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Corretores influenciadores: redes sociais são obrigatórias para vender imóveis?

Estamos vivendo a era da criação de conteúdo e dos corretores influenciadores, também conhecidos como house influencers ou “corretores-estrela”. É mais um fenômeno impulsionado pelas redes sociais e que impacta, especialmente, o mercado de venda de imóveis.

Ferramentas como YouTube, Instagram e TikTok são usadas por estes corretores de imóveis para conquistar novos clientes, mas também para validar o sucesso entre os profissionais de venda.

Alguns personagens do mercado imobiliário conquistaram tanto sucesso nas redes que chegaram, até mesmo, a protagonizar grandes campanhas publicitárias. 

No Brasil, o caso mais recente foi o de Augusto Braga, corretor de alto padrão do Rio de Janeiro, contratado pelo banco Santander para uma campanha de financiamento imobiliário. No exterior, são expoentes nomes como Ryan Serhant e Fred Eklund, dos Estados Unidos.

O fato é que a onda de house influencers está crescendo e mais corretores estão entrando em evidência nas redes sociais. 

Para muitos curiosos do mercado, a primeira dúvida que surge é se, de fato, os corretores influenciadores realmente fecham muitos negócios, ou se são apenas “marqueteiros”. 

Também surgem questões ligadas às práticas do profissional. Esta exposição é algo bom ou ruim? Como o corretor de imóveis deve encarar este novo momento? É melhor ser discreto ou ser ativo?

O Imobi Report conversou com alguns profissionais que lidam diretamente com este universo.

Direto ao ponto: os corretores influenciadores vendem mais?

Quais são os resultados dos corretores de imóveis que apostam pesado nas redes sociais? Os relatos mostram que, com mais leads, há mais portas abertas e maior possibilidade de fechar negócios.

Um dos maiores diferenciais dos corretores influenciadores é a autenticidade. Um exemplo é o de Neto Corretor, da Neto Imóveis, de São Paulo (SP). Em seu Instagram, que tem mais de 42 mil seguidores, ele aposta em vídeos simples e divertidos, que criam conexão com seu público.

“Produzo vídeos que são engraçados, mas não tenho um roteiro. Levo as coisas do meu próprio jeito. Desta forma, o resultado foi rápido após entrar no Instagram. Em pouco tempo melhorei os negócios em 200%. Eu mesmo faço o conteúdo, não tem mais nenhum investimento por fora”, conta ele.

Neto tem uma agenda disputada, que inclui contato de jogadores de futebol e constantes visitas a Centros de Treinamento de grandes clubes. Em suas postagens no feed, o destaque está na vida social e no contato com clientes famosos. Nos stories, Neto compartilha um pouco da correria da rotina.

“Por conta desta agenda que fui abrindo, hoje 80% das vendas surgem a partir do Instagram, com o restante vindo de indicações”, revela Neto.

Não é preciso falar só de imóveis para gerar negócios

De acordo com Guilherme Blumer, especialista em marketing e mentor de negócios, o grande negócio dos corretores que produzem conteúdo está na maneira que eles retêm a atenção das pessoas.

“Eles entenderam como usar as mídias para criar um diálogo. Eles não estão falando sozinhos. Estes profissionais conseguem, por meio de autenticidade e entretenimento, criar um modelo de negócio em que o tráfego vai diretamente para eles”, aponta Blumer.

Os criadores de conteúdo, com constância, se tornam marcas e extrapolam o nicho imobiliário. Fora do segmento, existem artistas como Rihanna e Gusttavo Lima, que vão além da música e têm linhas de produtos de moda e cosméticos. 

Enquanto isso, no imobiliário, o corretor de alto padrão carioca Augusto Braga virou garoto propaganda do Santander.

“Em vez de imóveis, ele está vendendo financiamento. Isso é vender o mercado imobiliário. Naquele momento, ele pode não estar na função de corretor, mas é tudo sobre atrair atenção. É como, no futebol, o Neymar ser contratado por alto preço, mas dar retorno para esse investimento com a venda de camisas”, compara Blumer.

Sobre o dilema de os corretores influenciadores fugirem do tema “venda de imóveis”, Guilherme Blumer acredita que não se trata de um problema, mas uma oportunidade.

“Achar que é ruim fugir do tema imobiliário, na minha visão, é um pensamento limitado. Essa cauda longa, como se fala no marketing, permite contato com outros temas e abre possibilidade para mais negócios, até mesmo a venda de cursos, como já acontece. Mas deve existir a atenção para uma saturação de perfis parecidos, é preciso buscar sempre um diferencial, algo único”.

Como o corretor deve utilizar as redes sociais

Enquanto observamos alguns corretores no topo, os demais podem ter o sentimento de que ficaram para trás e precisam apostar na mesma fórmula. Contudo, é preciso ressaltar que, em alguns casos, os influenciadores usam 80% ou mais de seu tempo para produzir conteúdo, inclusive contando com um time de apoio.

“A rede social é minha vitrine de negócios”, diz abertamente Kleverson Passos, que tem foco na venda de imóveis de luxo no Espírito Santo. Ele é um dos maiores corretores criadores de conteúdo do Brasil, com mais de 100 mil seguidores.

No Instagram, Kleverson conta com postagens diárias no feed, que, em geral, envolvem a apresentação de imóveis. Enquanto isso, os stories misturam pedaços de sua rotina com oportunidades de negócios.

O case de Kleverson Passos envolve trabalho pesado, pois, apesar de ele tomar a frente de negócios e produzir muito conteúdo, existe uma equipe para criação de artes, vídeos e gerenciar publicações.

Esta estruturação pode gerar ansiedade em corretores que engatinham nas redes sociais, ou que pretendem tentar seguir o caminho da exposição.

“Só que não existe certo ou errado. Grande parte dos bons corretores, que fazem os maiores negócios do Brasil, não bombam no Instagram”, destaca Sergio Langer, especialista em marketing e na estratégia de lançamentos imobiliários.

Na opinião de Langer, o início de tudo depende do que o próprio corretor quer para si. Se a resposta é fechar mais negócios, sem restrições com a exposição, o bom uso das redes sociais pode ser uma ferramenta importante.

Existe hora certa para o corretor apostar nas redes?

“Não precisa esperar ter milhares de seguidores para começar a fazer um trabalho. O número menor aumenta a possibilidade de engajamento. Os corretores autônomos, em especial, entenderam esta lógica melhor do que as imobiliárias e houses de incorporadoras. Eles estão atraindo clientes, enquanto as empresas têm uma brecha a ser explorada para a atração de talentos e de compradores”, analisa Sergio Langer.

Para fechar, Langer pondera que os profissionais do imobiliário que olham para as redes sociais precisam tomar cuidado com a saúde mental e a autocobrança.

“Tivemos, especialmente na pandemia, corretores com quadro de depressão, sentindo-se pequenos ao ver tantas imagens e vídeos de outros corretores ostentando carrões e negociando mansões. Também já presenciei corretores com o conflito interno entre gerar engajamento virtual e fechar vendas reais. É muito fácil perder o foco. O profissional precisa ficar atento com a vaidade e sempre focado em sua prioridade”, afirma.