Opinião

Como ser um corretor de imóveis? Uma resposta ao Google Trends

O esperado relatório anual do Google Trends trouxe em 2021 um termo que me chamou atenção, pois se refere diretamente ao mercado imobiliário, especificamente para os corretores de imóveis, profissão em evidência nos últimos anos, sobretudo com a pandemia de Covid-19. 

Denis Levati

Entre os verbetes do relatório que começam com a pergunta “Como ser…”, consta o termo ‘corretor de imóveis’ entre os 10 mais buscados no ano. 

Mas o que isso quer dizer? Que sinais essa informação nos traz? O que tem atraído mais gente para a profissão? Mergulhando nas próprias edições do Imobi Report publicadas ao longo do ano, me permiti algumas reflexões. Acompanhe:

É fácil ser corretor de imóveis?

Definitivamente não é fácil. Quem atua ou já atuou como corretor, principalmente em começo de carreira, conhece o caminho das pedras e as dificuldades que a profissão apresenta – em especial para quem não possui uma carteira nem de imóveis, nem de clientes. 

Mas talvez tenha sido essa a impressão que a matéria da Veja São Paulo tenha deixado quando apresentou no texto um trabalho com ‘rotina flexível, bons pagamentos e uma dose de ostentação’. Argumentos bem fortes para atrair novos aspirantes à função. 

Mas o que a matéria não conta, na verdade nem cita, é justamente a dúvida que levou as pessoas a ir ao Google para descobrir “Como ser corretor de imóveis?”. 

Eu me arrisco a dar um pequeno passo a passo aqui. Para ser um corretor de imóveis, é preciso:

  1. Formar-se no curso Técnico em Transações Imobiliárias
  2. Estagiar em uma imobiliária ou com um profissional experimentado
  3. Receber do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) a sua habilitação profissional. 

No cenário mais positivo possível, em um curso feito através de plataformas de EAD, esse processo leva por volta de 6 meses. Claro que existem atalhos. Neles, alguns atuam ainda como estagiários e outros até ilegalmente.

Não que a matéria da Veja indique esses atalhos, não. Mas certamente simplificou a atuação profissional a prospecção em redes sociais e, somado aos fatores já citados, pode parecer, sim, muito fácil ser corretor de imóveis.  

Em um país onde o número de desempregados está acima dos 14 milhões, encontrar uma profissão com tantos atrativos pode parecer realmente uma solução rápida para quem deseja ganhar muito dinheiro em pouco tempo. 

Existem muitos casos de profissionais que atingem rapidamente ganhos financeiros acima do mercado, mas eles são exceção e não regra. E podem estar em vários nichos de atuação, não só luxo e alto padrão como sugere a matéria da Vejinha. 

Se você deseja ser corretor de imóveis e atuar no segmento de imóveis populares, terrenos em loteamentos ou em condomínios, imóveis prontos e avulsos, salas comerciais ou até mesmo na área de locação, pode sim ter ganhos muito interessantes, mas trabalhando duro e atuando na vida real, não só nas redes sociais como sugere reportagem de outro veículo, a Folha de S. Paulo…

As redes sociais são suficientes para me tornar um corretor de sucesso?

Se eu tivesse digitado a dúvida “como ser um corretor de imóveis” e encontrasse esse conteúdo da Folha de S. Paulo eu poderia concluir que sim, com as redes sociais ativas já me torno um corretor de imóveis de sucesso.

Se você encontrar um investidor rico para chamar de seu, aí sim você poderá dedicar a maior parte do seu tempo entre dancinhas e aumentando seus likes, engajamento e outras métricas de vaidade que pouco apresentam resultados. 

Mas se não for esse o seu caso, as redes sociais serão apenas uma pequena parte do seu trabalho diário. 

Aliás, você irá precisar equilibrar o seu tempo dedicado às redes sociais com outras tarefas, como a pesquisa de imóveis e oportunidades para seus clientes, aprender, comparar e explicar opções de investimentos, conhecer vários índices econômicos, além do formato de negócios, serão alguns dos diferenciais procurados em um corretor de imóveis alinhado com as demandas do Século XXI. 

A concorrência é pequena? 

Para finalizar as reflexões e ajudar quem passou pelo Google digitando “como ser um corretor de imóveis” em 2021, o Valor Econômico trouxe uma pesquisa amplamente reveladora sobre o trabalho dos corretores de imóveis. 

Segundo o COFECI, o número de corretores credenciados, que passou por todo aquele processo que mencionei aqui no texto, cresceu mais de 10% durante a pandemia. Já são mais de 430 mil corretores credenciados no país e o número não para de crescer. 

São novos profissionais chegando todos os dias para atuar no mercado e se a baixa concorrência foi um motivador para você considerar a área, saiba que a cada 12 minutos um novo corretor é credenciado no país.

Isso não chega a ser um problema, o Brasil é muito grande e existe muita demanda por moradia ou mesmo investimentos em imóveis, por isso, ainda cabe muita gente para atuar na área. 

Um dos grandes problemas, contudo, é justamente a formação! Em um mercado onde já existem mais de 800 startups destinadas a melhorar a jornada de aquisição ou o simples acesso a um novo lar, ainda formamos corretores com a mesma grade curricular de 1978, época em que a profissão foi regulamentada.

Sobre essa formação, eu já escrevi a respeito aqui mesmo no Imobi, mas como hoje estou escrevendo para aqueles que recém chegaram à profissão, que consideraram a busca do Google como ponto de partida, a estes, eu peço desculpas pelo viés realista com que escrevi esse artigo. 

Faço isso pois, quando leio as notícias como as listadas aqui, fico com a impressão de que estamos vivendo uma grande janela de oportunidades e que aqueles que não estão nela estão perdendo tempo em um país onde os trabalhos alternativos e precarizados crescem anualmente. 

Faço o alerta pois o trabalho de corretor de imóveis não é um trabalho precarizado nem consegue ser um bico, uma ocupação provisória enquanto se busca uma recolocação. 

O trabalho de corretor de imóveis é uma carreira profissional das mais relevantes, aliás. Viver de proporcionar moradia para as pessoas é uma grande honra. 

Falo com a propriedade de quem chegou no segmento há 13 anos como corretor em uma das maiores (e mais concorridas) imobiliárias do país. Lá, fui coordenador de equipe, depois gerente em imobiliárias menores, de onde migrei para a área de inteligência e marketing no setor. 

Atuei em startups que viriam a revolucionar o mercado, passei por construtoras onde pude conhecer as rotinas de criar empreendimentos pensados para melhorar a vida das pessoas e hoje atuo na CUPOLA, compartilhando essa experiência com aqueles que compõem e com os que chegam ao nosso setor. 

Tanto a você, que chega ao mercado em busca de uma rotina tranquila e muito bem remunerada como a você, que entende que encontrará uma jornada árdua na profissão, cheia de altos e baixos, mas repleta de realizações, eu desejo muito sucesso. 

Felizmente, existem hoje muitos canais de atualização, de troca de experiências e até de compartilhamento de informações que facilitam a vida de quem chega ao mercado, por um caminho ou por outro. Como é o caso deste Imobi Report.

Eu desejo que sua jornada seja leve e produza em você uma experiência incrível (além de uma boa remuneração)

Um grande 2022 para você.

Denis Levati

Denis Levati

No mercado imobiliário ocupando diversas posições desde 2008, Denis Levati tem passagens por grandes empresas como Lopes, VivaReal e Zap. Hoje é especialista em conteúdo e sócio da agência Cupola.