estejam ingressando no mercado imobiliário. “Tem muito jovem por aí que quer crescer no mercado de trabalho, mas acaba se retraindo com medo do racismo. Por isso que eu sempre me coloco à disposição para conversar com essas pessoas que estão começando, contar minha história, pois sei que ela pode servir de inspiração para muita gente, principalmente para muitos jovens negros”, reforça. 

Izidoro ainda destaca alguns conselhos que poderia dar a esses jovens profissionais negros que estão ingressando no mercado profissional: “Em primeiro lugar, tem de ter em mente que se você tiver força de vontade, você vai conseguir vencer. Por isso, nunca desista. Certamente, haverá obstáculos, mas conhecimento é algo que ninguém tira da gente e é por isso que a gente tem de se apoiar nele, ainda mais hoje em dia, em que temos muitos recursos, como cursos na internet, livros baratos, pessoas dispostas a ajudar. Na minha opinião, o mercado de trabalho já melhorou muito. Então, se o jovem estudar, terá reconhecimento e será respeitado. Assim, as oportunidades surgem e não é a cor que vai atrapalhar, não”, garante. 

Aliás, essa tem sido a estratégia do próprio Izidoro para se readequar ao novo mercado, devido às mudanças provocadas pela pandemia do novo coronavírus. Aos 60 anos, ele tem dedicado boa parte de seu tempo para fazer cursos online, que o permitam entender essa nova realidade do mercado imobiliário. “Com o tempo, estudando um pouco mais, a gente percebe que o mundo mudou. Não dá para continuarmos atendendo nossos clientes como fazíamos antes do coronavírus. Quem continuar fazendo tudo igual, vai quebrar. Precisamos ir até as pessoas porque elas não podem sair de casa e as redes sociais estão aí para nos ajudar, pois temos que pensar em como melhorar o atendimento aos nosso clientes. Esses cursos que estou fazendo me dão uma visão de mercado que eu não tinha antigamente, incluindo uma valorização maior do marketing digital”. 

Mas, afinal, como foi que Izidoro entrou para o mercado imobiliário? Essa história, ele também tem muito orgulho de contar! “Na época, comprei um terreno e estava com dificuldades para pagar. Então, fiz uma proposta para a pessoa que me vendeu o terreno de levar amigos da empresa onde eu trabalhava para comprar com eles e aí ir abatendo a prestação. Só que chegou em um determinado momento, eu mesmo já fazia o trabalho que o corretor faz, mostrava o terreno e entregava tudo pronto praticamente. Fui tomando gosto pelo negócio, fui percebendo que aquele era o meu sonho. Então, comecei vendendo para ela e, em 1999, montei meu próprio escritório”, relembra. 

A mudança para Cabo Frio, em 2001, também foi um momento gratificante para Izidoro em sua trajetória profissional. “Lá em 1999, já comecei vendendo terrenos na região dos Lagos para pessoas que tinham o sonho de ter casa de veraneio na região. E fui percebendo que era muito gratificante realizar o sonho delas, por meio do meu sonho. Também foi assim que consegui dar melhores condições de vida para os meus pais e, depois, para os meus filhos”. 

Tags:

Ana Carolina Bendlin

Formada em jornalismo há mais de 15 anos, já atuou como repórter em importantes jornais de Curitiba. Ele é uma das responsáveis pelos conteúdos do portal e pela newsletter do Imobi Report.

Ver artigos

  1. Juvenal Franco da Costa disse:
    Boa noite! Conheci o José de Souza Izidoro no início do anos 70, quando estudei com ele no Colégio São José, em Duque de Caxias. Fiquei muito feliz em saber da sua história e que hoje me dia é um grande empresário.

    às 19:30