Dia do CorretorSem categoria

Filipe Rocha, o corretor de imóveis que encontrou sucesso no quintal de casa

O exercício de escrever perfis é muito interessante pois você lembra como somos múltiplos. Filipe Rocha, por exemplo, é corretor de imóveis em São Paulo, capital, apaixonado por vendas e pelo mercado imobiliário. É, também, “filho do Seu Francisco Newton, pai do Filipe e do Davi e esposo da Amanda”. Nossa entrevista começa assim. Talvez tenha sido a proximidade que gravamos com o Dia dos Pais, mas a paternidade, para Filipe, foi ponto contínuo na nossa conversa e sua jornada.

Filipe Rocha, corretor de imóveis

Para conhecer quem é Filipe filho, pai, esposo e corretor, vale voltar lá atrás, para sua infância. Filipe vem de uma família muito humilde e, aos 7 anos de idade, surgiu uma excursão da escola para o recém inaugurado parque de diversões Hopi Hari. O ingresso era 20 reais, mas 20 reais na década de 1990 valia bem mais. Foi seu Francisco que disse “eu não posso pagar sua excursão, mas te compro algodão doce, você vende e ganha seu dinheiro”. Esse foi o primeiro negócio e a primeira meta de Filipe. “Vendi algodão doce por uns dois meses, juntei bem mais do que precisava, fiz a excursão e ainda fui de tênis novo. Peguei gosto pelo empreendedorismo, por criar minhas oportunidades”, comenta.

A simpatia e o bom papo, características essenciais para um bom vendedor, vieram de dentro de casa. “Meu pai e minha mãe sempre incentivaram que fossemos comunicativos, que a gente interagisse com todos, que conhecêssemos, ouvíssemos outras pessoas”, conta Filipe.

Seguindo na carreira de vendedor, com 20 e poucos anos, Filipe começa a trabalhar em uma surf shop. “Uma das maiores fases de desenvolvimento pessoal minhas foi trabalhando nessa loja. Eu morava no extremo oeste de São Paulo e trabalhava no extremo sul. Como eu fazia uma viagem de duas horas de trem, aproveitei para ler muito”. 

Porém, a rotina de shopping desgasta: ocupa finais de semana, feriado, correria no final do ano. Filipe já planejava, eventualmente, sair da loja, mas teve um impulso maior. Bebê a caminho. “Até o momento que eu era solteiro, só namorava minha atual esposa, tudo bem trabalhar na loja, era tranquilo. A partir do momento que a gente casou, tive meu filho Juninho e pensei, caramba, eu preciso mudar de vida. Queria ter carro, minha casa, sair da zona de conforto, expandir meus horizontes”, conta.

“Quando eu decidi me tornar corretor de imóveis, eu ia muito bem no shopping, então era um risco. Mas meu pai foi um dos poucos que me incentivou incondicionalmente e falou ‘tenho certeza que logo menos você vai estar abrindo sua própria empresa’”. E abriu. Hoje, Filipe é proprietário da Filipe Rocha Imóveis. Seu Francisco, que faleceu em dezembro de 2020, viu e teve até a oportunidade de trabalhar com seu filho.

De volta para casa

A jornada no mercado imobiliário não começou fácil. “Na minha primeira entrevista em uma imobiliária, lembro do gerente entrar na sala onde estavam os candidatos e jogar a real: não tem registro em carteira, não tem FGTS, nem piso salarial ou ajuda de custo. Depois que ele falou tudo isso, um bom pessoal foi embora, ficou só eu e outra meia dúzia. Mas isso não era novidade pra mim, eu já tinha lido, conversado com outros corretores e sabia que era assim. E outra, no shopping eu também trabalhava por comissão, não tinha salário fixo. Para mim, era mais um novo desafio. Eu não tinha dinheiro pra tirar o CRECI e esse mesmo gerente que assustou a equipe pagou meu CRECI”, conta.

CRECI tirado, primeiro mês e primeiro lançamento, Filipe não vendeu nada. Segundo mês, também não. No terceiro mês, a imobiliária estava lançando um empreendimento popular em Minas Gerais e mandando corretores para lá. “Nessa época, minha reserva de dinheiro já tinha acabado. Eu cheguei para o meu pai e falei: ‘Seguinte, eu vou pra Minas. Vai ter um empreendimento lá pra eu arrebentar. Me empresta 150 reais só pra ter de segurança’. Cheguei lá, trabalhamos na pré-venda por quase um mês, chegou no dia do lançamento e não vendi nada”, conta.

