Locação ou vendas? Dados de rentabilidade estão surpreendendo as imobiliárias

Resumo
A rentabilidade das operações (locação ou vendas) é uma discussão antiga dentro das imobiliárias e é o tema deste conteúdo do Imobi. Confira.
Receba as principais notícias do mercado imobiliário
-
Ler uma amostra.
Uma discussão antiga dentro das imobiliárias é sobre qual operação é mais lucrativa: locação ou vendas? A resposta depende do balancete e da percepção dos gestores, mas há um risco inerente de falhas nessa avaliação, devido a cálculos imprecisos e dificuldades na separação de cada centro de custo.
A resposta também difere conforme o mercado local, a segmentação da imobiliária e até a energia gasta pela empresa em cada nicho. Mas a crença predominante no mercado ainda é que a operação de locação é subsidiada pela de vendas, que tem comissões mais gordas e demanda estrutura menos robusta.
Nos últimos anos, com o aperfeiçoamento de ferramentas e a disseminação de técnicas que facilitam o controle de métricas internas, ficou mais fácil retratar com precisão o desempenho de cada centro de custo.
Muitas empresas que atuam com intensidade semelhante nas duas frentes, e se dispuseram a calcular a rentabilidade conforme a operação, ficaram surpresas ao verificar os números e constatar que a locação era subdimensionada.
Ou seja, tem se tornado cada vez mais comum os relatos de que a maior fonte de rentabilidade das imobiliárias é o aluguel, e não vendas. Um dos exemplos é o da Sancruza, imobiliária com quase 7 décadas de vida, sediada em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG).
A Sancruza estabeleceu há alguns anos a separação meticulosa de receitas e despesas em suas três unidades de negócio (vendas, locação e incorporação). Na primeira aferição de resultado, os dados foram impactantes, conta Carlos Henrique Santos, diretor comercial e acionista da empresa.
“Tomamos um susto quando percebemos que a lucratividade de vendas era bem inferior à realidade. E sou capaz de apostar que a maioria das imobiliárias que não fazem este rateio de custo têm essa mesma percepção, de que a margem de lucro de vendas é maior”, relata o diretor.
Hoje, segundo Carlos Santos, a empresa tem lucratividade de 21% com a locação e de 16% com vendas. O executivo comenta que a percepção generalizada no mercado decorre da sensação de que a atuação com vendas implica em poucos custos, pois o corretor, na maioria dos casos, é autônomo. “Mas na hora que você faz o rateio de material de escritório, de aluguel [da sede], contabilidade e tudo o mais na ponta do lápis, você vê que realmente a coisa não é bem assim”.

Em entrevista ao Imobi Report, Carlos Santos fala ainda sobre a importância da cultura de aferição de dados e detalha técnicas para separação dos centros de custo. Confira:
Imobi Report: A Sancruza é considerada por consultores uma imobiliária modelo em aferição dos chamados KPIs (sigla em inglês para Indicadores-Chave de Performance). Como funciona na prática a rotina da empresa para obter esses dados?
Carlos Henrique Santos: Acreditamos muito na aferição e posterior leitura desses dados. O mercado imobiliário, de um modo geral, é amador nesse sentido. Vemos dificuldades das empresas em obter números e em criar esses processos.
Conosco, isso iniciou lá atrás, com a implementação da ISO 9001. Por aí já começamos a trabalhar a questão de processos. Somos uma empresa certificada, com disciplina para analisar e ler esses dados. Isso fez uma diferença muito grande na nossa tomada de decisão, que é feita em cima dos números que conseguimos através dessas métricas.
A forma como chegamos nisso foi, fundamentalmente, trabalhando a divisão dos setores aqui dentro. Vejo que essa é a maior dificuldade das empresas atualmente no mercado imobiliário: ter os números muito claros na mão, as análises muito claras e, principalmente, o rateio desses valores e dessa rentabilidade de acordo com cada centro de custo (locação, venda ou incorporação, no nosso caso). Isso eu vejo muito pouco.
Imobi Report: E a margem de lucro, tanto da atividade de vendas quanto na de locação e de incorporação no caso de vocês, como a Sancruza calcula?
Carlos Henrique Santos: Conseguimos ao longo do tempo trabalhar um rateio das despesas de acordo com o departamento. As receitas são mais fáceis de você alocar, mas as despesas são o problema maior. Hoje, todos os lançamentos já chegam no meu financeiro rateados de acordo com o departamento.
