Atrasos na construção civil brasileira
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Atrasos na construção civil brasileira implicam perdas de R$ 59 bilhões

Os atrasos são um problema recorrente na construção civil brasileira. Um levantamento feito pela consultoria Deloitte, a pedido da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirma que o tempo médio para erguer um prédio padrão no país é de dois anos. Em um cenário ideal e sem percalços, esse tempo poderia ser reduzido pela metade, conforme entrevistas realizadas com os executivos das 40 maiores construtoras do país. 

O estudo “Burocracia na Construção: o custo da ineficiência nos processos” também estimou o custo desses atrasos, tanto relacionados ao mercado imobiliário quanto às grandes obras de infraestrutura. Avalia-se que, no período de 2023 até 2025, a construção civil deixará de ganhar R$ 59,1 bilhões em função desse tempo maior para conclusão dos projetos. O valor equivale a 8% dos investimentos previstos para o setor no período. 

Para falar sobre esse cenário, o Imobi Report consultou especialistas da COPPE/UFPRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Sinduscon-PR (Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná). Veja o que eles têm a falar sobre o assunto. 

Obstáculos no caminho da eficiência 

O vice-presidente de Inovação e Tecnologia do Sinduscon-PR, Fabio Giamundo, aponta para duas questões-chave que contribuem para os atrasos nas obras no Brasil: o planejamento deficiente e a baixa produtividade dos métodos construtivos. Ele ressalta a falta de planejamento adequado – tanto na fase de elaboração dos projetos, quanto na fase execução das obras – como um fator determinante para os problemas enfrentados pelo setor. Essa falta de organização acaba por gerar desperdício de recursos, humanos e materiais, e contribui para a morosidade na conclusão das obras.

Giamundo cita que há uma variedade de sistemas construtivos que podem, potencialmente, reduzir os custos por meio da diminuição do prazo de execução. Embora os sistemas racionalizados ou industrializados (em que ocorre a otimização do processo construtivo, com técnicas semelhantes a de uma linha de montagem) possam parecer mais dispendiosos que os métodos convencionais, é fundamental realizar uma análise detalhada de engenharia a respeito deles, levando-se em consideração não apenas os custos isolados, mas também a produtividade geral do sistema. 

O especialista ainda relata que persistem algumas resistências em relação a certos métodos construtivos, como o drywall, muitas vezes baseadas em concepções culturais. “O uso de vedações em drywall pode ser percebido como menos robusto do que a alvenaria. Porém, o drywall oferece benefícios adicionais, como maior conforto térmico e acústico, além de alívio nas fundações”, relata Giamundo. Outra barreira mencionada é a relutância em adotar prazos mais curtos de construção, especialmente em mercados onde as obras são financiadas pela carteira de vendas dos clientes. 

Tempo é dinheiro

O professor e doutor em Engenharia Estrutural da COPPE/UFRJ, Alberto Leal, afirma que a adoção de sistemas construtivos mais rápidos está diretamente ligada à antecipação de retornos financeiros. “Em um hospital, por exemplo, a redução do prazo da obra acaba antecipando o funcionamento do empreendimento. E cada dia a mais de funcionamento desse hospital conta quando o assunto é dinheiro”, diz.  

Tanto Leal quanto Giamundo reconhecem que as soluções inovadoras implicam em investimentos iniciais mais altos. No entanto, Giamundo ressalta que é possível viabilizar o uso dessas soluções por meio de um planejamento técnico adequado e da consideração dos ganhos que elas proporcionam em termos de redução de custos ao longo do ciclo de vida da obra. Leal acrescenta que, em um contexto de escassez de mão de obra, a redução do tempo de construção pode representar uma economia significativa em termos de recursos humanos.

O vice-presidente de Inovação e Tecnologia do Sinduscon-PR alerta também que o prazo de conclusão da obra influencia o contexto da viabilidade financeira do empreendimento, especialmente em projetos financiados por instituições bancárias. Ao optar por sistemas construtivos racionalizados ou industrializados, é possível obter uma redução de até 20% no tempo de execução do projeto (como quando acontece a entrega em 30 meses, ao invés de 36 meses). Com isso, observa-se um impacto significativo nas margens de lucro. Apesar do aumento de aproximadamente 5% nos custos da obra, essa redução no prazo resulta em uma elevação das margens, como indicado pela Taxa Interna de Retorno (TIR).

Solução emergente para escassez da mão de obra

A industrialização e a racionalização dos processos construtivos são apontados como fundamentais para superar os desafios enfrentados pela construção civil. Os especialistas afirmam que é necessário quebrar paradigmas e acelerar a adoção de inovações nos métodos construtivos, principalmente frente à escassez de mão de obra. Para eles, a resistência em relação à implementação de inovações pode ser superada por meio de um planejamento adequado. 

A melhoria da produtividade no setor deve acontecer a partir da utilização de práticas mais eficientes e sustentáveis, que permitam não só reduzir o tempo de construção, mas também otimizar o uso dos recursos disponíveis. À medida que o mercado evolui e que problemas como a escassez de mão de obra se intensificam, as empresas que não se adaptam correm o risco de ficar obsoletas, perdendo oportunidades valiosas de crescimento e inovação.