Falta de atratividade é principal causa para escassez de mão de obra na construção
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Trabalho pesado, exposição ao clima, risco de acidentes, baixo índice de inovação e conflitos geracionais. Esses são alguns dos principais motivos que afastam os jovens da construção civil. Entre os trabalhadores que resistem na área, a idade mais avançada significa menos vitalidade para o desempenho das atividades, além do encerramento da carreira em breve em função de aposentadoria.
Esses são os componentes para o que tem sido chamado de um possível apagão da mão de obra na construção civil brasileira, que poderia ocorrer nos próximos anos. Segundo pesquisa da CNI com apoio da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC), a falta ou alto custo do trabalhador especializado é a primeira preocupação do empresário da construção civil.
A força de trabalho humana ainda é central para a construção civil brasileira. Os profissionais da área atuam em condições difíceis e, muitas vezes, perigosas. Para as novas gerações, familiarizadas com as constantes inovações digitais, “por a mão na massa” pode não fazer parte dos seus planos de carreira.
Para o coordenador do Grupo de Trabalho de Recursos Humanos (GTRH) do SindusCon-SP e diretor-executivo do Grupo Kallas, David Fratel, é preciso aumentar a atratividade da área para novos profissionais. “A construção civil exige esforço físico, dedicação e vitalidade. Os profissionais ficam expostos ao sol, à chuva, ao vento, à poeira, ao barulho. Precisamos melhorar as condições para que os jovens se interessem pela área”, afirma.
O executivo ainda chama a atenção para um problema geracional. Ele conta que, na construção civil, existe a convivência de pessoas pertencentes a até quatro gerações, com profissionais com idade entre 20 e 70 anos. “Isso gera um conflito muito grande em termos de visão de mundo e valores. As gerações têm diferentes formas de trabalhar. Os jovens, por exemplo, são imediatistas, querem crescer rápido, comunicam-se resumidamente. Muitas vezes isso não é condizente com a forma com que os mais velhos trabalham”, exemplifica Fratel.
O trabalhador da construção civil Idailmo Sousa, que atua em Picuí (PB), concorda que é necessário mais atenção e incentivos para os profissionais da área, tanto públicos quanto privados. “Nós, pedreiros e pedreiras, construímos sonhos e levantamos o Brasil ao custo do nosso suor”, justifica.
Sousa tem 38 anos e foi finalista do reality show Pedreiro Top Brasil, promovido pela Quartzolit. Ele segue os passos do pai, que tem 65 anos e ainda atua em canteiros de obras. Ao abordar o peso da idade, Sousa afirma que espera algum dia poder se aposentar. “Sofri um acidente há três anos e tenho problemas no meu braço direito. Sem aposentadoria, trabalho por necessidade”, conta.
Reflexos
A escassez de profissionais gera dificuldades de produtividade nos canteiros, atrasos de produção, dificuldades de planejamento e gestão e inflação de preços, alerta o vice-presidente de Relações Trabalhistas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC), Ricardo Michelon. Ele argumenta que o problema é mais preocupante no longo prazo. “Não vejo a hipótese de apagão de mão de obra no curto prazo, pois os movimentos são lentos e orgânicos. Mas, com certeza, a possível ausência desses trabalhadores resultaria na redução do setor como um todo”, afirma.
O CEO da construtora Plano&Plano, Rodrigo von Uhlendorff, destaca, como agravante, a expansão da demanda por habitação, exigindo a qualificação dos profissionais. “O mercado imobiliário vive um momento de crescimento, com aumento na quantidade de obras em todo o país, impulsionado, principalmente, pelo segmento econômico do programa Minha Casa, Minha Vida. A formação de profissionais qualificados não foi capaz de alcançar essa demanda crescente”, diz.
Para contornar o problema, Uhlendorff defende a organização e o alinhamento com stakeholders. “Na Plano&Plano, nós priorizamos as relações com fornecedores e empreiteiros. Também investimos muito na qualificação de nossos profissionais, o que nos possibilita operar sem atrasos ou falta de mão de obra”, afirma. Atualmente, a empresa tem 50 canteiros de obras, com mais de 22 mil unidades em construção.
Na terceira matéria do Imobi Report sobre a escassez da mão de obra na construção civil, que será publicada na próxima semana, confira outras soluções e alternativas do mercado para minimizar o problema.
Tudo certo! Continue acompanhando os nossos conteúdos.
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