Covid-19

Coliving: moradias compartilhadas amenizam sensação de solidão e podem ser solução para empreendimentos pós-COVID19

Nas grandes e mais cosmopolitas cidades, cresce a prática do coliving. O coliving é a república repaginada: refere-se a duas ou mais pessoas morando em um mesmo imóvel, com seus espaços individuais (normalmente quartos) e dividindo ambientes comuns, como cozinha ou banheiros. Diferente de dividir a casa com a família e do cohousing (prática na qual os ambientes exclusivos são maiores e só ambientes comuns ou não-essenciais são compartilhados), o coliving exige que um grupo more junto, conviva. Em tempos de crise sanitária e no qual o isolamento é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar a propagação do novo coronavírus, cresce a discussão sobre este formato de moradia.

Praticar o isolamento social dividindo casa com um grupo de pessoas é mais difícil, afinal, são mais pessoas se relacionando em um mesmo ambiente. Por outro lado, pode amenizar as dores da solidão que muitas pessoas estão sentindo. “Percebemos que está sendo positivo para nossos moradores, considerando especialmente a convivência. As pessoas estão se conectando mais, convivendo e estreitando relações”, comenta Ricardo Neves, CEO da Oka Coliving. A Oka é uma empresa de coliving de Porto Alegre.

Ricardo Neves, CEO da Oka Coliving. Arte: Juliana Amorim

Para que o coliving continue ativo e respeite as questões sanitárias, a Oka teve que tomar uma série de precauções. “Emitimos um protocolo de segurança e saúde com várias mudanças. Proibição de visitas, lavar as mãos, utensílios pessoais sempre higienizados, por exemplo, são medidas que tivemos que adaptar para minimizar o contágio”, conta Ricardo. Em ambientes compartilhados a atenção com higiene deve ser ainda maior.

Estas regras já estão presentes em uma rotina normal de coliving. Como uma república estudantil, a convivência com pessoas diferentes é inevitável. E uma das funções de uma empresa de coliving é aliviar as demais dores, como unificar as contas para um único pagamento. Em alguns casos oferece, também, a gestão da comunidade – como a Oka faz. “Desenvolvemos um ‘processo seletivo’ para morar nos nossos imóveis e mantemos uma equipe de gestão de experiência, para remediar conflitos. O coliving é quase uma mistura de uma empresa com uma casa: os moradores são clientes e também funcionários”, explica.

Para Ricardo, além das discussões sobre como viver em coliving e manter o isolamento social, o formato pode ser uma solução para os empreendimentos parados no momento pós-covid. “As pessoas devem perder muito o potencial de compra do imóvel, o que vai impactar os incorporadores, lançamentos, aluguéis. O que significa que o uso dos espaços também vai ter que mudar”, afirma. E os colivings podem ser uma solução, tanto para pessoas morarem em imóveis melhores pagando aluguéis mais acessíveis, quanto para imóveis serem repaginados para atender grupos e garantir a vacância enquanto o poder aquisitivo da população não se restabelece. Além disso, ao passar mais tempo dentro de suas casas, as pessoas estão ressignificando a moradia. “Começam a surgir dúvidas: como minha casa pode ser? Onde eu quero morar com tranquilidade e ainda ter minha independência financeira? E mais: as pessoas estão vendo a importância do coletivo, de ser uma pessoa responsável e essa é a essência do coliving”, conclui Ricardo.

Ana Clara Tonocchi

Jornalista formada pela UFPR, com experiência também como assessora de imprensa, participa do Imobi desde a sua fundação. É uma das responsáveis pelos conteúdos do portal e pela newsletter do Imobi Report.

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