comunicação não-violenta
Opinião

O que torna nossa comunicação violenta?

Você já reparou que aquele relacionamento meio conturbado que você tem na família ou no trabalho pode ser assim devido ao tipo de linguagem que você utiliza para se comunicar com essa pessoa? Dificilmente a gente percebe quando nossa comunicação está sendo violenta, porque não entendemos o que realmente é ser violento e isso nos distancia cada vez mais das pessoas sem que a gente se dê conta.

Mas, afinal, o que caracteriza a nossa comunicação como “violenta”? Segundo Marshall Rosenberg, psicólogo americano criador do método da CNV, existem formas específicas de linguagem e comunicação que bloqueiam a compaixão ou a empatia. Estas formas de linguagem, de acordo com ele, contribuem para um comportamento violento em relação aos outros e também a nós mesmos. Ele classifica essas formas de linguagem como “Comunicação Alienante da Vida” e eu chamo atenção para três faces dessa comunicação: 

Julgamentos moralizadores

Marshall nos explica que o juízo de valor é um aspecto fundamental da nossa vida, é natural e benéfico que os tenhamos. O problema é que projetamos esses valores no outro, um ser único e complexo, que tem seus próprios princípios e segue a vida à sua maneira. Quando consideramos que alguém é desorganizado, por exemplo, que “parâmetro” usamos para definir isso a não ser o que significa para nós mesmos ser alguém organizado? Ou seja, se alguém não organiza as coisas da forma que eu considero corretas, é desorganizado, se organiza em uma frequência que eu considero elevada, já é neurótico… e por aí vai. 

Vivemos em um mundo pautado por dualismos, é difícil olhar para o que é diferente de nós sem classificá-lo como certo ou errado. Quando o que existe na verdade são necessidades, e portanto prioridades, diferentes das nossas. Quando nos comunicamos com base no que consideramos que está errado no comportamento do outro, estamos sendo violentos. Precisamos ter clareza de que nossos julgamentos são apenas percepções. 

O julgamento em si não é possível controlar, mas a ação que tomamos a partir dele sim. Você pode olhar para o diferente com curiosidade: “que necessidade essa pessoa tem que faz com que ela aja dessa maneira?”. Ao invés de olhar com o julgamento ativado: “essa pessoa age assim, porque é desorganizada/preguiçosa/mal intencionada…”. 

Desorganizado, preguiçoso, mal intencionado, desatento, impulsivo, antipático… já pensou nos rótulos que você coloca nas pessoas hoje com base nos seus juízos de valor?

Comparações

As comparações também são uma forma de julgamento. Dos outros e de nós mesmos. Precisamos ter a clareza de que somos todos seres únicos, complexos e infinitos. Quando nos comparamos e nos sentimos frustrados, isso indica que há uma necessidade em nós que não está sendo cuidada, porque estamos alheios a ela. 

Da mesma forma, quando comparamos o outro estamos alienados quanto às necessidades dessa 

pessoa. A comparação nos faz acreditar que existe sempre um modo certo e outro errado de ser, quando o que realmente existe são pressupostos, necessidades e prioridades diferentes. 

Com que frequência comparamos nossos colegas, clientes e a quem ou a que temos comparado nós mesmos? Vale lembrar que comparação é diferente de inspiração. 

Negação de responsabilidade

Outro ensinamento importante da CNV é que somos sempre os responsáveis por nossos próprios sentimentos, pensamentos e atos. Nenhuma pessoa ou situação pode ser a causa pelo que sentimos ou pela forma como agimos. 

Quando usamos uma linguagem que nega a nossa responsabilidade sobre o que fazemos, ela carrega um grande potencial alienante. Essa forma de comunicação está ligada a expressões como “Tenho que fazer isso”, “Faço isso porque o cliente exigiu”, “Fiz isso porque são as regras”, “Só estou fazendo isso porque é minha obrigação”.

Precisamos reconhecer que por trás de tudo o que realizamos há uma escolha. De acordo com Marshall, um professor, por exemplo, não avalia seus alunos através de provas porque tem que fazê-lo. Ele escolhe seguir as regras da escola como estratégia para manter o seu emprego e, com isso, cuidar de necessidades relacionadas ao seu sustento, segurança ou propósito de vida, por exemplo.

Que tal substituir a linguagem que implica falta de escolha por outra que reconheça a possibilidade de escolha? Particularmente, tenho procurado fazer o seguinte exercício: ao invés de dizer que “eu tenho que participar de muitas reuniões com clientes”, procuro dizer que eu opto por realizar reuniões frequentes com os meus clientes, porque essa é melhor maneira que eu tenho de entender o que eles precisam, atender suas necessidades e, assim, mantê-los na minha empresa.

Deixar de praticar a “comunicação alienante da vida” é um processo complexo, porque essa foi a forma que aprendemos a nos comunicar. O importante é acreditar que é possível mudar essa mentalidade e isso se dá por meio de todos os passos da prática de CNV.