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Opinião

Diversidade e Inclusão: a próxima fronteira do mercado imobiliário

Em seu tradicional relatório de tendências anual para o mercado imobiliário, a Delloite, principal consultoria de negócios do mundo, inseriu Diversidade e Inclusão como uma das previsões para o ano de 2020, ao lado de tópicos como proptechs, mudanças climáticas e inteligência artificial. O mesmo deve ocorrer no relatório de 2021, que ainda não foi publicado.

O tema vinha ganhando força dentro da própria Deloitte, pelo menos desde 2017. Naquele ano, a Pesquisa Global de Capital Humano reconheceu Diversidade e Inclusão como ponto fundamental para os negócios, agregando criatividade e inovação nas equipes. É mais do que uma postagem nas redes sociais com a hashtag #BlackLivesMatter ou um avatar com a bandeira de arco-íris: a pesquisa demonstra, a partir da análise de dados, como a cultura inclusiva está diretamente ligada ao desempenho financeiro das empresas.

Mas, afinal, qual a relação entre diversidade e inclusão e desempenho das empresas?

Vamos aos dados. Estudo conduzido por Juliet Bourke, que é especialista em diversidade de pensamento, inclusão e liderança, identificou que empresas com equipes diversas e cultura inclusiva têm: duas vezes mais chances de alcançar ou superar metas financeiras; seis vezes mais chances de serem inovadoras e ágeis e oito vezes mais chances de obter melhores resultados de negócios. 

A pesquisadora explica essa relação a partir da ideia de que “duas cabeças pensam melhor do que uma”. Mas vai além e aponta a necessidade de não apenas assimilar essa condição, mas questionar-se sobre quais seriam essas duas cabeças pensantes e suas características, o que avança no campo da diversidade de ideias. Para entender melhor, recomendo o TEDx Talks de Juliet, “Como ser mais inteligente e fazer escolhas melhores”. O título deste TEDx Talks inclusive me remete a uma frase do professor Romeo Busarello, VP de marketing e transformação digital da Tecnisa, além de reconhecido palestrante do mercado imobiliário: “a inteligência do grupo é mais inteligente do que o mais inteligente do grupo”. 

Romeo e Juliet, com o perdão do trocadilho, tratam do principal bônus que a diversidade e a inclusão oferecem às empresas, que pode ser resumida superficialmente como a ampliação dos pontos de vista. Mais pontos de vista ampliam a capacidade de diagnóstico, de leitura de cenários pelas equipes, bem como a capacidade de criação e formulação de propostas para a resolução de problemas. Portanto, ampliam a capacidade de tomada de decisão. Este bônus da diversidade é destrinchado no livro The Diversity Bonus, de Scott E. Page.

A relevância do tema da diversidade e inclusão vem crescendo, obviamente, em razão da luta de grupos sociais sub representados em posições de liderança e poder, como as mulheres, a população negra, pessoas com deficiência e a comunidade LGBTQIA+. E há um contexto global, acelerado pela pandemia do coronavírus, que joga ainda mais luz sobre essa demanda. O conceito de Mundo Fani (ou Bani, em inglês) acrônimo para designar um mundo cada vez mais Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível, desloca os esforços em Diversidade e Inclusão do campo do diferencial competitivo para o de uma estratégia de sobrevivência dos negócios.

No mercado imobiliário, este tema ganha contornos de urgência dado o perfil das nossas lideranças, predominantemente masculina. Você já deve ter ouvido que o mercado imobiliário, sobretudo o brasileiro, é considerado conservador. É hora de entender os fatores e agentes que fazem deste um mercado conservador e acolher as mudanças que o cenário atual nos coloca. Algo que unicórnios do setor, como Loft e QuintoAndar, gestados neste novo mundo, têm desenvolvido em sua cultura empresarial.

Este contexto de Mundo Fani não é exclusivo do ambiente de negócios, pelo contrário, ele nasce da sociedade e impacta a operação das empresas. Não é diferente no mercado imobiliário, que passa a ter como consumidor um público cada vez mais plural. O pesquisador Marcus Araújo, da Datastore, identificou essa mudança, que ele explica no livro “Meu Imóvel, Meu Mundo”. Entre os novos públicos de compradores de imóveis que devem ser representativos desta década de 2020, Marcus cita casais de todas as idades, sem filhos com pets, e casais homoafetivos, de todas as idades e rendas, entre outros. São novas configurações familiares que demandam das empresas um novo olhar para os seus próprios times, algo que eu procurei demonstrar em outro artigo aqui no Imobi, que analisa o poder das equipes diversas na geração de mais empatia no atendimento ao cliente.

A próxima fronteira do mercado imobiliário, que almeja dar sequência aos esforços em transformação digital, inovação e crescimento, portanto, passa por encarar a diversidade e inclusão de frente. Entendendo que não há transformação real possível, no mundo tal que se apresenta, mantendo velhos padrões na formatação dos times e na cultura das empresas.

Se você tem alguma sugestão ou algum complemento ao tema, fique à vontade para usar o espaço de comentários ou enviar um e-mail para michel.prado@cupola.com.br.

Michel Prado

Michel Prado é jornalista, editor do Imobi Report, além de sócio e head de Planejamento da CUPOLA.