Gerente de locações vira cientista de dados e impulsiona imobiliária
Resumo
Em entrevista, Arthur Lunardi da Orion conta como o uso da raspagem de dados auxilia imobiliárias a medir share e encontrar oportunidades.
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Os unicórnios que invadiram o mercado imobiliário brasileiro nos últimos anos trouxeram um valioso ensinamento: a cultura de dados propicia enorme vantagem competitiva. Em meio à disputa bilionária entre gigantes adeptos do “big data”, como QuintoAndar, Loft e Airbnb, a boa notícia para imobiliárias mais tradicionais é que o avanço da tecnologia tem facilitado o acesso a informações do mercado sem a necessidade de grandes investimentos, através de mecanismos como a raspagem de dados.
A Orion, imobiliária e consultoria de Santa Maria (RS), é um bom exemplo de companhia de menor porte que obteve benefícios mergulhando nas informações disponíveis a qualquer usuário da internet. A empresa tem utilizado a raspagem de dados – técnica que consiste no uso de ferramentas para extrair de forma automática números públicos na internet (como nos sites de concorrente ou de anúncios de imóveis), planilhá-los e avaliá-los – como meio de medir seu share e as oportunidades do mercado, e a partir disso criar estratégias comerciais.
Com essa técnica, é possível, por exemplo, calcular o aluguel médio em determinado bairro, o ticket médio de uma imobiliária, a taxa de condomínio padrão em uma cidade, o valor do imóvel por número de quartos ou vagas na garagem – enfim, uma infinidade de cruzamentos de informações que podem ser trabalhados para entender o mercado local.
O gerente de locações da Orion, Artur Lunardi, chegou a fazer um curso profissionalizante em ciência de dados para aprofundar os conhecimentos e aplicá-los na empresa. Segundo a própria Orion, desde a implementação da raspagem de dados, o número de anúncios de imóveis de locação aumentou 53% e o tíquete médio subiu 18%. Com isso, o valor de locações fechadas subiu 49% nos cinco primeiros meses de 2021 em comparação com o mesmo período do ano passado.
Lunardi, inclusive, criou um repositório (pasta para guardar projetos) público pelo qual fornece um tutorial gratuito sobre como obter e organizar dados de um site de anúncios imobiliários (no caso, o Viva Real). Em outro projeto, disponibilizou na rede o código-fonte de um algoritmo de busca de imóvel para locação na internet.
Em entrevista ao Imobi Report, Artur diz que a organização dos dados colhidos do mercado e dos concorrentes ajuda a estruturar a própria captação de imóveis. “Fica mais simples para a equipe encontrar o que está disponível e filtrar melhores imóveis para captar, saindo da velha prática de sair para pesquisar na rua”, conta.
Imobi Report: Na prática da raspagem de dados, há um limite para não caracterizar o uso indevido das informações de um concorrente, por exemplo?
Artur Lunardi: A raspagem de dados nada mais é do que um método de extrair informações públicas de páginas da internet. Então tudo que está disponível para o público pode ser extraído. E nisso entramos na postura ética entre quem está extraindo e quem vai extrair. Existem alguns acordos de cavalheiros em que as pessoas fazem essa limitação do que pode ou não ser extraído, qual página pode ser acessada e o tempo de requisição para que não haja sobrecarga no servidor de quem está fornecendo essa informação. Tudo isso é legal, mas exige muita ética.
Imobi Report: Você organizou uma ferramenta que usa técnicas da ciência de dados para ajudar um cliente comum a localizar rapidamente o imóvel adequado ao seu perfil, incluindo até dados da vizinhança. É possível para uma imobiliária aplicar essa mesma lógica para monitorar os imóveis disponíveis e entender seu mercado?
Artur Lunardi: Com certeza. Uma das principais aplicações da raspagem é o agrupamento e a tabulação desses dados, colocá-los de forma ordenada. Com isso vamos criando algumas métricas do que podemos ou não analisar, como o valor do aluguel, por bairro, agrupamento por setor, por finalidade etc.
Imob Report: E por que você resolveu disponibilizar para todo o público esse estudo?
Artur Lunardi: Aqui entramos no mundo de dois setores, o imobiliário e o da tecnologia. O setor imobiliário é conhecido por ser um pouco mais conservador, o pessoal não é muito acostumado a liberar esse tipo de informação, a compartilhar o que é criado. E o setor tecnológico, na outra mão, é muito mais aberto, o pessoal compartilha muito mais essa informação. Então tentamos trazer um pouco desse mundo tecnológico ao setor imobiliário para que todo mundo possa alavancar com o compartilhamento da informação, com essa transparência.
Imobi Report: Quais informações mais relevantes uma imobiliária de locação pode extrair com a raspagem de dados?
Artur Lunardi: Uma imobiliária de locação pode selecionar por exemplo o tíquete médio de cada bairro, a finalidade comum daquele bairro, como se comporta o preço dos aluguéis por setor, por tipologia, qual o preço do metro quadrado dos imóveis por cidade, separar por número de dormitórios… enfim, tudo que é disponibilizado pode ser agrupado e reordenado de alguma maneira. E isso agrega muito para a imobiliária porque ela terá um conhecimento maior do seu setor, da sua cidade e de como se comportam seus concorrentes em comparação a si mesma.
Imobi Report: E para a imobiliária que queira entrar nesse universo, o que é mais viável: capacitar um técnico de TI ou BI (Business Intelligence), ou então contratar esse serviço externamente?
Artur Lunardi: O método de raspagem pode ser feito de diversas maneiras, inclusive manual. Se uma pessoa entrar hoje num site, copiar e colar, isso já é considerado uma raspagem, mas é um trabalho que demanda muito tempo, então não é aconselhável. Algumas ferramentas fazem esse processo de terceirização, mas elas são um pouco menos flexíveis. Elas não demandam tanto conhecimento técnico, mas também não podem se aprofundar nesse assunto. E por fim, nós temos o profissional, o desenvolvedor ou programador que domine alguma linguagem de programação que seja capaz de fazer isso. Seria um profissional capacitado para fazer essa raspagem, organizar as informações de maneira ordenada e conseguir disponibilizar isso para seus gestores.
Imobi Report: De que forma o monitoramento de dados pode ajudar a imobiliária a melhorar a taxa de conversão?
Artur Lunardi: Quanto mais conhecimento você tiver sobre o seu negócio, mais você pode direcionar suas atividades, sua captação, seus esforços comerciais, a gestão de sua equipe. Toda informação pode ser utilizada para aumentar suas taxas e aumentar o seu faturamento.
Tudo certo! Continue acompanhando os nossos conteúdos.
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