Imobi Report

Metodologias Ágeis: Squads desafiam os tradicionais “departamentos”

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Modelo de gestão que divide funcionários em pequenas equipes autônomas e multidisciplinares conquista adeptos no mercado imobiliário.

Imagine uma imobiliária ou incorporadora em que os colaboradores não são divididos por especialidades (pré-vendas, corretor, marketing etc.), mas somente por nicho geográfico ou tipo de empreendimento, e cujos times não apenas têm autonomia decisória como também competem entre si. Pois pode ser esse o desenho típico de uma empresa do setor nos próximos anos: é na direção das Squads, modelo organizacional importado do universo dos softwares, que caminham empresas dos mais diversos segmentos produtivos, com bons resultados e satisfação de gestores e funcionários.

A divisão da força de trabalho por Squads (“esquadrões” em inglês) é talvez a característica mais marcante do Scrum, o principal tipo de Metodologia Ágil. As Squads têm tamanho restrito (de 3 a 9 pessoas) e são divididas horizontalmente, sem necessidade de uma hierarquia rígida. O time é necessariamente multidisciplinar, guiado por objetivos específicos – seja o desenvolvimento de um novo produto, seja a mera fragmentação das entregas habituais –, tem comunicação interna assertiva e alta capacidade de adaptação.

Esse modelo ficou consagrado com o case do Spotify, onde as equipes controlam de ponta a ponta determinada funcionalidade ou produto do streaming, com grande nível de autonomia. É um desenho bem distinto do tradicional, em que os grupos são segmentados por especialidades, hierarquizados e submetidos a um staff responsável por todas as decisões da empresa – ou seja, o modelo habitual de grande parte das imobiliárias e incorporadoras do país.

7Cantos: virando o botão

Se é até certo ponto natural replicar esse desenho numa empresa de tecnologia, ou na concepção de um novo produto, no caso de uma imobiliária a adoção das Squads exige uma redefinição completa do tipo de gestão organizacional. Foi o que ocorreu com a 7Cantos, imobiliária digital de Fortaleza focada em locação, que implantou o modelo há dois anos e meio.

Na 7Cantos, cinco times autônomos e equivalentes em tamanho e estrutura atuam divididos geograficamente: dois deles cuidam de diferentes regiões de Fortaleza, dois fazem o mesmo no Recife e um olha pela região do Cariri, no Ceará. Cada Squad é composta por quatro profissionais: um responsável pela aquisição de novos leads; um SDR (pré-venda e qualificação); um encarregado de fechar negócios (closer); e o gerente de contas, que atua como Scrum Master, liderando o time e aparando arestas.

Tal grau de especialização permitiu à imobiliária buscar profissionais de outras áreas, com características adequadas às suas atribuições –os “closers” são as únicas figuras que, necessariamente, têm experiência no mercado imobiliário.

Cada Squad possui autonomia para tomar suas próprias decisões, e conta com um incentivo extra para superar metas internas: a competição.  “Temos premiação dentro da squad, e todos os closers competem entre si. É um dos pilares que mantêm os times engajados”, aponta o sócio-diretor Paulo Filho. O empresário, que já foi dono de imobiliária com modelo tradicional de gestão, diz que depois da implantação do Scrum e do modelo de Squads o faturamento da empresa aumentou mais de 200%.

“Com o Scrum foi possível aumentar nossa capacidade de escala, sem perder a qualidade de atendimento. Se seguíssemos crescendo sem essa reorganização, perderíamos inquilinos e proprietários”, aponta. “E nem preciso fazer gestão tão intervencionista, só acompanho e oriento, calcado na minha experiência”, conta Paulo Filho, que hoje vê o Scrum como uma tendência para o setor – tanto que investe em programas de engajamento e cultura, para que os funcionários se mantenham atualizados sobre o funcionamento desse framework.

Soluções compartilhadas

Mas afinal, qual a principal vantagem desse modelo organizacional? Para Greice Nardelli, responsável pela implantação das Squads na CUPOLA, consulgência especialista no mercado imobiliário e publicadora do Imobi Report, o ponto transformador foi o fato de as equipes proporem soluções juntas. “Antes, cada um olhava para seu problema. Ao colocar todos na mesma sala, numa comunicação horizontal, a política é que alguém com dificuldade converse e busque a solução através do grupo”.

Definir as prioridades é outra chave para o sucesso da implantação das Squads. Se uma enxurrada de imóveis chega para a captação, por exemplo, cabe ao Product Owner (responsável pelas entregas da Squad junto ao cliente) reorganizar a distribuição de tarefas, evitando o risco, presente no modelo tradicional, de os demais setores travarem, esperando o departamento sobrecarregado desenrolar suas demandas. “O time tem essa prerrogativa de sempre priorizar o que traz mais valor ao cliente”, diz Ricardo Bruno da Silva, instrutor certificado de Metodologias Ágeis que participou do projeto de transformação digital da imobiliária Lopes.

Metas antes; Squads depois

Essa guinada em direção à agilidade e à cooperação interna não significa que as Squads sejam indicadas para qualquer empresa, ou que sejam a solução para todos os problemas de gestão. Em primeiro lugar, é preciso certa quantidade de funcionários para que tal divisão faça sentido. Depois, é necessário mudar a filosofia de gestão – não adianta só renomear os antigos departamentos com “squads” se os times não forem multidisciplinares nem tiverem autonomia para tocar partes do negócio de ponta a ponta.

No caso de uma imobiliária ou incorporadora que pretenda reorganizar sua empresa em Squads – seja por perfil de empreendimento, seja por área geográfica -, o ponto mais importante é a definição precisa do papel e dos objetivos de cada equipe a ser construída, aponta Greice. “O time precisa ter um foco e atuar em conjunto. Por exemplo, o responsável pela captação precisa estar muito alinhado com aquele encarregado da locação, e este com o do fechamento, e assim por diante”, diz Greice Nardelli, da CUPOLA. “Mas se não houver objetivos de resultados, nem clareza de metas, as Squads deixam de fazer sentido”.

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