“Políticas de apoio à locação serão única solução pós-COVID”, diz CEO da Alpop
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A Alpop é uma plataforma de aluguel de imóveis que trabalha exclusivamente com imóveis populares. Muitos dos inquilinos são trabalhadores autônomos, que devem ser os mais afetados pela crise sanitária da Covid-19. Além disso, muitos dos proprietários são pessoas que dependem desse valor mensal. Para tratar sobre os efeitos da pandemia, o cenário atual e as movimentações que o mercado e governo podem tomar para se recuperar da baixa, conversamos com a CEO da startup, Lilian Veltman.
Imobi: Você pode explicar um pouco sobre a Alpop?
Lilian: A Alpop é uma plataforma imobiliária que atua exclusivamente com a modalidade de locação. Nosso público tem renda familiar de até 6 salários mínimos e trabalhamos com imóveis populares, com valor final de locação em R$ 1.700, ou seja, 30% da renda familiar. Não exigimos comprovação de renda e atendemos muito da população de trabalhadores informais no Brasil. Garantimos para o proprietário o pagamento de até três meses de aluguel no caso de inadimplência, que seria mais ou menos o tempo que levaria para uma negociação ou ação de despejo. Também oferecemos acompanhamento jurídico.
Imobi: Como surgiu a Alpop?
Lilian: Surgiu quando percebemos que a cultura da propriedade no Brasil é ilusória. As soluções e políticas públicas nunca vão conseguir atender o déficit habitacional e as políticas de habitação popular atuais não são acessíveis às pessoas que precisam. Exige estabilidade financeira, exige que a pessoa more durante anos naquele imóvel sem conseguir vender ou alugar. É absolutamente fora da realidade do mundo moderno, no qual as pessoas mudam de emprego, mudam de família, de casa, de rotina etc. Justamente a população mais submetida a essa dinâmica é obrigada a casar com o imóvel por 25 anos. A gente acreditou e acredita no aluguel como solução social e motivou a criação do Alpop. Cremos que essa população pode morar bem sem ter um imóvel. O que as pessoas precisam é morar bem.
Imobi: Qual a expectativa de inadimplência com a crise do coronavírus?
Lilian: A inadimplência tende a crescer. Já temos sentido esse movimento, mas temos percebido, ao mesmo tempo, bastante flexibilidade para negociação da parte dos proprietários. Em um âmbito maior, ainda não surgiu nenhuma política definida, mas percebemos que os governos vão se posicionar em relação ao mercado de locação, assim como já vem sido feito em outros países. A questão de despejo, por exemplo, já está sendo tratada intensamente no âmbito jurídico.
Imobi: Como será para os contratos com garantia?
Lilian: Todos os nossos contratos com os proprietários têm garantia. Não sabemos o quão longo vai ser este período de instabilidade, mas estamos preparados para lidar com essa situação. Sabemos que não irá durar para sempre e que nossos proprietários estão garantidos durante este período. Até porque nossos proprietários costumam depender da renda. Diferente de grandes locadoras ou de proprietários que têm como renda alternativa, nosso perfil é um locador que tem um único imóvel, às vezes é, inclusive, um puxadinho. É um perfil que depende do aluguel quase tanto quanto o inquilino.
Imobi: Por outro lado, vocês acham possível que pessoas procurem novas opções de aluguel, mais baixas?
Lilian: Não vejo essa movimentação dentro da Alpop. Nós já trabalhamos com um valor de aluguel muito baixo. Apesar do nosso limite máximo ser R$ 1.700, nossa média mensal está entre R$ 900 e R$ 1.100. É uma faixa pequena, difícil de encontrar imóveis com valores mais baixos e, quando se encontra, já tem um padrão mais baixo também. Procuramos manter imóveis dentro no nosso padrão de qualidade e de fácil acesso ao transporte público.
Imobi: Quais mudanças de comportamento dos seus usuários vocês já puderam perceber?
Lilian: Diminuíram os acessos no portal e sabemos que temos em frente um momento de grande diminuição de fechamento de negócios. Não é o momento que as pessoas estejam buscando imóveis. Vemos também um movimento de baixa captação. Sinto que os proprietários estão inseguros.
Imobi: Quais consequências você enxerga no imobiliário brasileiro?
Lilian: Inicialmente, vejo uma dificuldade na venda de novos empreendimentos. Haverá um rescaldo de desemprego e endividamento. Pois as compras, as coisas não estão sendo anistiadas, mas parceladas, transferidas. Com o endividamento da população, não vai ser fácil comprar um imóvel. Assim, vejo uma tendência de imóveis novos e imóveis sendo construídos para venda mudando o foco para locação.
Imobi: E como o governo atua nesse cenário?
Lilian: No momento, o governo está mais preocupado com questões voltadas à saúde e repasse de renda. Imagino que no segundo momento, as políticas voltarão para o apoio do mercado imobiliário. Penso que a gente já não vinha em um bom momento. Havia um estoque de imóveis muito grande, estoques do Minha Casa Minha Vida parados e uma demanda de moradia muito grande. Na minha visão, deveriam ser consideradas políticas que facilitem o acesso às moradias que já estão construídas.
Imobi: Então, o aluguel pode ser a solução para a recuperação pós-covid?Lilian: Sinto que a própria economia vai levar a essa solução: os incorporadores, os empresários que estão construindo imóveis que vão ficar parados, que vão se endividar, vão procurar soluções como a Alpop, que garante o pagamento do aluguel. E, depois, irão pensar em um plano de venda. A iniciativa privada vai dar indícios de onde o governo vai ter que caminhar e teremos que ter um olhar para a questão habitacional de uma forma integrada. As políticas de apoio à locação serão a única solução e acredito que esta será a grande mudança pós-coronavírus.
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