O lançamento micou, foi ruim para todos. Mas Filipe teve um fator extra, bateu o carro de um colega emprestado. “Voltei com um saldo devedor negativo de uns 2 mil reais. Eu fiquei num estado psicológico tensíssimo. Minha esposa segurava as pontas com o salário dela e eu dizia ‘espera que eu vou acertar, vai dar certo’”.

Em Minas Gerais, soube de um lançamento que ia ter perto da sua casa, em Carapicuíba. Filipe teve que viajar cerca de 900 km para entender que a resposta estava ali, quase no quintal de casa.

“Trabalhei insanamente nesse lançamento, era meu quarto mês como corretor de imóveis. No final de semana, apareceu meu primeiro cliente no plantão, um senhorzinho com boné de vereador, palhinha na boca. Ele queria ir andar no lote, mas eu não queria acompanhar pois o terreno estava lamacento e eu só tinha um terno para usar, que tinha ganhado do meu pai (risos). Essa foi minha primeira venda. Só naquele primeiro dia de vendas, vendi quatro outros imóveis. Aí pensei, nossa, é isso. Podia ouvir tocando a música do Ayrton Senna”. Desde aquele ano, Filipe nunca mais passou um mês sem fechar, pelo menos, uma venda.

Foi outro empreendimento perto de casa que alavancou a carreira de Filipe. “Teve um empreendimento do Minha Casa Minha Vida que, de 500 unidades, eu vendi mais de 130. Foi o produto que mudou minha carreira – montei minha primeira equipe de vendas. Quando acabamos de vender esse empreendimento, em 2015, tive a iniciativa de abrir minha própria imobiliária”, conta. “Eu percebi uma deficiência muito forte na minha cidade, com poucas imobiliárias focadas no público da cidade, com um trabalho muito fraco de marketing digital. Começaram a surgir lançamentos na região e poucas imobiliárias para atender. Foi quando investi na região”.

Em 2016, a Filipe Rocha Imóveis passou a atuar também com locação. Em 2020, abriu um segundo escritório e hoje, a imobiliária pode ser encontrada em Barueri e Itapevi.

Metas, organização e determinação

Como empreendedor e entusiasta da educação no mercado imobiliário, Filipe está acostumado a orientar novos profissionais. E algumas das suas dicas constantes são relacionadas a educação, organização e determinação. Ler muito, investir em cursos, participar de eventos e seminários, construir relacionamentos. E semear. “Uma dica que eu dou para todos os corretores é: tenha suas metas muito claras e não desista por um fracasso. Eu fui vender no meu quarto mês. Ou seja, tive 119 dias de fracasso. Mas é preciso entender que o corretor de imóveis é um semeador. O processo de compra de um imóvel é mais longo, mas a comissão é proporcional. Então semeie, foque no processo, no cliente, que o resultado vem”.

E o resultado não é só financeiro. “Minha parte preferida é a entrega da chave. É muito gostoso, você vê a concretização do sonho acontecendo, a realização da pessoa. Eu lido muito com o primeiro imóvel, talvez o único da vida e é uma compra muito importante. Ver meu cliente feliz é a parte mais legal do meu trabalho”.

Work hard, play hard

Filipe Rocha com seu pai e seus filhos

O ditado acima, que se traduz para “trabalhe muito, brinque muito”, é uma das filosofias de Filipe. “É muito importante que eu vá dormir sabendo que dei meu melhor, que trabalhei muito. Mas sem me esquecer o verdadeiro porquê que estou trabalhando. Minha família, meus filhos, quem está do meu lado – na alta e na baixa”.

Dono de sua própria imobiliária, casado, e com dois filhos, Filipe já escreveu um livro e já plantou algumas árvores. Mas ainda está nos planos viajar pelo mundo. “Eu gosto muito de viajar, sempre que posso estamos viajando, conhecendo outros lugares. Pra mim é até mais importante do que posse. A experiência de uma viagem me dá muito prazer”.

E, já que começamos esse texto falando sobre paternidade, vamos fechar com o tema. Outro sonho de Filipe é montar uma instituição para crianças e pais de crianças autistas. “Eu tenho um filho autista e tenho o sonho de montar uma instituição para ajudar outros pais e outras crianças autistas, que tem até graus mais graves que o meu filho. Depois que Davi nasceu e conhecemos esse mundo, vemos que há uma dificuldade muito grande de quem não tem recurso financeiro de ter acesso ao desenvolvimento, suporte, educação. A educação normal já é difícil, imagina a de crianças especiais. Esse é meu sonho pessoal”.