580 mil corretores no Brasil: registro de novos profissionais desacelera

O número de corretores ativos no mercado imobiliário brasileiro segue em ascensão. No fim de 2024, a quantidade desses profissionais atuando no país era de cerca de 580 mil, segundo dados do Sistema Cofeci-Creci. No ano anterior, em 2023, eram 554 mil, o que representa um crescimento de 5%. Na comparação com 5 anos antes, no final do ano de 2020, eram 413 mil profissionais, ou uma expansão de 40%. Apesar desse crescimento, é possível observar uma desaceleração, ano a ano, no interesse pela atividade. Entre os anos de 2020 e 2021, houve o aumento de 12% no número de profissionais. Entre 2021 e 2022, esse aumento já foi menor, de 10%. De 2022 e 2023, a alta foi de 8%, chegando aos 5% no último ano. O CEO e estrategista-chefe da CUPOLA, Rodrigo Werneck, explica que o ingresso de novos profissionais na corretagem tem relação direta com a temperatura do mercado. De acordo com ele, o desaquecimento dos negócios resultante de uma Selic mais alta está por trás dessa procura menor pela profissão. “Ainda assim, o crescimento de 5% é um número expressivo que evidencia o quanto a intermediação imobiliária está fortalecida como opção de carreira, tendo mudado de status aos olhos de profissionais de outras profissões cujo futuro está ameaçado pelo avanço da tecnologia. A corretagem de imóveis deixou de ser uma profissão estigmatizada para se tornar símbolo de uma carreira com remuneração expressiva e uma vida mais flexível”, ressalta. Importante ressaltar que, enquanto a corretagem segue em ascensão, profissões como a engenharia civil apresentaram uma retração no número de novos profissionais. Entre 2015 e 2025, houve uma diminuição na ordem de 51% de novos engenheiros no mercado. Outras profissões tradicionais seguem o mesmo movimento. O CEO do Instituto Brasileiro de Educação Profissional (IBREP), Diogo Martins, afirma que, mesmo com uma procura menor, a profissão tem atraído um perfil de profissional mais qualificado e decido. “O que mais chama atenção é que, mesmo com um volume menor na procura pela profissão, o público atual chega mais preparado, engajado e estratégico. Já vêm com experiência prática, entendimento de mercado e uma clara visão de futuro”, salienta Martins. De acordo com ele, tratam-se de pessoas que já atuam informalmente no mercado (seja em imobiliárias, em captação ou outras áreas) e que agora querem se regularizar para atuar com segurança e autonomia. Alguns, inclusive, chegam com objetivos claros, como abrir uma imobiliária ou conquistar a carteira autônoma. “É um público que enxerga valor na profissão e sabe onde quer chegar”, acrescenta o CEO do Ibrep. Martins ainda ressalta que notou um aumento significativo de mulheres buscando transição de carreira, em busca de autonomia e reconhecimento. Ele comenta que há ainda um número expressivo de aposentados, que veem na corretagem uma nova fonte de renda, além de engenheiros, advogados e profissionais de vendas que querem comercializar o produto mais valorizado do mercado. “Em paralelo, regiões como Balneário Camboriú e Itapema têm atraído imigrantes oriundos de outros estados, que se mudam para atuar num mercado aquecido”, conta Martins. A seguir, confira as entrevistas que fizemos com alguns profissionais, que representam esses perfis interessados na área imobiliária. Veja também as motivações e perspectivas dessas pessoas sobre a atividade. Em busca de flexibilidade Muitos são os motivos pelos quais os profissionais ingressam no mercado imobiliário. Alguns são atraídos pelas altas comissões do alto padrão, outros pela aptidão natural em vendas. E há aqueles, como Salete Vilke, que buscam trocar rotinas engessadas por jornadas de trabalho mais flexíveis. Por três décadas, ela foi educadora em uma escola municipal de Palmitos, no Oeste de Santa Catarina. Em 2017, já aposentada, fez o curso TTI (Técnico de Transações Imobiliárias), vendeu seu carro, alugou sua casa e se mudou para a capital do estado, Florianópolis. Ela conta que pesquisou imobiliárias na cidade e logo encontrou a Gralha Imóveis, que virou o seu objetivo. “Escolhi trabalhar na Gralha Imóveis porque a cultura da empresa era alinhada com a minha. Ainda trabalho muito, mas, graças à profissão de corretora, hoje tenho a oportunidade de viajar pelo mundo”, declara. A aptidão para vendas sempre foi uma característica de Salete. Ela se comunica bem e gosta de se relacionar com pessoas. Ainda criança, ela começou vendendo limões e bergamotas para seus colegas de sala. Com cerca de 11 anos, vendia legumes e verduras no centro da cidade. Durante a graduação, revendia roupas íntimas para os moradores da roça. “Eu acho que as vendas estão no sangue da pessoa. Porque isso é uma característica que sempre tive comigo”, observa. Salete afirma que foi acolhida na Gralha Imóveis pelo próprio Marco Antônio Roennau Filho, atual CEO da imobiliária, mas que na época atuava como gestor de vendas. Para ela, a cultura de trabalho em equipe da empresa é fundamental para o sucesso e a retenção dos corretores. “Quando entrei na Gralha Imóveis, era apenas uma loja, com cerca de 30 corretores. Hoje, são 5 lojas, com aproximadamente 200 corretores, todos muito unidos. Quando estou viajando, meus colegas acompanham meus clientes em visitas”, comenta. Hoje, Salete é um dos destaques da Gralha Imóveis, ficando entre os corretores TOP 10 ou TOP 21 da empresa. Segundo Salete, embora o corretor tenha a liberdade de definir a própria jornada de trabalho, a dedicação e a responsabilidade não podem ser deixadas de lado. Além