Opinião

A Semana de Arte Moderna de 1922 e o reflexo na arquitetura e no imobiliário

O mês de fevereiro deste ano sacramentou o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e, com isso, pudemos revisitar a importância que esta agenda trouxe à arquitetura, ao paisagismo e ao design brasileiros.

Romper com o academicismo e com o tradicionalismo foram prerrogativas deste acontecimento que é considerado o marco inicial do modernismo brasileiro.

O fato é que a semana em si não provocou tamanha influência na história como os acontecimentos dela derivados, como o Manifesto Pau-Brasil de Oswald de Andrade, em 1924. Tanto ele como outros modernistas de primeira geração, passaram a repensar o lugar do povo brasileiro nas artes.

Cem anos depois e o resgate da cultura brasileira continua sendo tema de relevância para todos nós, e no mercado imobiliário não pode ser diferente.

Jorge Cury é fundador da Umã Incorporadora e no seu empreendimento de estreia em São Paulo, buscou resgatar as raízes do design brasileiro com a disruptiva missão de democratizar seu acesso à população do Programa de Habitação de Mercado Popular.

Nesta conversa, abordamos com exclusividade sobre sua missão por meio do empreendimento Casa Genebra, localizado na Bela Vista:

Como surgiu a ideia de democratizar o design brasileiro, com referências da Semana de Arte Moderna de 1922, por meio de um empreendimento imobiliário?

Jorge Cury: Antes de qualquer coisa nós somos apaixonados pelo design, o que naturalmente direciona a atenção e cuidado a qualquer representação de forma e função relacionada à produção da Umã. O design está intrínseco à vida das pessoas, diz muito sobre quem somos, é uma forma de expressão e de reconhecimento, seja pelo vestuário, mobiliário, imobiliário e de uma perspectiva mais abstrata, das relações humanas. 

Valorizamos a força do mobiliário brasileiro, que é brilhante, no empreendimento Casa Genebra tivemos o privilégio de trazer designers como Decarvalho, Fernando Jaeger, Sala2 e Filipe Ramos, o que nos deixa muito felizes e orgulhosos, somos fãs desse pessoal. O Filipe fez contato agradecendo pelo projeto, mas a sensação clara é que foi ele quem nos deu o presente.

A democratização vem por conectar esses nomes a um público que não necessariamente teria acesso por informação ou condição econômica, o Casa Genebra está enquadrado dentro do Programa de Habitação de Mercado Popular, para famílias com renda de até 10 salários mínimos, e é muito gratificante saber que uma família com renda mensal de R$ 5.000,00 terá no lobby do seu condomínio um Balanço Sela, e na área da piscina, as Poltronas Elo. O convívio com essas peças certamente trará uma nova percepção, que alimenta e dignifica.

Semana de Arte Moderna de 1922
Perspectiva ilustrativa Lobby Casa Genebra com Balanço Sela
Semana de Arte Moderna de 1922
Perspectiva da piscina da Casa Genebra com Poltronas ELO

Quais são as premissas adotadas para a concepção do projeto, escolha do terreno e tipologia dos apartamentos?

Jorge Cury: A pergunta que nos fazemos sempre quando nos deparamos com um terreno é: “Como podemos contribuir de forma importante com um projeto que nos deixe realmente orgulhosos?”. Quando positiva, a resposta imediatamente remete à conceitos de arquitetura e design, produzindo possibilidades de produtos com diferentes tipologias, que então serão validadas pela inteligência de mercado e viabilidade financeira.

É um processo que propõe a adequação da viabilidade financeira ao design do produto, ao invés de privilegiar a Margem Nominal e a TIR (Taxa Interna de Retorno), submetendo, em detrimento, a qualidade do projeto. 

A viabilização dos empreendimentos se torna muito mais complexa, mas no final do dia é o que faz sentido para nós.

Semana de Arte Moderna de 1922

Onde a Umã pretende atuar, apenas em SP, região central?

Jorge Cury: Atualmente o nosso planejamento é atuar na Capital de São Paulo. Nosso próximo lançamento ocorrerá na Bela Vista, região em que temos um carinho especial por ser um marco único da arquitetura brasileira, estaremos entre os ícones modernistas como o Edifício Copan (Oscar Niemeyer), Edifício Viadutos (Artacho Jurado), Edifício Esther (Álvaro Vital Brasil e Adhemar Marinho), Edifício Itália e Hotel Jaraguá (Franz Heep).

Quais são suas referências neste e em outros mercados?

Jorge Cury: A Umã nasce dentro de um modelo de holocracia, auto-gerida, não linear e adaptativa, com um olhar atento à sustentabilidade, então é natural que empresas como Patagônia e Natura sejam referências, como muitas outras. O conceito de gestão e a forma como ele impacta a vida das pessoas diz muito mais do que um mercado em específico, a incorporação e a arquitetura são apenas veículos de um propósito maior.

Qual a contribuição que a Umã traz ao mercado imobiliário, cidade e sociedade?

Jorge Cury: O mercado imobiliário está em constante evolução, exemplo disso é a importante ascensão feminina nas posições de decisão, mas ainda é bastante arcaico no conceito de gestão, quase que exclusivamente pautado pelas premissas financeiras em estruturas extremamente verticalizadas. 

O resultado financeiro é importante, mas na medida em que maximiza a escala de um propósito, eu sinceramente acredito que podemos contribuir em uma escala muito mais humana, não somente pela prática vocacionada da produção habitacional e seus bons desdobramentos urbanísticos, econômicos e sociais, mas principalmente, promovendo conexões verdadeiras para além dos processos da cadeia imobiliária. 

Um exemplo claro e central é a valorização da autenticidade das pessoas, elas não deveriam desligar parte de quem são para ir ao trabalho, deixando suas individualidades para trás, se separando de grande parte de sua potencialidade, criatividade e energia, muito pelo contrário, a expressão individual é essencial para o desenvolvimento humano e, por consequência, das organizações. 

Cabe aos gestores criar um ambiente onde o cuidado e o acolhimento permitam que as pessoas sejam elas mesmas, estimulando assim um estado de consciência mais complexo e elevado. Conseguir passar essa mensagem e gerar esse tipo de transformação na vida das pessoas, sejam colaboradores, fornecedores ou clientes, é o que nos une e justifica.

Elisa Tawil

Elisa Tawil é a Idealizadora, co-fundadora e líder do Mulheres do Imobiliário. LinkedIn Top Voices, TEDx Speaker, produz e apresenta o podcast Vieses Femininos. Colunista HSM Management, do Imobi Report e Exame Invest, atua pela equidade de gênero especialmente no setor imobiliário. Autora de Proprietárias: A ascensão da liderança feminina no setor imobiliário.