Tomando como exemplo a recepcionista que trabalha comigo: a gente chegou aos números que x por cento do tempo dela é dedicado para venda, x por cento para locação e x por cento para incorporação. E o pagamento do salário dela é feito dessa forma, dentro dos departamentos. E fazemos assim para tudo: contabilidade, imposto e tudo o mais. Então no final do mês, no fechamento do balanço, conseguimos saber exatamente o custo por departamento. Eu vejo muito poucas imobiliárias com esse rateio. E aí às vezes mascara-se um pouco o resultado.
O pessoal olha [o setor de] venda e acha que dá um lucro muito bom, mas às vezes você está pegando parte da despesa que é de venda e alocando em locação. E ao fazer o rateio você vê essa diferença gritante de resultados de um departamento para outro.
Falando de percentual, hoje trabalhamos com cerca de 21% de margem de lucro na locação e com 16% na venda. E esses números chegaram a assustar no início. Mas hoje estamos com isso bem alinhado, bem definido tanto pelos colaboradores quanto pelo nosso setor financeiro.
Imobi Report: O susto veio porque imaginava-se que vendas renderia mais do que locação?
Carlos Henrique Santos: Sim. E sou capaz de apostar que essa é a percepção da maioria das imobiliárias que não fazem esse rateio de custo entre locação e venda. Tem-se a impressão, há muito tempo, de que vendas não tem quase custo nenhum, que o corretor é autônomo, que ele praticamente só usa o telefone para trabalhar. Mas na hora de colocar na ponta do lápis, fazendo rateio de material de escritório, aluguel da sede, contabilidade e tudo o mais, a coisa não é bem assim.
Imaginávamos que a lucratividade de vendas era bem melhor do realmente é, e consequentemente, vemos que a locação vai melhor, em cima dos números corretos. A gente tem um padrão bem definido, que foi ajustado ao longo do tempo. Trabalhamos nesse tipo de rateio desde 2009, e hoje acreditamos que ele está bem alinhadinho.
Imobi Report: Que efeitos o cálculo da rentabilidade de locação e de vendas pode trazer para a definição da política comercial da empresa? Vocês já fizeram alguma mudança de rota por causa da aferição de dados?
Carlos Henrique Santos: Na realidade, tudo o que a Sancruza faz em termos de tomada de decisão, de investimento em marketing, é em cima de leitura de dados. O mercado imobiliário é um dos poucos que se preocupam pouco com isso. Ao contrário de outros, como por exemplo as concessionárias de veículos.
O primeiro passo é você ter esses números para tomar a decisão de onde vai investir mais, em qual mídia pode trabalhar. A gente visita muita imobiliária, trabalha bastante com grandes parceiros, e percebemos que muitos não têm esses números na mão.
O segundo passo, e talvez o mais difícil, é a leitura dos dados, entender o que eles te entregam para você tomar as decisões.
Aqui, nós já fizemos diversas mudanças de rota. Dando um exemplo simples, com os números em mãos eu sei exatamente qual é o meu custo do aluguel. Com esse indicador eu sei quanto eu gasto para administrar 1 imóvel. E a partir daí, nós mudamos o valor mínimo de aluguel de imóvel que entra na nossa carteira, porque daí para trás já é prejuízo, pelo custo por imóvel administrado.
Imobi Report: Você comentou que não existe ainda uma cultura de dados no imobiliário, mas enxerga, ao menos, uma percepção maior dentro das imobiliárias de que a recorrência do aluguel acaba trazendo mais estabilidade financeira?
Carlos Henrique Santos: Eu vejo sim. Há um tempo não muito distante, o foco das empresas estava muito voltado para vendas. Principalmente as novas, que estavam todas abrindo focadas em vendas, com o mercado superaquecido. Mas quando o mercado dá uma retraída, a locação ajuda muito. E as imobiliárias perceberam isso, a duras penas. Hoje, acredito que as imobiliárias estão voltadas também para o aluguel, pela receita recorrente.
E vejo que ter um um benchmark com outras empresas é fundamental. A gente faz isso com muita frequência aqui na Sancruza: conseguimos trabalhar e comparar números, o que faz uma diferença muito grande na hora de analisar resultados e, principalmente, lucratividade.
Tudo certo! Continue acompanhando os nossos conteúdos.
As mais lidas
Como orientar locadores sobre as mudanças da reforma tributária
Imobi explica: expressões do mercado financeiro
Veja quem entrou para o ranking “100+ Influentes do Mercado Imobiliário em 2024”
Imobiliárias celebram cenário positivo para o mercado no 82º encontro da ABMI
Receba as principais notícias do mercado imobiliário
-
Ler uma amostra.