disso, ela afirma que é importante se desenvolver continuamente, fazendo cursos e buscando ferramentas para auxiliar no trabalho. A professora aposentada passou a vender imóveis pelo Instagram e, recentemente, fez um curso de tráfego pago, para aumentar o alcance de suas postagens. A profissional ainda acrescenta que a rivalidade não é uma característica compatível com o mercado imobiliário. “Na Gralha, muitas das nossas vendas são fechadas em parceria. Quando estou viajando, meus colegas acompanham meus clientes em visitas aos imóveis”, compartilhou. Salete revela que sua filha também está dando os primeiros passos na profissão. Formada em engenharia civil, a jovem de 26 anos começou ajudando a mãe com os vídeos para as redes sociais. Recentemente, ela vendeu seu primeiro imóvel. “No começo, minha filha não acreditava que eu pudesse ter sucesso como corretora. Mas hoje vejo os olhos dela brilhando diante do mercado imobiliário”, diz. O ingresso da filha de Salete no imobiliário é emblemático para exemplificar mais um perfil que tem se interessado pela atividade: os profissionais mais jovens. Visibilidade e boa remuneração O mercado da moda parece glamouroso para os observadores, mas, para quem atua na área, pode ser muito árduo. Jaqueline Romão iniciou sua carreira como modelo aos 15 anos, em Florianópolis, chegando a representar marcas famosas como BMW, Dafiti e Marisa. “As campanhas de verão são fotografadas no inverno. Em um dia frio, cheguei a provar 100 peças. É uma rotina fisicamente exaustiva”, comenta. Aos 21 anos, Jaqueline se graduou em comunicação social e chegou a estagiar na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Após a pandemia, foi convidada pelo então seu namorado e fundador da Sort Investimentos, Renato Monteiro, a produzir conteúdos para a empresa especializada em consultoria imobiliária com sede em Balneário Camboriú. “Com a pandemia, houve uma escassez de trabalhos no mercado de moda, então eu precisava de uma alternativa”, explica. Vendo o bom desempenho de Jaqueline na imobiliária, Renato, que atualmente é seu marido, sugeriu que ela se tornasse corretora. Ela aceitou a proposta, tirou o CRECI e ganhou notoriedade ao fechar uma venda de R$ 17 milhões através de um vídeo nas redes sociais. Hoje, com 28 anos de idade e quatro de profissão, Jaqueline se tornou conhecida no segmento de alto padrão, chegando a palestrar no CUPOLA Summit 2025, quando defendeu a importância da utilização de redes sociais e inteligência artificial na profissão do corretor. “As redes sociais permitem que o corretor de imóveis se posicione no mercado imobiliário. Já a inteligência artificial é uma ótima ferramenta para organizar a agenda e construir roteiros”, afirma. Jaqueline acredita que, embora ser corretora não fosse seu sonho, a profissão será muito visada no futuro, inclusive pelas crianças. Ainda segundo ela, hoje os corretores de imóveis têm uma maior visibilidade, o que deve atrair o interesse das novas gerações. "A nova geração busca flexibilidade, fama e as melhores remunerações. Isso tudo pode ser conquistado como corretor de imóveis", defende. Os famosos no imobiliário Um outro perfil de profissionais que tem ingressado no mercado imobiliário são os atores e famosos. Aproveitando-se da sua visibilidade e de olho nas altas comissões do segmento de luxo, profissionais como Marcello Antony, Paulo Goulart Filho, Jonatas Faro, Mylla Christie e os gêmeos Flávio e Gustavo Mendonça são alguns dos que anunciaram recentemente a atuação na comercialização de imóveis. Na nova atividade, esses atores também conseguem explorar habilidades e aproveitar-se de um legado relacionado à carreira anterior: comunicação, audiência e networking. A flexibilidade de horários, a maior estabilidade financeira e um ambiente de trabalho menos volátil na comparação com o meio artístico também estão entre as motivações apontadas para a migração para a atividade. Um dos casos mais conhecidos foi o do galã Marcello Antony, que em junho de 2024 anunciou a atuação como corretor de imóveis de luxo em Portugal, onde mora com a família. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele reconhece abertamente as razões financeiras e emocionais desse movimento. “Quem entra nesse mercado está entrando pelo dinheiro. Não gostaria que a chamada da reportagem fosse que eu estou aqui pelo dinheiro. Estou também pela motivação e pelo desafio”, contou. Antony afirma que é procurado diariamente em função da imagem que construiu na TV. Também defende que o novo ofício é mais enriquecedor. Mais um caso que repercutiu na imprensa é o da atriz Mylla Christie. Em junho deste ano, ela e o marido, Tutu Sartori, lançaram oficialmente a Acto Imóveis, uma imobiliária de luxo voltada ao bairro dos Jardins, em São Paulo. Parceiros da proptech Pilar, eles se tornaram corretores certificados após quase duas décadas investindo em retrofit e revenda de imóveis. Eles já haviam movimentado cerca de R$ 50 milhões com o negócio. A Acto Imóveis aposta no atendimento consultivo a clientes exigentes, capitalizando a experiência do casal em reformas caprichadas e a forte presença de Mylla no mercado.

580 mil corretores no Brasil: registro de novos profissionais desacelera

Leia grátis

Conteúdo exclusivo para assinantes.

Gostou do conteúdo?

Escreva aqui uma sugestão ou comentário para o nosso time de redação.

“Gestor não deve ter planilha”, defende consultor imobiliário

Felipe Ricoy, reconhecido no mercado imobiliário digital, assume como COO na MySide

Você sabe qual é o perfil do investidor imobiliário brasileiro?

Em alta